Bem Vindos...

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

What The Fuck Is Going On Here!?

Eu acordei com a luz fraca do amanhecer e um vento gelado que entrava pela porta, eu estava sozinha na delegacia. Eu olhei para a tomada onde PET estava carregando e a luz do botão interno piscava num incessante verde. Eu retirei o colar da tomada e coloquei no pescoço, saí da delegacia para uma manhã nublada e com garoa na cidade. Não vi a moto do garoto e sinceramente, não queria vê-lo tão cedo. Enquanto planejávamos como eu iria resgatar meus amigos, ele dizia que era difícil, que seriam muitos seguranças contra ele, que ele não conseguiria e não queria de jeito nenhum levar um tiro. Irritante. Eu dei uma volta pela cidade, enquanto andava por uma rua cheia de lojas, um letrei parcialmente iluminado me chamou a atenção. Era uma loja de artigos em couro. Eu sempre quis uma blusa de couro igual a da Taylor Momsen, eu entrei rapidamente, sabia que a cidade estaria limpa, pelo menos Lucas sabia fazer isso. Depois de procurar, achei uma jaqueta aceitável, que serviu perfeitamente. Havia um espelho na loja, eu me olhei atentamente. Estava mais alta, isso era notável, meu cabelo também estava mais comprido e mais rebelde, eu passei a mão nos fios que não queriam ficar no lugar, olhei para as minhas mãos e as unhas estavam fortes e compridas, fiquei surpresa ao ver que eram bem mais bonitas assim do que roídas e quebradas. Eu me aproximei para olhar meu rosto, haviam mais algumas sardas no meu nariz, o rosto estava de certa forma, diferente, com traços mais adultos e isso me fez pensar se toda a experiência não me fez crescer mais. Eu sempre fui a mais madura do meu grupo de amigas, sempre observei os possíveis resultados antes de tomar alguma decisão. Até eu estar com raiva, quando eu estava irritada fazia tudo sem pensar, estava pouco me fodendo para as consequências e quem estivesse no meu caminho com certeza era levado junto. Eu cresci sim. Apesar de ter perdido a cabeça por um tempo, apesar de ser alvo de um psicopata maluco, apesar de ter matado metade dos meus amigos. Eu cresci.
-Porque está chorando?
A voz do garoto me deu um susto, estava bem atrás de mim.
-Ei, calma. Tá tudo bem.
Ele disse e me abraçou mas eu desviei.
-Desculpa, eu só não...- Percebi que haviam lágrimas caindo pelo meu rosto então as enxuguei rapidamente e caminhei até a porta.- Vamos, eu vou tirá-los de lá.
O garoto me acompanhou até a delegacia, estávamos carregando as armas, eu estava com três pistolas e uma metralhadora que o garoto achou no observatório, o que foi muito útil, porque tínhamos vários pentes de munição daquela coisa.
-Tudo pronto?
Eu perguntei enquanto subia no Jipe.
-Sim. Ah propósito, qual o seu nome?
Ele perguntou sorrindo.
-Não ouviu os outros falando? Me chamo Bia.
Eu disse e fechei a porta, ele continuava parado.
-Pedro.
Ele disse, virou as costas e caminhou até sua moto. Ao ouvir o nome dele meu coração apertou, não havia pensado em como esse garoto era parecido com ele, com Blast. Ignorei o que sentia e liguei o Jipe e dirigi pela estrada, vendo Pedro em sua moto pelo retrovisor o caminho todo. Claro que seria sútil demais entrar pelo elevador, mas infelizmente era a única entrada que eu conhecia, então iria entrar atirando em todo mundo. O caminho de volta foi mais rápido, a trilha dos pneus estava bem marcada na terra e não demorou muito para que eu estivesse no círculo de terra. Vasculhei a bolsa rapidamente e a coloquei no ombro, com o objeto que eu queria em mãos e a metralhadora pendurada pela bandoleira, eu estava pronta para aqueles desgraçados.
Lancei um olhar significativo para Pedro antes de me esconder atrás do carro, eles iriam ficar muito confusos.
Como esperado, o elevador chegou ao seu destino e eu pude observar vários passos cautelosos chegando mais perto, quando perdi a conta de pares de pés eu puxei o pino da granada de gás lacrimogêneo com a boca e a lancei por cima do carro. O barulhinho ficou mais constante e alguns gritos vieram tarde demais, o salão todo estava coberto por uma fumaça que irritava os olhos. Eu puxei a blusa para cobrir o meu nariz e corri o mais rápido que pude antes que a fumaça se dissipasse. Alguns funcionários me viram e ao invés de atirar neles, eu batia com a coronha da arma para que eles desmaiassem. Corri sem rumo para fora do salão e ouvi o alarme soar outra vez. Eu não tinha tempo, não sabia onde eles estavam e Pedro não estava mais comigo. Droga.
Ouvi passos e gritos de homens á minha direita, respirei fundo e saí de trás da parede, atirando. Certo, quase caí no chão com a força dos tiros e a maioria não acertou os oito soldados armados que estavam na minha frente. Assim que eles se levantaram do chão eu corri até eles, fazendo-os ficarem lá. Não ia adiantar, eu sei, mas precisava ganhar tempo. Eu estava correndo na direção em que os soldados vieram, seria muito provável que eu encontrasse mais deles. Fui virar para a esquerda e lá estavam, mais três, armados até os dentes e quando me viram, correram atrás de mim. Ainda fugindo deles, coloquei a mão na bolsa que estava atravessada no meu corpo procurando um cilindro pequeno. Assim que achei, puxei o pino com a boca e lancei a granada para trás, era outra de gás lacrimogênio, iria atrasá-los. Continuei corrento até meus pulmões estarem em brasa, estava envolta em fumaça e corria cegamente sem poder respirar direito. Alguns metros a minha frente havia uma pesada porta de concreto entreaberta, sem pensar duas vezes, eu entrei e me tranquei lá dentro. Estava tossindo e chorando por causa do gás quando uma voz robótica do tipo" Avast " Me dava as Boas-Vindas. Estranhei tudo aquilo, dei um passo á frente e uma luz se ascendeu no chão, iluminando uma longa passarela. Continuei andando, e a cada vez que fazia isso uma luz ao meu lado revelava uma vitrine.
-Não pode ser...
Continuei andando até ver o primeiro corpo. Uma menina franzina, estava encolhida no canto da cela de vidro, eu me aproximei para olhar melhor e quando a menina olhou para mim, dei dois passos para trás. Não acreditando no que estava vendo. Era DD. Darkness Death me encarou e um sorriso malicioso se formou em seus lábios rachados. Ou eu estava louca, ou ela era duas vezes pior do que eu. Eu andei para trás até minhas costas baterem em outra vitrine. Ky estava com a mão no vidro, um olho roxo e um corte na boca, mas me olhava de um modo que quebrava meu coração. Andando mais á frente ví os garotos e garotas das outras equipes, todos vestidos com os mesmo trapos velhos, alguns estavam bastante machucados, outros bastante magros e desidratados. Bloom encarava o corte profundo no seu antebraço quando passei por ela,seus olhos encontraram os meus por um segundo antes dela voltar a encarar o braço. Eu comecei a me sentir mal, podia ouvir meus batimentos cardíacos, minha visão estava turva e escura, mas não me permiti desmaiar. Não aqui, não agora. Continuei andando sabendo o que encontraria a seguir. Com passos cautelosos, percebi que estava mancando um pouco, não sentia dor e tampouco teria percebido se não estivesse olhando para frente. Eu havia levado um tiro, outro para ser mais exata, na coxa. Não estava doendo, mas eu estava perdendo sangue. Muito sangue. E não sabia desde quando, o que poderia ser fatal. Assim que vi o sangue comecei a passar mal de verdade. Minha cabeça latejava e eu sentia ânsia de vômito. Nada legal. Me forcei a olhar para frente e meu sonho era realidade. Vinnicius me encarava com os olhos vermelhos de um lado, ele estava com a camiseta preta, a cabeça com um curativo e um sorriso malicioso nos lábios. Olhei vagarosamente para o outro lado, me apoiando em uma das vitrines, para não vomitar. Blast estava ali, com os cabelos negros desgrenhados, uma jaqueta de couro e botas de motoqueiro. Eu perco todo o ar que me resta. Como eles o capturaram? Ele estava bem do meu lado! Eu escuto um riso.
-Confusa, amor?
-Calado!
Eu grito para Vinnicius, ele está rindo, ainda de braços cruzados.
-Deixe-me explicar, tudo o que você sabe, está errado.
-Você não morre nunca?
Eu digo irritada, sentindo uma súbita vontade de colocar tudo o que comi na vida, para fora. Lágrimas caem sem meu consentimento e eu sinto minha cabeça ficar mais pesada. ouço gritos do lado de fora, ouço a voz irritada de Doutor Sociopata, há um clarão atrás de mim, viro a cabeça e tudo gira. Ele me achou. Vinnicius sorri enquanto ele se aproxima, acompanhado de quatro seguranças.
E então, não há mais nada, além da escuridão.

sábado, 24 de novembro de 2012

All Over Again

Os seguranças fizeram questão de nos algemar, fizeram questão de levar meus amigos para longe de mim. Eu fui num Jipe separado, junto com Doutor Sociopata e a menina estranha. Ótimo, não vi Lucy e o garoto desde que acordei, não sei se estão bem, não sei se Lucas não fez alguma besteira enquanto não estava aqui. Doutor Sociopata estava no banco do passageiro, eu estava com as mãos atrás das costas, enquanto a garota estranha abria e fechava um canivete num barulho irritante, eu a encarava e ela retribuía, encarando-me.
-Para com essa merda.
Eu disse pausadamente, ela deu um sorriso cínico e continuou. Eu bufei e me ajeitei na cadeira, verificando se meu pé alcançaria a cara daquela vagabunda. Após alguns minutos daquela irritação, Doutor Sociopata vira para nós.
-Para com isso Júlia.
Ele diz entredentes e vira para frente outra vez. Júlia guarda o canivete e começa a me encarar assustadoramente. Eu viro o rosto e encaro a paisagem, ainda sentindo o olhar dela sobre mim. Porque essa garota é tão parecida comigo? Porque Jason é tão interessado em mim? O Jipe diminuiu a velocidade, estávamos na clareira, o Jipe parou no meio do círculo de terra e foi descendo, eu olhava para todos os lados, tentando fazer algum reconhecimento do local. Nada familiar. Terminamos de descer e parecia que eu estava no meio do filme Resident Evil, o laboratório era idêntico ao do filme, vários funcionários com jalecos brancos e algum tipo de prancheta eletrônica andavam pelo lugar. Era tudo muito irreal.
-Olha, um fã de Resident.
Eu digo quando Doutor Sociopata me pegou pelo ombro para me tirar do Jipe.
-Que bom que percebeu, venha, vou lhe mostrar o resto do meu trabalho.
-Eu tenho escolha?
Digo encarando-o.
-Não.
Ele diz e sorri. Doutor Sociopata me leva por um longo e demorado tour pelo laboratório subterrâneo, tudo aquilo parece um set de filmagens do primeiro filme da série Resident Evil, misturado com The Walking Dead no episódio que eles encontram um cientista lá... Esse cara é mais doente do que eu pensava. Ele me mostrava as salas que mais pareciam laboratórios de química, mostrou a sala de treinamento onde vários garotos atiravam em um alvo a 50 metros de distância. Pera, como eu calculei isso? Eu sou horrível em matemática? Continuamos andando até um largo corredor que terminava com uma porta de concreto, com senha eletrônica e tudo.
-O que tem ali?
Jason olhou na minha direção e sorriu.
-Nada.
-Ah claro, vou trancar ar, atrás de uma porta de concreto de 22 centímetros, com senha eletrônica com uma combinação de mil e quinhentos números. Fala sério. Pera, o que eu acabei de dizer?
Ele deu um risinho e continuou a andar para longe da porta estranha. Eu estava tentando entender como magicamente eu consegui falar aquelas coisas, eu nunca seria capaz de calcular as provabilidades de combinações da porcaria de uma senha eletrônica, ou a distância de um alvo, ou a largura de um bloco de concreto. Nunca.
-Chegamos.
Doutor Sociopata me empurrou para dentro de uma sala onde havia uma maca, dois funcionários esquisitos, uma máquina com vários fios e vários raios-x de corpos inteiros, crânios e outras partes do corpo humano. Os dois funcionários sinalizaram a maca e o aperto da mão de Jason no meio ombro ficou mais forte.
-Não.
Eu disse entredentes e joguei o ombro para trás afim de me livrar da mão dele. Eu consegui e corri em direção á porta, ele agarrou a minha mão que estava algemada atrás das costas. Eu tropecei com a parada brusca que meu corpo sofreu, eu cai de costas no chão, Jason caminhava na minha direção e a única chance que eu teria seria se ele estivesse no chão. Foi o que eu fiz. Com um rápido movimento da minha perna direita eu chutei a parte detrás do seu joelho direito e ele caiu de joelhos, depois eu chutei a sua barriga, na região do estômago e logo depois o queixo, bem do lado direito. Ele caiu, provavelmente desacordado. Os dois funcionários correram até mim e eu desviei do soco do primeiro antes que me atingisse. Eu nunca teria feito isso. Me levantei rapidamente do chão e me virei para os dois. Eles já estavam ofegantes e eu também deveria estar. Mas não. Eles avançaram de novo e eu permaneci no lugar, os dois tentaram agarrar meu tronco mas eu me abaixei, acertei algum deles com a minha cabeça quando levantei,  aproveitei que um estava no chão e chutei a parte sensível de qualquer homem, logo depois a barriga, o outro conseguiu me agarrar por trás, eu coloquei os dois pés no chão e consegui empurrá-lo para trás, por sorte havia uma parede e ele caiu com a mão na cabeça, eu empurrei suas costas para baixo e ele bateu a cabeça com tudo no chão, uma poça de sangue começou a se formar em volta dele. Eu nunca tive força pra fazer isso. O que diabos tá rolando aqui? Eu tive que abrir a porta de costas porque minhas mãos estavam algemadas, assim que abri corri porta afora o mais longe que podia daquela sala, daquele laboratório, de tudo. Corri para qualquer direção enquanto um alarme soava alto por todo o lugar, eu virei a esquerda num corredor vazio e me sentei rapidamente só para colocar minhas mãos para frente. Feito isso eu voltei a correr, consegui, com muito esforço chegar até o hangar dos Jipes e do elevador. Entrei em um que estava com a chave no contato, dei marcha ré e entrei no elevador escutando os protestos inúteis dos funcionários. Eu estava subindo, estava livre. Lá em cima a claridade me cegou por alguns instantes, eu dirigi cegamente enquanto recuperava a visão, por pouco não bati em uma árvore. Dirigi por dentro da floresta, sabendo que seria mais difícil seguir os rastros, logo entrei no asfalto e segui até a cidade. Meu coração esta a mil, embora eu pensasse claramente as direções que pudesse tomar, eu sabia as minhas opções e tudo isso era muito estranho. Eu cheguei na cidade por volta de uma hora depois que fugi, havia um lindo pôr do sol no horizonte e seria perfeito se meus amigos estivessem aqui. Mas não estavam. Jason os levou para o laboratório subterrâneo de onde eu fugi. Eu entrei na delegacia e analisei o lugar. A entrada estava bem protegida pelo menos, as mesas da recepção estavam viradas, a passagem estava sendo dificultada por cadeiras e outros objetos que estavam no caminho, eu passei por tudo isso e cheguei nas celas, havia uma mesinha pequena junto de uma cadeira, a cela estava aberta, havia uma cama com um travesseiro e um objeto pequeno no chão. Eu me agachei e vi que era o colar militar de PET. Ela também havia sido levada mas eu podia trazê-la de volta. Apertei um minúsculo botão no verso do colar e observei enquanto a imagem holográfica surgia a minha frente.
-Você... Mas co-como você escapou?
-Não ganho nem um oi?
Eu digo e sorrio, ela me abraça forte. Não sei como isso é possível mas e daí. Ficamos abraçadas por um tempo até que eu ouço o barulho familiar de uma motocicleta.
-Espera aí tá?
Eu digo e corro pela porta lateral até o lado de fora para encontrar o garoto estranho daquele outro dia.
-Você está bem? Mas...
-Calado.
Eu digo enquanto ele desce da moto, ele está sem capacete e usa a jaqueta de couro e as botas de motoqueiro.
-Eu vi o que aconteceu mas não deu tempo de ajudar e...
-Não deu tempo?
Eu pergunto.
-A cidade toda é monitorada por câmeras, eu estava do outro lado vendo isso.
-Câmeras?
-Você vai ficar repetindo partes do que eu digo?
Ele diz sorrindo.
-Não.
-Então, eu estava lá do outro lado buscando alimentos e essas coisas quando ouvi um bipezinho irritante, eu segui o barulho até um observatório abandonado. Acontece que lá não tá abandonado e tem energia elétrica! Eu acho que a cidade toda tem, enfim, eu entrei lá e o bipe ficou mais alto até uma sala cheia de televisões mostrando imagens da cidade, mostrando seus amigos sendo atacados e tudo o mais. Eu não vi você.
-Quer dizer que a cidade toda é monitorada e você descobriu isso, viu meus amigos sendo atacados e não tentou vir pra cá?
-Você disse que não ia ficar repetindo- Nós dois sorrimos mas eu voltei a fazer cara séria- Acontece que eu tentei vir pra cá, mas um monte de zumbis estava no caminho e eu estava cuidando deles para que não tomassem conta da cidade, ta bom assim pra você?
-Ta ótimo. Ei, nenhum dos meus amigos reclamou por você ter entrado no grupo?
Eu perguntei chutando um pouco de terra.
-Não.
-Estanho, mas hoje está sendo um dia bem estranho. Vamos, eu tenho que tirar meu amigos de lá.
-Quer ajuda?
-Se eu falei "Vamos" é porque eu quero, né?
Eu disse puxando-o pela mão em direção a delegacia. Pet disse que sua bateria estava acabando por causa da transformação em holograma e em colar, eu sei lá. Ela voltou a ser um colar e eu pluguei ele na tomada para que carregasse, o botão interno ficou vermelho. Depois disso eu fiquei a tarde inteira planejando entrar lá e acabar de vez com a cara de Jason, quando a lua estava bem alta e iluminando toda a praça da cidade eu fiquei realmente cansada, não como se estivesse estudado o dia inteiro, mas como se todas as minhas forças estivessem esgotadas. Eu dormi na delegacia, na cama onde estava e o garoto dormiu no chão ao meulado.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

I'm a Zombie

Coloquem Zombie Do The Pretty Reckless pra tocar enquanto leem.
http://www.youtube.com/watch?v=S7v5FqQ9M_g

Narração- Autor
Ela não está te escutando
O corpo da garota permanecia imóvel enquanto o caos domina do lado de fora da delegacia
Ela está vagando pela existência
Enquanto seus amigos tentam proteger o lar que construíram, na cidade abandonada
Sem propósito ou direção, Porque no fim somos uma mentira.
Ela mesma se pergunta se tudo isso não é apenas um sonho. Se quando acordar, ainda estará brava com Vinnicius por tê-la feito ficar com um registro permanente na delegacia. Ainda estará brava com seus pais por não entenderem que não foi sua culpa o que houve semana passada. Ainda assistirá filmes com as meninas no final de semana. Passará de ano, irá fazer uma faculdade, arranjar um emprego, dividir um apartamento com uma amiga e dar festas ás sextas á noite. Sem nenhum zumbi, sem nenhum amigo morto, sem nenhum doutor sociopata maluco tentando matá-la.

Júlia Cortez não é o que vocês pensam.
Caros todos vocês que me injustiçaram, Eu sou um zumbi.
Ela também não sabe o que é, você tem alguma ideia?
Outra vez vocês querem que eu caia de cabeça
Jason Mueller é a chave de todos os segredos, mas ele não pode guardá-los para sempre
Eu sou, eu sou, eu sou um Zumbi
Ele sabe o que Júlia é
O quão pra baixo, pra baixo, pra baixo você me empurrou
Logo, logo você também vai saber
Vá, vá, vá antes que eu me deite morta
A garota que está imóvel na delegacia está muito perto de morrer

Quem diabos é Lucy?
Sopre a fumaça para dentro do tubo
Ela causou a maioria das feridas pelas quais a menina chora hoje
Beije suavemente minha ardente ferida
Qual é mesmo a tradução do nome Lucy para o português?
Estou perdida no tempo
A irmã da Júlia está perdida na mesma cidade em que eles estão.
E para todas as pessoas deixadas para trás
Chega de dar as respostas
Vocês estão andando mudos e cegos


O corpo inerte de Bia parece um pouco mais pálido do que há alguns dias atrás, olhando mais de perto a respiração também diminuiu. Ela pode morrer. Enquanto a respiração diminuta parece normal, do lado de fora, seus amigos tentam contem um bando de vinte zumbis e uma garota que se parece muito com a Bia, exceto pelos olhos cinzentos e as sardas no nariz, herdadas de uma doadora anônima que  Jason não sabe o nome.
Júlia e Lúcia têm um DNA muito intrigante, mas não é hora para isso. A garota se aproxima armada até os dentes, com uma expressão raivosa e orgulhosa por saber que eles não tem saída.
-Para trás!
Lala grita, tentando achar um modo de pensar rápido sobre a situação.
-Temos que reagir rápido.
Anne olha assustada para os lados, procurando uma solução.
Eles não têm saída, todos eles se aproximam e juntam as mãos, não há como ganhar. Eles se preparam para o grupo de zumbis, mas os mortos-vivos para á alguns metros do pequeno grupo.
-Vocês vem comigo.
Uma outra voz surge atrás dos zumbis, a expressão facial da garota muda rapidamente ao ouvir a voz.
Jason contorna os zumbis e fica frente á frente com o grupo de amigos.
-Não.
Talita diz entredentes enquanto eles, instintivamente, colocam as mãos nas armas.
-Eu nunca disse que isso era uma escolha. Guardas!
Ele chama e repentinamente vários guardas de uniforme surgem ao seu lado.
-A gente não vai com você.
Pamella diz e dispara, sem mirar, na direção de Jason, o tiro acerta de raspão no braço direito do Doutor Sociopata. Ele grita e seus seguranças não hesitam em reagir, um tiroteio começa, o grupo se dispersa e a cena toda parece um filme de ação.

Caros todos vocês que me injustiçaram, Eu sou um Zumbi.
Um pequeno movimento de dedos, um suspiro e os olhos piscam. Olhos castanhos se abrem e ela se levanta. Respira por mais um tempinho enquanto olha em volta, olha para PET que está bem ao lado dela, com um olhar surpreso.
-Bom vê-la de novo.
Ela sussurra, limpando a garganta para poder voltar a usar a voz.
-M-Melhor você ir lá fora.
A garota acena com a cabeça e calça o all-star que estava posicionado estrategicamente ao lado de seu leito. Ela se levanta, carrega a arma e sai, cobrindo os olhos por causa da claridade.

Narração- Talita Beulke
Estávamos lutando por nossas vidas, de novo, porque um cara estranho chegou e falou que a gente ia com ele. Eu estava recarregando a arma, quando olhei de relance para a delegacia, e vi a Bia. A BIA! Ela tinha acordado! Finalmente! Eu não sabia se corria pra abraçá-la, ou se atirava naqueles seguranças malucos.
Alguém chamou meu nome, mas eu só pude puxar a pessoa e apontar para onde a Bia estava.
-AI MEU DEUS!
 Pamella disse e se levantou do banco em que estávamos escondidas.
-BIA!
Ela grita e eu vejo vários olhares se voltando para a delegacia, vejo também muitos sorrisos e muitas bocas abertas. Ninguém hesita em correr e atirar na direção da delegacia. Nem mesmo eu.

Narração- Bia
Eu nem acordei direito e já tem um tiroteio imenso do lado de fora. Eu chacoalho os ombros e corro na direção do meu único alvo. Jason Mueller, vulgo, Doutor Sociopata. Estou prestes a alcançá-lo quando alguém me derruba. Sinto uma enorme dor do lado direito do corpo. Recupero e fôlego e tento alcançar o revólver que caiu da minha mão, mas uma menina está em cima de mim. Ela segura meu rosto com uma mão, o analisa por um instante e me solta com brutalidade, eu bato a cabeça no asfalto. Ela se levanta e tenta me imobilizar, mas eu sou mais rápida e a derrubo outra vez, pegando a arma que ela carrega e a minha que alcanço quando a derrubo no chão. A arma dela eu aponto para sua cabeça e a minha aponto para o Doutor.
-Mandem eles pararem.
Eu digo ríspida, volto meu olhar para ele e para a garota que está em baixo de mim. Jason faz um gesto com  a mão e os tiros cessam.
-Vejo que continua durona.
Ele diz e sorri, eu engatilho a arma.
-Não estou pra brincadeiras, acabe logo com essa merda e me deixe em paz!
Eu digo gritando, não aguento mais esse cara. A menina em baixo de mim se mexe e eu a observo pela primeira vez. Ela é igual a mim, exceto pelos olhos. Eu me assusto e baixo a guarda por um instante, tempo o bastante para que ele me derrube e me imobilize.
O que diabos está acontecendo aqui?
Jason ri e observa enquanto a menina me levantava com facilidade.
-Ótimo. Tenho tudo o que preciso.
E eles nos enfiam em um furgão branco para Deus sabe onde.


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Little Things- Parte II

Narração- Gabe Muniz
Certo, um ano e meio atrás eu estava super a fim da única garota que me colocou na linha. Anne e eu sempre fomos amigos, mais como inimigos do que amigos. Ela estava presa num bar na praia de Pitangueiras quando me ligou, eu estava tentando achar um jeito de salvar a minha própria pele daqueles zumbis. ZUMBIS! Quem diria?
De um tempo pra cá, andamos com o grupo dessa baixinha estranha chamada Bia, ela é super companheira, queria carregar todo mundo e acabou se metendo em muita confusão, mas salvou todo mundo.
-Como ela está?
Anne pergunta enquanto caminhamos pela trilha que leva até o campo estranho com Jiper Militares.
-Sinceramente, acho que ela está desistindo. A garota passou por muita coisa, lutou até onde pode e, honestamente, eu me sinto um pouco aliviado por ela, quer dizer, ela não vai mais sofrer.
Anne para de repente e me encara.
-Você se sente aliviado?
Ela pergunta me fuzilando com os olhos.
-Você é um idiota.
Ela diz e retoma o passo.
-O que eu fiz agora?
Eu resmungo e a sigo pela trilha.
Narração- Júlia Cortez.
-O que estão esperando? Vão arranjar alguma coisa pra fazer!
Eu grito e apoio os pés na mesa do escritório onde estou. Desde que aquela pirralha arruinou o campeonato do meu pai, tivemos que nos esconder aqui em baixo. Certo, não era ruim, eu tinha empregados que faziam o que eu mandava, tinha comida, e podia atirar num número razoável de zumbis. Era no mínimo, divertido.
Mas Jason estava tão obcecado em achar a garota que se esqueceu de mim, e da Lúcia, minha irmã mais nova que saiu pra um reconhecimento de uma cidade próxima, e não voltou até agora. Eu não estou surpresa, Lúcia é esperta e uma ótima mentirosa, mas Jason deveria estar preocupado, são suas filhas que estão em jogo, porra!
Ele entra acompanhado de duas secretárias.
-Eu preciso disso pronto até semana que vem!
Ele grita com uma das mulheres.
-Sim senhor.
Ela faz uma reverência e some nos corredores brancos.
-O que essa garota tem de mais afinal!
Eu digo irritada, estou abrindo e fechando um canivete, impaciente com a demora.
-Ela é especial.
Jason diz com um sorriso no rosto.
-Mas o que ela tem de especial?
Pergunto, tirando os pés da mesa.
-Ela não...
Ele é cortado pela secretária inútil que trabalha aqui em baixo.
-Senhor, há um código seis no perímetro.
Ela diz e mostra a prancheta eletrônica que contém os vídeos da segurança.
-Ótimo.Temos visitantes. Júlia, cuide disso pra mim, sim?
Eu suspiro e caminho em direção á entrada do laboratório, se ao menos esses adolescentes se escondessem em outro lugar.
Eu passo na sala de armamentos e pego algumas armas e munição, não preciso de reforços, eu trabalho sozinha. Espero até que o elevador chegue á seu último nível, a claridade não me incomoda. Eu caminho para fora do círculo de terra que é o elevador. Caminho um pouco até avistar as duas figuras desprezíveis que se esconderam na floresta.
-Eu consigo vê-los. Idiotas!
Eu grito com a arma em punho. Eles não se mechem. Ótimo, vou até eles.
Narração- PET.
Stand By. Stand By. Stand By. Stand By.
Iniciando operação. Alterando dados. Recuperando a memória. Última entrada- 23-12-12.
Bia! Ela estava em apuros! Ai Deus! Eu a deixei, como eu pude deixá-la? Porque ela não me reiniciou? Espera, quem é essa garota que está me encarando? Ah é! Ela não me conhece ainda!
-Saudações, meu nome é PET, sou o Programa de Evolução Técnica. Estou destinada á jogadora de nome Ghost.
A garota me encara, eu pisco e clareio a mente.
-Onde está a Bia?
Ela pisca com a minha pergunta, ainda não acreditando.
-O-Oque é você?
-Sou um programa de computador, estou destinada á Bia, escolhi ajudá-la a escapar da ira sem razão de meu Criador.
Ela pisca e olha para além de mim. Para o corpo inerte de Bia.
-Oh Deus! O que aconteceu?
Eu me coloco ao lado do corpo, analisando rapidamente os danos. Há uma atividade cerebral muito pequena, não há danos físicos graves além de pequenos cortes e hematomas.
-Parada Cardio-Respiratória. Ela ficou morta por pelo menos, três minutos.
-Isso é preocupante, pode trazer sequelas muito sérias.
-Eu sei.
Ela responde e volta a olhar o corpo.
-Ela vai... Sobreviver?
Eu pergunto, pela primeira vez, insegura.
-Eu não sei, estou considerando a opção de ela estar desistindo sem perceber, ela sofreu demais sabe...
As palavras morrem e a garota sai da sala para atender um walkie-talk.
Narração- Larissa Beulke.
-La...La! Es...Me...Vindo?
As palavras saem cortadas e muito baixas, eu saio da delegacia pra ver se tem mais sinal.
-Gabe?
Eu digo mas ele não responde. Há um tempo de estática e eu posso ouvir um "Corra!" Antes do chiado começar.
-Mais alto!
Ouço alguém dizer para os meninos enquanto tentam erguer a lona da barraca.
-Não há tempo a tempestade está vindo.
-Temos que entrar!
-Andem!
Estou quase entrando no abrigo quando percebo que Gabe não está ali.
-Alguém viu o Gabe?
-Não. Ele deve estar lá dentro.
Lucas diz, ele estava tão irritante depois que salvamos a Bia, não entendia nada daquilo.
-Vou procurar por ele.
Eu grito em meio aos ventos, a tempestade está mais próxima do que imaginávamos.
-É suicídio!
Ele grita mas eu já estou longe. Onde diabos aquele garoto se meteu? Estou olhando para o chão e cobrindo o rosto por causa do vento. Trombo em alguém.
-Aí está você!
Eu digo puxando seu braço mas ele não vem.
-Gabe?
-Temos que sair daqui.
Estava prestes a perguntar o porquê quando vejo um bando de mais ou menos vinte zumbis vindo em nossa direção. Meu olhar se volta para Anne que vem correndo em nossa direção.
-Não estamos salvos!
Ela grita e passa por nós.
Estou os seguindo para tirar todo mundo daqui, quando vejo uma garota, muito parecida com a Bia, andando em nossa direção.
Estamos perdidos.
Corro tentando reunir o máximo de pessoas para lutar, agarro a mão de Phe antes que ele pergunte alguma coisa, coloco um revólver em sua mão e corro para avisar os outros.
-Isso é loucura!
Lucas diz enquanto o caos nos controla.
-Cala a boca e ajuda seu moleque!
Eu grito e corro até Anne para tentar deter os zumbis que se aproximam. Como que queria que a Bia acordasse.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Little Things

Não vi o garoto com a moto nem Lucy o caminho todo até o acampamento. Ótimo Bia, deixou a garotinha com um moleque e ela vai acabar matando a pobre da garotinha. Estacionei o Jipe Logo atrás da Picape, abri a porta e saltei para fora do carro, com a mão no ombro que estava doendo.
-O que você vai fazer?
Ouvi alguém dizer antes de ser derrubada no chão, Lucas estava em cima de mim, prendendo os meus dois braços, me deixando indefesa.
-Porque trouxe a gente de volta pra cá? Eu deixei bem claro que iríamos ficar lá na maldita cidade.
Ele disse, visivelmente alterado, o que diabos aconteceu com o Lucas?
-Sai de cima de mim!
Eu gritei tentando respirar, ele estava totalmente em cima de mim.
-Você já era, não tem como continuar mandando aqui, eu disse que iríamos ficar na cidade e é o que vamos fazer.
Eu comecei a rir, involuntariamente, é claro.
-Você... Ah claro!.... Só porque você disse... Deus do céu... Sai de cima de mim agora!
Eu estava rindo e gritando e acho que ele não ouviu uma palavra além dos risos, o que o deixou bem irritado. Suas duas mãos foram até o meu pescoço, apertando com força.
Qual é! Eles vão deixar ele me estrangular assim, de boa? Cadê o Phe pra me ajudar? Ou o Gabe? Eu arranhava as costas de suas mãos, minhas unhas haviam crescido muito nesses meses. Lucas parecia não notar que suas mãos sangravam e que eu mal conseguia enxergá-lo. Continuava me contorcendo, tentando sair de baixo dele, mas ele era mais forte e mais pesado, me pegou de surpresa e agora colocava toda a mágoa e a raiva nas mãos que me sufocavam. Aos poucos, minha visão turva foi escurecendo,um som de motocicleta invadiu minha mente e eu já não via nada, não sentia nada. Era apenas escuridão.
Narração- Autor.
Phe viu que o garoto mais novo andava a passos pesados na direção do Jipe amarelo.
-O que você vai fazer?
Ele perguntou mas o garoto passou por ele, indo na direção da Bia que saiu do Jipe segurando o ombro que havia machucado uns tantos meses atrás. As meninas tiravam as coisas do carro enquanto Tatz tagarelava sobre os vestidos que achou,sem mostrar nenhum. Eles não viram quando Lucas derrubou a Bia, já estavam longe, montando a cabana. Escutaram os gritos da Bia, mas entre os dois, eram socos e gritos, sempre. Continuaram seu trabalho até ouvirem que ele gritava também, levantaram-se rapidamente, mas chegaram enquanto Bia arranhava as mãos de Lucas, que estava em cima dela. Eles viram os pés da amiga se contorcendo e se debatendo, na vasta esperança de conseguir sair. Nenhum deles conseguiu processar a cena, uma moto chegou ao local, nela, um garoto vestido de motoqueiro com uma garotinha de garupa, ele saltou da moto deixando a garotinha confusa sentada lá, o garoto recém chegado nem tirou o capacete antes de agarrar Lucas pela camisa e o jogar para longe como se ele não pesasse mais do que um saco de batatas. O garoto se ajoelhou ao lado do corpo inerte de Bia e tirou o capacete, jogando-o para qualquer lugar. Aproximou o ouvido da boca da garota e começou a fazer uma massagem cardíaca. Lala correu para ajudar, quando viu que a amiga não se mexia mais.
-Eu não sinto o pulso.
Murmurou enquanto fazia a contagem.
-Não.NãoNão.
Disse desesperada enquanto tentava reanimar o corpo.
-Espera!
O garoto disse segurando o mão da Bia, que parecia um pouco mais pálida do ponto de vista dos garotos. Eles se reuniram numa rodinha, em volta do garoto novo, do corpo de Bia e da Lala. Todos observavam atentamente, alguns com lágrimas nos olhos, outros desviando o olhar. Anne foi a primeira a sair, andando com os olhos marejados em direção á Lucas que estava se levantando, apoiando-se na picape. Ela não pensou duas vezes, desferiu-lhe um soco certeiro no canto da boca, sentiu a pancada um pouco forte demais, gritou um "Babaca!" Antes de sair chacoalhando a mão. Puxou Gabe para longe e deixou que ele a abraçasse. Os dois com seus próprios pensamentos, temendo pela garota estranha, que estava metida em mais confusões que Gabe, que nunca foi muito de seguir regras, mesmo prometendo para Anne que mudaria por ela. Mas a garota nunca demonstrou interesse. Os dois temiam pela baixinha que salvara-lhes a vida, deu-lhes uma família e confiou em todos, mesmo que eles nunca tenham confiado nela. Tatz tirou Pammy e Iara de lá antes que Lala anunciasse que Bia estava morta. Ela não pode. Não pode! É a Bia! A louca que bolou um plano idiota uns anos atrás, que salvara-lhes a vida umas trocentas vezes, mesmo não sendo no modo literal, era a Bia! A garota que acreditava em horas iguais, que fazia pedidos para estrelas cadentes, que sorria de um jeito estranho quando a olhavam, que contava segredos e os guardava como se fossem a sua vida. E ela era tão nova! Só de pensar que elas nunca mais discutiriam sobre Talita ser uma bruxa, sobre filmes ridículos de terror e fantasias de Halloween. Era a garota mandona e teimosa que arrastava as amigas até a piscina, era a garota chata e cheia de manias estranhas que conquistou todos ali. Phe tentou afastar Lala do corpo da Bia, mas ela o empurrou e continuou fazendo a contagem. Ela não pode morrer, não pode, não pode...
Phe se abaixou ao lado da namorada e a olhou por um momento enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto.
-Ela não vai morrer Phe...
Ela murmurou enquanto pegava a mão de Bia. O garoto da moto, observava a cena com uma certa dor no coração, havia visto a mãe e o pai morrerem para protegê-lo. Mas nunca viu uma garota da idade dela, morrer por um idiota como aquele. Ah, como ele queria acabar com a raça do desgraçado que fez isso com ela, ele olhou para o lado e sorriu ao ver que o garoto se levantava limpando a boca que estava suja. Ora, alguém teve a ideia primeiro. Ele estava com a mão apoiada na barrigada da garota que estava deitada no chão, sem querer é claro, deixou a mão ali quando foi chamar atenção da outra garota que parecia ser médica. Ele estava surpresa por ser um grupo tão grande, esperava que fosse só a garota e a menininha, Lucy.
Lucy olhou a cena de longe, sem entender nada. Aliás, não entendia mais nada desde que se perdeu dos seus pais uns meses atrás, achou a cidade por acaso e ficou lá, muito bem obrigada, até que a garota chegasse e a ajudasse. Sentia pena da menina, ela parecia ser legal, mas não tinha um futuro muito bom, percebeu isso pelas várias cicatrizes que a garota possuía, vários cortes, um machicado no ombro e estava com as mãos todas cortadas, sem falar nos machucados nos joelhos e nas pernas.
O garoto da moto sentiu a barriga da menina subir em um único movimento para buscar ar, ele se levantou rapidamente, chamando a atenção de Lala e Phe que estavam pedindo á quem quer que ouvisse, para a amiga não morrer.
Lala encostou o ouvido no peito de Bia e ouviu um fraco "tum-tum" do coração da amiga. Sorriu e tentou fazer com que ela acordasse, sem sucesso, pediu para Phe que chamasse Gabe para ajudá-lo a achar algum lugar para deixá-la descansar. Ela estava viva afinal! Não há luta que essa garota não ganhe.
Narração- Bia.
Era tudo escuridão, eu só conseguia pensar em quanto eu queria socar a cara do Lucas, e como eu acabaria com ele quando acordasse. Mas porque eu não acordava, quer dizer, eu conseguia pensar. Parecia que eu estava amarrada num quarto muito muito escuro, mas eu conseguia pensar. Não via, ouvia,sentia ou fazia qualquer outra coisa, só pensava.
Pensava em como eu cresci nesse tempo que estive com meus amigos. Me tornei responsável por eles, liderei eles contra um apocalipse zumbi, perdi alguns, o que me deixou abalada por um tempo. Mas estou de volta, porque não consigo abrir os olhos, será que estou morrendo? Tem vezes que parece que estou dormindo sem sonhar, é apenas escuridão e silêncio, mas aí eu voltava a pensar. O que diabos está acontecendo? Eu só sabia de pequenas coisas que consegui reunir.
1. Eu era foda pra caralho por ser uma adolescente no meio do apocalipse zumbi, que venceu um jogo de malucos, levou um tiro, atirou em trocentas coisas, foi sequestrada, matou uma louca, beijou um menino que estava morrendo, chorou, manteve todos vivos e se perdeu por um momento, mas estava de volta.
2. O meu ombro doía pra caramba quando eu "acordava" e ele nunca havia doido assim, parece que eu estou levando pequenos choques, o que é bizarro.
3.Eu deveria ter arrebentado a cara do Lucas quando tive a chance.
4.Não faço a mínima ideia de como vou ser responsável por Lucy.
5. Tenho que tirar aquele garoto daqui antes que me cause problemas.
6.Alguém poderia ter a boa vontade de me acordar.
Narração- Larissa Beulke.
Certo, ela estava respirando. Bem fraco,mas respirando. O que já era um milagre. Colocamos ela na barraca, mas Lucas fez questão de arrastar todos nós para a cidade de novo. Quer saber? Esse pirralho tá começando a me encher, foi ele que quase matou a Bia, talvez eu devesse quase matá-lo também.
Lucas insistiu em colocar a Bia na delegacia, não tínhamos nenhum outro lugar, o que não foi má ideia porque era reservado e eu tinha espaço para trabalhar. Andei olhando o corpo da Bia pra ver se ela não tinha batido a cabeça quando caiu, O Phe disse que o Lucas tinha a derrubado, provavelmente.
Além de um monte de machucados novos, havia um corte bem pequeno no ombro, bem na incisão que eu tinha feito pra tirar a bala do ombro da Bia, achei aquilo estranho, mas relevei. A Bia era toda estranha.
Falando em estranhos, uma garotinha pequenininha chegou no dia em que a Bia quase morreu. Na hora ninguém tava pensando direito mas, QUEM DIABOS É AQUELA MENINA E COMO ELA CHEGOU LÁ?
 A garota não fala quase nada e a Tatz disse que ela tem cara de psicopata, eu concordei.
A Bia não acordava há um bom tempo, eu estava lendo uma revista velha quando Gabe entrou na cela em que estávamos.
-Nada ainda?
-Ela não acorda faz tempo, estou preocupada. Como está lá fora?
-Ela vai conseguir, não há ninguém mais forte que essa aí- Ele sorriu e depois fechou a cara.- Aquele moleque precisa de uma lição, quase matou Anne hoje numa "Missão".
Ele fez aspas e puxou uma cadeira.
-Eu to achando que ele quer dominar essa cidade. A gente acabou com metade da munição e gasolina, sem falar que a tempestade tá rolando há mais de meia hora e ele não tá nem aí.
Eu suspiro, esse garoto tem problemas.
-Larissa?
Eu levanto os olhos e o encaro.
-Lembra aquele dia, que a Bia falou que viu algo na floresta?
-Lembro.
-Ela não estava mentindo, tem alguma coisa lá. Eu vi outro jipe militar saindo de lá.
-O que isso quer dizer?
Eu pergunto.
-Até que se prove o contrário, temos inimigos bem organizados.
Ele diz e se cala, encarando a Bia por um instante.
-Já parou pra pensar.... Se ela não acordar?
Ele pergunta e me pega de surpresa, eu jogo a revista na mesa.
-Ela vai.
-Eu sei- ele suspira- o que eu to dizendo, é que ela sofreu pra caramba. Bem mais que nós todos, o que é  bizarro pra uma menina da idade dela, mas e se.... Inconscientemente, ela estiver desistindo? Você mesma disse que ela está respirando mais devagar, chegou a ficar mais fria e... Eu sei lá, vai que ela, mesmo sem perceber, esteja desistindo?
Ele diz e volta a olhar pra ela. Realmente isso seria possível mas... NÃO! Ela vai acordar, vai levantar daí e encher a cara do Lucas de porrada.
-Bom, eu vou dar mais uma olhada nos nossos "Amigos", vou levar Anne comigo, qualquer coisa, use o walkie-talk.
Ele jogou um para mim enquanto saía.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Back To The Game

Eu decidi dormir na cabana esta noite, claro, eu dormia na cabana todas as noites, mas em uma extensão que montaram para mim, era apenas uma parte pequena fechada por um pedaço de pano que garantia a minha privacidade, eu era vigiada por duas pessoas todas as noites.
Quando eu entrei, todos os olhares se voltaram para mim. Eu apenas dei de ombros e peguei um saco de dormir, posicionando-o estrategicamente do lado de Anne e Gabe. Todo mundo ainda estava em silêncio então eu me virei e disse num tom de voz que todos iriam escutar.
-Que isso gente, não é porque eu estou aqui que o assunto tem que morrer, eu em!
Eles, lentamente, voltaram a conversar.
-Ah, antes que eu me esqueça. Ninguém precisa ficar acordado me vigiando essa noite, falou?
Eu disse e me cobri, dormindo logo em seguida.
Não sei o que me fez sonhar com aquilo, talvez fosse a nova descoberta que vi na floresta, ou o vento forte que quase derrubava a cabana. Mas eu sonhei que estava na floresta, não sei em qual, mas estava frio e eu estava machucada e correndo. O vento bagunçava meus cabelos e atrapalhava a minha visão. Droga! Eu pensei quando tropecei em algo, tentei ficar de pé mas meu tornozelo doía muito. Que ótimo! Me virei e tentei dar um grito quando vi no que tropecei, mas o horror era tanto que minhas cordas vocais congelaram.
Bem ali no chão, eu havia tropeçado no corpo de um dos meus amigos, olhando em volta o corpo de todos eles estava no chão. Um por um, eles abriram os olhos escarlate e começaram a se levantar, eu estava sentada no chão, me arrastando para trás, o vento embaçava minha visão junto com as lágrimas que caíam, quando um deles chegou mais perto eu senti uma mão no meu ombro direito e soltei um grito abafado.

Gabe estava olhando para mim com uma cara preocupada, eu estava sentada, com as costas encostadas no pano em uma extremidade da cabana, por sorte, eu estava á poucos metros do meu colchão.
-Eu...acordei alguém?
Ele balançou a cabeça negativamente, não estava tão escuro.
-O que houve?
Ele perguntou baixinho.
-Um sonho ruim, eu... Tenho que dar uma volta.
Eu me levantei e ele fez o mesmo.
-Onde vai?
Eu perguntei.
-Também preciso sair, eu vou com você e aí você aproveita pra me contar com o que sonhou.
-Eu não sei se quero lembrar.
Ele deu de ombros e pegou o meu pulso, me guiando por entre os corpos inertes dos meus amigos. Do lado de fora, a aurora ganhava vida no horizonte.
-É bonito não é?
Ele perguntou enquanto caminhávamos.
-Muito. Teve um que foi mais bonito que esse, quando estávamos acampados perto daquele riacho, sabe? O céu ficou todo colorido.
Ele riu.
-O que foi?
-O pessoal achava que você tava doidinha, me mandaram vigiar você naquela noite. Eu achei que você estava tendo outra crise de sonambulismo e te segui, você sentou perto do riacho e ficou lá um tempão vendo o céu. Aí eu me toquei que você tava acordada e... chorando.
Ele disse e olhou pra baixo.
-Você contou pra alguém?
Ele me encarou.
-Não, acho que o que quer que tenha acontecido aqui- ele bateu duas vezes o indicador na minha cabeça- afetou aqui- ele apontou para o meu coração- e eu não tenho o direito de sair espalhando. Anne me contou sobre o cemitério, ela sabia que desde aquele dia você estava melhor, eu achei muito bonito o que você escreveu.
"Estive com vocês por pouco ou muito tempo. Mas vocês estarão comigo, até que meu coração  pare de bater."
-Obrigada.

Eu disse com a voz num sufoco, ainda doía não tê-los por perto. Gabe me abraçou por um instante e depois soltou.
-Ahn, eu tinha que sair por um motivo e... Peraí que eu já volto.
Ele disse e foi até a floresta. Não pude deixar de rir ao perceber o que ele queria fazer.
-Porque está rindo sozinha?
A voz soou tão perto do meu ouvido que me arrepiei inteira, mas quando me virei, não havia ninguém.
-O que diabos....
-Falando sozinha agora?
Era uma voz feminina, eu estava ficando com raiva.
-E é da sua conta?
Eu respondi no mesmo tom irônico. Ela riu.
-Olha só, falando com o vento, seus amigos tem razão. Você está maluquinha.
Outra risada. Deus, como eu estava com raiva. E a voz estava tão perto, e não havia ninguém. Quando estava prestes a ir atrás do barulho, Gabe voltou.
-O que houve?
-Eu ouvi... Deixa pra lá.
Todos já estavam duvidando da minha sanidade. "Estou ouvindo uma voz de garota e estou com muita vontade de arrebentar a cara dela, mas ela não está aqui." Não iria me ajudar.
-O que você ouviu?
Ele continuou, eu suspirei.
-Vocês já tem motivos o suficiente pra me achar maluca, não precisam de mais um.
Eu dei as costas para ele.
-Vai me contar?
Ele se colocou ao meu lado.
-Pense bem no que vai dizer, bonitinha.
-Escutou isso?
Pera, foi ele que perguntou? Gabe me encarou e eu sacudi a cabeça para clarear a mente.
-Que estranho...
Ele continuou e eu percebi que foi ele que perguntou, mas interpretou o meu gesto errado.
-Você também ouviu?
-Ouvi.
-Eu não estou maluca.
-Ou estamos os dois. O que diabos foi aquilo?
-Era uma voz de menina, falou comigo três vezes contando essa.
-Desde quando?
-Desde que você foi naquela direção- eu apontei para onde ele tinha ido- e depois parou quando você voltou, e voltou quando eu pensei em te contar.
-Muito estranho.
-Devemos nos preocupar?
Eu perguntei encarando-o mas ele olhava para os lados.
-Muito.
Gabe queria acordar todos para contar sobre a "voz" mas eu o impedi.
-Tá doido? Eles vão nos crucificar se dissermos que eu ouvi vozes.
-Nós ouvimos vozes.
-Estão achando que você está tão louco quanto eu.
Ele deu de ombros e continuou andando, a voz estranha deu mais uma risada e depois desapareceu por completo. Quando eu entrei, todos estavam recolhendo as coisas. Gabe estava com Anne, os dois estavam conversando num canto distante. Lala e Phe estavam rindo enquanto tentavam dobrar um saco de dormir, mas não estava dando certo. A Tatz, a Pammy e a Iara estavam carregando algumas caixas para fora da cabana. Elas passaram em silêncio por mim. A Jamille juntava algumas coisas e eu me aproximei dela.
-O que está fazendo?
Eu disse.
-Arrumando isso daqui. Precisamos sair antes que a tempestade chegue.
-Quer ajuda?
-Claro.
Ajudei-a a empacotar alguns utensílios de comida, coloquei tudo na picape e olhei pra ela.
-Como conseguimos tanto combustível depois de tanto tempo?
Eu perguntei.
-Passamos por muitos postos de gasolina, e haviam muitos carros abandonados pelo caminho, temos um estoque pra durar três meses.
Ela disse dando de ombros. Ficamos em silêncio por um tempo, o pessoal começou a entrar nos carros.
-Bia?
Ela disse virando de costas enquanto entrava no Jipe. Eu a olhei.
-É bom tê-la de volta.
Nós duas sorrimos e ela entrou, o Jipe saiu na frente enquanto o resto do pessoal entrava na picape.
-Cuidado bonitinha, amigos não duram pra sempre.
Aquela voz insuportável se pronunciou mais uma vez. Eu subi na caçamba da picape e observei enquanto mais um acampamento sumia. O caminho sinuoso até a estrada foi mais difícil porque uma chuva começou a cair, me ensopando e deixando o terreno enlameado. Quem quer que estivesse dirigindo, estava tendo o cuidado de não me sujar com lama. O caminho silencioso pela estrada foi mais fácil, avançamos os quilômetros enquanto a chuva caía. Avistei uma placa, não pude lê-la muito bem mas era mais ou menos:

Be... Indos... Salvatore. Pop... -1000.
Alguma pessoa com um bom senso de humor havia pintado o sinal negativo com tinta spray preta. Me lembrei que essa era a cidade pequena situada bem no meio de cidades grandes, comecei a ficar aflita e piorei quando paramos os carros no meio da praça da cidade. Eu pulei da caçamba e fui andando até o Jipe, onde Lucas estava saindo do banco do motorista.
-Depois que for devorado, eu vou ter o enorme prazer em te dizer que eu te avisei.
Eu disse e virei as costas, ouvi ele bufar.
-É o seguinte, Anne e Gabe, vocês vão procurar por armas junto comigo e com o Phelipe, numa delegacia que fica aqui perto. Vocês, meninas, vão procurar por comida naquela região ali-ele apontou para uma rua- e você- ele apontou para mim- fique bem aqui e não cause problemas.
E eles saíram andando, o que me deixou profundamente irritada, pelo menos tiveram a decência de deixar uma pistola e um pente de munição em cima do capô do carro. Me sentei no capô e fiquei observando a cidade. Devia ter sido um lugarzinho bem legal. Pacato, com as ruas organizadas. Seria legal viver aqui. Eu estava olhando para uma loja de vestidos para alugar, me lembrei de ter dito para a Lala que seria a madrinha do casamento dela. Caminhei lentamente até a loja, olhando constantemente para os lados e para trás, vendo se ninguém estaria precisando de mim. As portas estavam inteiras então entrei, quando abri a porta, um barulho de sino encheu o lugar. Esperei com a arma carregada, mas nada aconteceu. Dei de ombros e fui andando pela loja, achei rapidamente a seção de casamentos. Eu estava sozinha na loja, comecei a pegar um monte de vestidos e coloquei-os nos manequins, para vê-los melhor. Havia um, o mais bonito, era tomara que caia, com detalhes em pedrinhas logo abaixo dos seios, tinha um corte assimétrico, era um pouco mais curto na frente e tinha uma cauda não tão cumprida atrás. Peguei aquele e pensei que o noivo também precisava de algo decente para vestir. Andei com o vestido em mãos até a área de smokings, lembrei que o Phe não é muito de usar traje social, então escolhi uma camisa branca e uma gravata preta, acho que ninguém se importaria se o noivo se casasse de jeans. Corri até a parte dos sapatos e peguei uma sandália branca para a Lala e um sapato social para o Phe. E já que eu estava organizando tudo, porque não algo legal pra mim? Deixei tudo em cima do balcão da frente da loja e voltei lá pra dentro. Demorei um pouco para achar um vestido azul, até os joelhos, com alças que caíam nos ombros para mim. Ficou bem legal. Voltei andando até o balcão e senti um arrepio na espinha. Reparei que não havia nada quebrado na loja, nenhuma marca de sangue, nenhum vidro quebrado. Apenas pó e o som da minha respiração. Assustada, peguei tudo e voltei correndo para o carro. Deixei as roupas no banco de trás da picape e corri até uma loja de departamentos esportivos, que se encontrava no mesmo estado da outra loja. Algumas teias de aranha a mais.
-Que estranho.
Resmunguei comigo mesma e forcei a de correr para entrar, o cheiro de lugar fechado invadiu minhas narinas, corri até a parte de calçados e peguei alguns pares para experimentar. Escolhi um all-star branco e um preto para mim. Peguei camisetas de corrida para todo mundo, junto com uma mala de tamanho médio e estava quase saindo quando encarei uma prateleira com bolas de futebol, seria bom jogar uma partida pra variar. Calcei o all-star preto e abandonei meu próprio par de sapatos na loja, corri até a prateleira com as bolas e peguei uma, coloquei tudo dentro da mala e voltei para a picape. Estava quase colocando a mala contendo as roupas do casamento da Lala e o meu all-star branco quando alguém colocou a mão no meu ombro, sem pensar, me virei com a arma apontada para a cabeça de quem quer que fosse. Assustei a Tatz que me assustou.
-Meu Deus!
Ela disse erguendo as mãos e eu guardei a pistola.
-Desculpa.
-Como eu senti sua falta!
Ela me abraçou forte e não soltou por um bom tempo.
-O que você estava guardando aí?
-Não seria o máximo se a Lala e o Phe se casassem?
-Ahn? Seria se estivéssemos num mundo normal onde houvesse igrejas com padres que pudessem casar a minha irmã.
Ela disse e olhou para a mala.
-O que tem aí?
-Eu peguei um vestido de casamento pra Lala, uma camisa social e uma gravata pro Phe e um vestido pra mim. Eu queria muito que os dois se casassem.
Ela sorriu.

-Não pegou nada pra mim?
-Peguei uma camiseta que seca rápido.
Dei um sorriso e entreguei pra ela.
-Nossa, valeu! Vou usar isso no casamento da minha irmã!
-Besta, a loja está bem ali, pegue o que quiser.
Ela riu e saiu andando, enquanto eu a observava, tive a estranha sensação de estar sento observada. Me virei várias vezes mas não encontrei nada. A chuva havia diminuído um pouco, havia se transformado numa garoa. Comecei a reparar que, além da placa, nada na cidade havia sido destruído. Como se ela fosse uma cidade fantasma ou algo assim, nada foi trancado, foi apenas... abandonado. Ao perceber isso, corri atrás da Tatz que estava segurando um vestido de alças, roxo.
-Tatz...
Eu disse com a voz trêmula e ela me encarou.
-O que foi?
Ela perguntou aflita.
-Você percebeu que não vimos nenhum zumbi, nenhuma mancha de sangue e nem nada estranho por aqui?
Ela começou a olhar para os lados e me encarou.
-Foi tudo... abandonado.
-Como se eles soubessem de algo e precisassem fugir.
-Ou se alguma coisa muito ruim estivesse aqui na cidade e desse tempo de fugir.
Nos entreolhamos e saímos correndo, Ela estava com um vestido e uma sapatilha em mãos, não faço ideia da onde surgiu a sapatilha, mas ela colocou tudo na mala onde estavam os vestidos, fechou o zíper e a porta e escutamos um grito. Nos entreolhamos de novo e ela abriu a mochila de arma, tirou um revólver de lá e o esticou para mim. Entreguei a pistola pra ela e peguei outro revólver, carreguei os dois e fomos em direção ao grito. Entramos em duas ruas até achar o armazém onde a Pammy estava.Ela batia com as duas mãos no vidro e gritava, mas não conseguíamos escutar.
-Consegue entender?
Eu disse pausadamente para que ela pudesse ler os meus lábios, ela balançou a cabeça positivamente.
-Ótimo, se afasta.
Ela deu alguns passos para trás e eu sinalizei com a mão que ela se afastasse mais. Assim que ela chegou a uma distancia segura, apontei o revolver contra o vidro e mirei bem, não queria, de jeito nenhum, acertá-la por um estúpido erro de cálculo. Quando estava prestes a apertar o gatilho, alguém me empurrou bruscamente para o lado, por pouco não disparo por acidente.
-Está ficando doido?
Eu perguntei, visivelmente irritada, para o Lucas. Ele deu um riso irônico e esticou a mão para alcançar o revolver, eu me esquivei.
-Eu é que te pergunto, quem te deu a arma?
-Sei muito bem esticar a mão e pegar sozinha.
Disse e cruzei os braços.
-Vocês sabem muito bem que não era pra ela estar armada, sabe-se lá o que ela vai fazer com essa arma. Pode matar todos nós.
Dei um passo á frente e fiquei cara a cara com ele.
-Escuta aqui, já me encheu o saco você achar que pode mandar em mim. Não sei quem te nomeou líder, essa porra não devia ter líder nenhum porque eu não mandava em ninguém, todo mundo cooperava. Você é apenas um garoto muito intrometido que acha que pode mandar na gente. Pra mim chega, dá o fora daqui antes que eu arrebente a sua cara.
Eu apontei o revolver para ele, ele arregalou os olhos mas relaxou quando viu que eu apontei para a vidraça e disparei, apontando para cima e estilhaçando o vidro, que se quebrou em milhões de pedacinhos, logo em seguida.
-Idiota.
Resmunguei e dei meia volta, ouvi um barulho estranho e várias pessoas resmungando juntas e me virei depressa. Atras dos meus amigos, um bando de mais ou menos dez zumbis avançavam rapidamente. Eu gritei para que todo mundo voltasse para os carros, mas Lucas disse para todos ficarem em posição, isso tinha a ver com alguma coisa que eles não tiveram tempo de pegar, tive que dar meia volta e soltar a trava de segurança da arma. Eles estavam chegando bem perto, os meninos começaram a atirar e em meio aos disparos, ouvi um choro de criança. Ignorando os protestos dos meus amigos, segui o som que me levou até um beco sem saída. Pelas regras de ouro, eu deveria ficar bem longe de becos escuros, mas a pequena criatura encolhida no final do beco, estava chorando e com medo. Me aproximei.
-Ei, o que houve?
Eu digo dando um passo cauteloso para frente. A criança para de chorar e me lança um olhar assustado e se encolhe ainda mais.
-Tudo bem- eu digo- não vou te machucar.
A menina, tinha cabelos negros lisos, estava suja de terra e com um machucado na perna.
Ela apontou o dedo para além de mim, e estremeceu. Eu me viro rapidamente com a arma empunhada, dois zumbis avançam rapidamente pelo beco. Acerto-os, matando os dois quase imediatamente. Me viro para a menina que enchia as lagrimas e me observa com certa curiosidade.
-Qual o seu nome?
Eu pergunto dando outro passo em sua direção.
-Lucy.
Ela diz e eu me aproximo.
-Você foi mordida Lucy?
Ela nega com a cabeça.
-O que houve com a sua perna.
Eu pergunto e me abaixo para ver o machucado.
- E-eu estava fugindo deles, cai do muro e machuquei a perna. Dói muito.
Eu observei a perna, havia um corte não muito profundo que ia do joelho até o tornozelo na lateral da perna, estava todo ralado e cheio de pus. Nada bonito.
-Olha Lucy, eu e meu amigos estamos por ali, vou te ajudar tá?
Ela balançou a cabeça.
-Vou ter que te carregar, tudo bem?
Ela balançou a cabeça outra vez. Coloquei as armas na parte de trás da calça e passei um braço pela parte de trás dos seus joelhos e o outro estava apoiando suas costas. Achei que Lucy era mais pesada, mas a garota era mais leve que a minha mochila. Eu corri com ela até o Jipe. Coloquei ela sentada no capô do carro e senti uma dorzinha no ombro direito, dormir de mal jeito estava acabando comigo,fui procurar a mala da Lala na caçamba da picape. Achei a mochila e procurei por água oxigenada, gaze e esparadrapo. Sem sucesso, voltei para onde Lucy estava sentada.
-Ei, sabe onde tem uma farmácia aqui?
Ela apontou pra uma rua não muito longe.
-Fica aqui enquanto eu pego as coisas tá? Se acontecer qualquer coisa, grita.
Ela afirmou com a cabeça e eu corri, meus músculos desacostumaram ao exercício de fuga, eu acho que sentia falta de ser rápida, ágil e útil por aqui. Encontrei a farmácia e destravei a arma, entrei empurrando cautelosamente a porta de vidro. O lugar estava abandonado como o resto da cidade, corri até as prateleiras e busquei o que precisava, tive que pegar uma cestinha para carregar tudo porque esqueci a merda da mochila no carro. Quando me abaixei para pegar o esparadrapo, ouvi o clique inconfundível de uma arma sendo carregada.
- Fica quietinha ai, passa as armas pra cá.
A voz era com certeza, masculina. Eu me virei devagar, com as mãos erguidas em rendição. Ele estava com uma jaqueta de couro, calça jeans e botas de motoqueiro. Tinha cabelos negros que estavam encharcados por causa da chuva, tinha olhos verdes bem claros.
-As armas.
Ele disse e balançou o revolver que tinha.
- Estão quase sem munição.
Eu digo e as entrego.
- O que faz aqui?
Ele pergunta enquanto toma minhas armas.
- Tinha uma criança chorando, ela está com um corte feio na perna. Estava tentando ajudar.
Eu dei de ombros e abaixei as mãos.
-Você esta só com essa menina?
Ele perguntou, voltando a colocar a arma na minha cara.
-Tira essa merda da minha cara- eu disse empurrando o revolver para o lado.- Eu estou desarmada, não represento perigo.
Ele abaixou a arma devagar.
- Como encontraram essa cidade?
Ele perguntou.
-Ela esta no mapa, gênio.
Ele bufou.
- Os tiros que você deu, vão atrair os zumbis do planeta todo, está sabendo disso?
Eu fechei a cara, boa Lucas, vai matar todos nós.
-Eu sei, mas se não se importa, tenho que cuidar de uma garotinha.
Eu dei as costas para ele e peguei a cestinha com os remédios que juntei, eu dei um passo á frente e ele cometeu o erro de me puxar pelo ombro. Com a mão livre, peguei o pulso dele e puxei para frente, um golpe clássico de karate, não que eu já tenha praticado, o garoto caiu de costas no chão, se contorcendo. Senti uma puxada no ombro que ele colocou a mão, ótimo só me faltava eu ter me machucado. Passei pelo menino e sai da farmácia, vi uma moto estacionada. Corri até onde Lucy estava. Ela chorava e abraçava o joelho da perna boa.
- Pronto, achei o que você precisa, mas vai arder um bocado tá?
Ela balançou a cabeça, relutante.
Coloquei a água oxigenada na gaze e passeios cuidado em volta do corte, eu não era muito boa nisso, era melhor que Lala o fizesse. Depois de limpo, coloquei uma pomada que achei na farmácia em outro pedaço de gaze, coloquei em cima do corte e prendi com o esparadrapo.
-Acho que isso vai resolver.
Eu disse e ajudei Lucy a descer do carro.
-Lucy, quando meus amigos chegarem, eu preciso que você fique atras de mim até eu ter certeza que eles não vão te machucar.
Ela balançou a cabeça no mesmo momento que eu ouço passos nas folhas secas da praça que estamos.
-Você... Disse que não... Representava uma ameaça.
Disse o menino que eu derrubei na farmácia.
-Ninguém coloca a mão em mim.
Eu disse de cara fechada, encontrando Lucy atras de mim.
-Vejo que essa é a baixinha que se machucou, tá melhor?
Ele pergunta inclinando a cabeça para o lado, vejo que Lucy lançava um olhar curioso para o menino.
-Tudo bem, sua amiga ai me mataria se eu te machucasse. Eu não vou fazer nada.
Ele disse e sorriu, eu puxei Lucy para trás.
-Dá o fora daqui.
Eu digo entredentes.
-O que foi, eu não to fazendo nada.
Ele diz e eu dou um passo para frente.
- Dá o fora daqui antes que eu arrebente essa sua cara.
Ele tirou o sorriso do rosto e deu de ombros, mas não se mexeu.
-Pra onde vocês vão?
-Não é da sua conta.
Eu respondi cruzando os braços.
-Ei, calma, eu só pensei que podíamos...
Eu ouvi que o pessoal se aproximava, puxei Lucy pela mão e empurrei o garoto para as árvores.
-Ei!
- Calado.
Eu o fuzilei com os olhos e me escondi atrás de um arbusto.
-Pra onde ela foi?
Jamille estava perguntando para alguém, eles formaram um círculo perto dos carros.
-Eu não faço idéia, eu disse pra vocês que ela não estava bem e você- Lucas apontou para Gabe- acreditou que ela já estava boa, o que ela tem não tem cura. Aceite isso.
Gabe fez uma cara feia e respondeu.
- Ela esta melhor sim, você que não quer ver isso. A gente tem que procurar por ela.
-Não.
Lucas disse e eu senti uma mão no meu pulso. Olhei para o garoto que me olhava assustado e olhei para os meus punhos fechados. Eu estava a milímetros de arrebentar a cara do Lucas.
-Siga a gente, leve a Lucy com você, eu já arranjei problemas demais, não seja visto.
Eu sussurrei para o garoto.
-Lucy?
Ela me observou cuidadosamente.
-Você vai com ele tá bom? A gente se encontra daqui a pouco.
Eu coloquei uma mecha do cabelo dela atras de sua orelha e lancei um olhar significativo para o garoto, antes de dar a volta pelas árvores e voltar para a rua. Anne me viu chegando e correu para me abraçar.
-Você esta bem? Foi mordida? Onde você estava?
-Estou bem, relaxa, me perdi, só isso.
-Agora que você chegou, já podemos ir?
Lucas perguntou com desdém. Eu andei até ele.
-Você não manda aqui.
Eu disse e sai andando, disse para Gabe dirigir a picape e voltar para o acampamento enquanto eu dirigia o Jipe. Entrei rapidamente no banco do motorista antes que alguém mais dirigisse, segui Gabe há que não sabia o caminho e olhava constantemente pelo retrovisor para ver se o garoto e Lucy estavam bem, não os vi nenhuma vez e comecei a ficar preocupada. Arrumei mais uma responsabilidade, e mais um idiota pra me preocupar.

domingo, 30 de setembro de 2012

ERA DE SANGUE- 2° TEMPORADA- Losing My Mind

Faz algum tempo desde que deixamos a praia. Muito tempo para ser mais exata. Viajamos muito para deixar o Guarujá, não faço ideia de onde estamos, mas eu posso ver o mar. Assim que deixamos a praia, mandaram-me entrar no Jipe, mas eu queria vê-los direito, sem ter que correr, ou gritar. Abracei um por um, sentindo a falta imediata de dois dos meus amigos.
-Onde eles estão?
Perguntei olhando para o Lucas, ele sabia o que eu queria dizer.
-Bia, eu...
-Me responde!
-A Milly e o Wagner eles...
Comecei a negar com a cabeça quando percebi o que ele queria dizer, mal percebi e já estava de joelhos no asfalto. Eu não queria aquilo, não queria que ninguém morresse. Alguém me colocou no carro, não me impediram de chorar, ninguém sentia o que eu estava sentindo. Ninguém iria entender.
De lá pra cá, meus sonhos estavam tão estranhos quanto a minha cabeça. Eu não tomava as decisões mais. Ninguém confiava em mim como antes, estávamos divididos entre nós, Phe e Lala auxiliavam no comando com o Lucas tomando as decisões mais importantes - Não nos falamos nenhuma vez desde que saímos da praia.- Anne e Gabe cuidavam da parte de defesas e proteção do grupo.- Anne era muito boa com a pistola.- Talita, Iara a Pammy e Jamille cuidavam da parte de alimentos, avisavam quando a comida estava acabando e constantemente cozinhavam pra gente. E eu? O tempo que eu não estava dormindo eu estava chorando, e quando eu não estava fazendo nenhum dos dois eu andava por aí. Uma vez achei um cemitério de manhã, não voltei até escrever o nome de todas as pessoas que morreram enquanto estavam perto de mim. Por impulso, escrevi Ky e Bloom, quando terminei, havia cortes nas dobras dos dedos de minhas mãos, nas palmas também. Anne me achou enquanto eu contemplava o que eu fiz com o canivete que arranjamos. Escrevi em uma pedra perto de um arbusto, algumas flores estavam nascendo o que me poupava de colocar algumas sobre a pedra. Escrevi um breve epitáfio, com um graveto.
"Estive com vocês, por pouco ou muito tempo. Mas vocês estarão comigo, até que meu coração pare de bater."
Anne tocou o meu ombro e me levou de volta para o acampamento.

-São dizeres muito bonitos. Sinto muito que isso tenha acontecido.
E entrou sem dizer mas nada. E desde aquele dia, tenho andado dormindo. Geralmente, meus sonhos são tão perturbados, que eu acho que estou me revirando na cama, mas na verdade, estou correndo por aí. Estava bastante escuro, alguém gritava  e eu via rostos borrados passando por mim, comecei a andar pelo corredor, parecia que eu estava andando por diversas vitrines, cada parte de vidro era um amigo meu, em pé, com a expressão vazia, me encarando. No final do corredor, duas figuras estavam de costas, lado a lado. Elas se viraram lentamente, uma, era Vinícius, a outra, era Pedro. Parei por um instante, petrificada. Eles estavam sorrindo quando o vidro que os continha começou a subir. Eles começaram a falar comigo mas eu não entendia o que eles diziam. Estava prestes a dar um passo na direção deles quando alguém puxa o meu braço.
-Está tentando se matar?
Lucas agarrava o meu braço e me olhava de um jeito que chegou a me assustar. Aí me dei conta de que estava de pé, a beira de um penhasco. Desse dia em diante, pessoas me vigiam enquanto eu durmo. Eu não posso reclamar, estou perdendo a cabeça.
-Queria que ela parasse de ficar olhando para o nada. É assustador.
Alguém sussurrou enquanto passava pela árvore em que eu estava sentada, estiquei o pescoço e vi a Pammy, a Iara, a Tatz e a Lala passando.
-Você viu o que ela fez noite passada? Ficou parada na porta da cabana por duas horas!
Outra voz disse.
-Ela está assim há tempo demais.
 -Não há nada que possamos fazer.
Elas passam pela árvore e não posso mais ouvi-las. Suspiro e me recosto no tronco. Elas estão certas, eu estou assim faz tempo demais. Tenho que mudar isso. Estávamos acampados numa clareira, andei até o limite dela, onde uma floresta densa começava a se formar. Andei por um bom tempo até julgar estar bem longe, eu precisava saber voltar até o acampamento. Fechei os olhos e dei três voltas, abri-os novamente e encarei a floresta. Devia ser outono, as árvores tinham poucas folhas, as que possuíam, estavam espalhadas no chão. Dei mais uma volta para me certificar que não sabia a direção que vim e me lancei no meio da floresta. Demorei para achar o rastro que meus pés fizeram na terra, arrastando as folhas e fazendo uma pequena trilha, depois foi só seguir o caminho de volta para a clareira. Mas eu estava enganada, não estava na clareira e sim num campo muito aberto, com uma estrada de terra que se alargava e terminava num ponto ao centro do campo. Quando meus pés tocaram a estrada, tive a impressão de estar pisando no metal, meus pés faziam um barulho engraçado ao pisar na terra da estradinha.
No centro do campo, a estrada se fechava num círculo. Só havia isso, mas tinha alguma coisa errada. Porque havia essa estrada aqui, dando para o nada? Porque o chão fazia um barulho engraçado? porque diabos tem um Jipe militar vindo na minha direção? Corri o mais rápido que pude para me esconder, observei o Jipe seguir a estrada  até o círculo e depois ouvi um barulho muito alto, mas não pude descrevê-lo. O Jipe começou a afundar na terra, desaparecendo por completo pouco tempo depois. Pude ouvir o barulho de novo e não tive dúvidas de que eram das engrenagens do elevador oculto. Corri no sentido contrário ao da estrada de terra, voltando para o meio da floresta, começando de novo a minha tarefa de voltar para o acampamento. Consegui voltar assim que o sol se pôs, encontrei duas figuras andando de um lado para o outro, preocupadas.
-O que houve?
Perguntei em voz baixa, a garganta rouca e arranhando pela falta de uso. Não falo com eles faz muito tempo.
-Bia! Graças a Deus!
Jamille me abraçou forte e depois gritou.
-Gente! Ela está aqui!
Eu fiquei sem entender o que eles estavam fazendo. O pessoal foi voltando aos poucos, me abraçando e perguntando onde eu estava. Lucas era o único que parecia realmente furioso. Agarrou meu braço direito e me arrastou para longe dos outros.
-O que você estava tentando fazer?
Ele disse com os dentes cerrados. Eu puxei meu braço de volta e o encarei.
-Fui dar uma volta, nada de mais.
-Nada de mais? Tivemos que desmontar a porcaria do acampamento porque você sumiu.
-O que tem de mais? Eu sempre saía pra andar.
-É, antes de você...
-Antes de eu o que? -Estava gritando com ele sem perceber- Eu não fiquei louca se é o que vocês andam dizendo, eu perdi tudo o que era importante pra mim, perdi tudo! E enquanto eu tentava salvar a porra da vida de vocês, vocês não podiam ter salvo a dos meus amigos?
-Foi um acidente!
-Um acidente que matou eles Lucas! Eles eram minha responsabilidade, eu os trouxe pra esse inferno!
-Não foi culpa sua!
-Tem razão, foi sua! Você estava obcecado em me achar e não viu que eles estavam sendo perseguidos por um bando inteiro!
Eu estava chorando e pude ver, com o canto do olho, que o resto dos meus amigos olhava para nós. Estava cansada de tudo aquilo, se eles queriam achar que eu estava louca. Ótimo, que assim seja. Dei as costas e fui andando de volta para a floresta, quem sabe eu descobria quem eram aqueles caras no Jipe e estourava a cabeça de algum deles? Fiz um pequeno desvio até o Nosso Jipe e abri uma das malas, peguei uma pistola qualquer e dois pentes de munição. Voltei para o meu caminho, já estava dentro da floresta quando percebi uma movimentação atrás de mim. Me virei á tempo de ver alguém tentando se esconder.
-Eu sei que está aí.
Disse cansada, porque eles tinham que me tratar como se eu fosse incapaz?
-Desculpe estar te seguindo.
Gabe saiu de trás da árvore e se colocou ao meu lado.
-Porque todos estão me tratando como se eu fosse maluca? Eu só não estava bem, mas agora estou de volta. Não há com o que se preocupar.
Eu revirei os olhos e continuei andando.
-Entenda que ficamos preocupados por você não comer direito, não falar com a gente e acordar na beira de um precipício. Foi tudo muito estranho, numa hora você era a menina mais durona que eu já conheci, em outra, você estava com um olhar melancólico para o nada.
-Mas agora eu estou de volta.
Ele passou o braço pelo meu pescoço.
-Ainda bem que está.
Continuamos caminhando em silêncio, até estarmos na trilha que leva até o campo aberto.
-Que lugar é esse?
Gabe tira o braço do meu ombro e caminha um pouco á frente. Eu suspiro e puxo o braço dele.
-Enquanto andava hoje, achei aquela trilha e parei aqui. O chão faz um barulho engraçado quando você pisa, depois de um tempo olhando, um Jipe militar veio daquela direção -apontei para o outro extremo do campo- ele seguiu em linha reta até o círculo ali -apontei para o círculo- e afundou na terra.
Ele me encarou por uns minutos. Ótimo, agora sou mais do que maluca.
-Como assim, afundou?
Eu puxei ele pelo braço até o caminho de terra, deixei que ele ouvisse o barulho que os pés faziam em contato aquele lugar.
-Parece...
-Metal coberto com terra.
Eu completei a frase dele. Nos abaixamos e cavamos um pouco, a terra revelou uma superfície metálica.
-Isso não deveria estar aqui.
-Você acha?
Eu disse o encarando. Ouvi o barulho das engrenagens e puxei Gabe para a floresta novamente.
-O que foi aquilo?
-Continue olhando.
Nos escondemos em alguns arbusto e ele ficou observando enquanto um Jipe militar surgia do círculo.
-Mas que porra é....
-Calado. Eu não sei se eles podem escutar.
Continuamos observando até que o Jipe desapareceu completamente.
-Precisamos entrar lá, ele disse se levantando.
-Ow, ow, ow!- Eu entrei na frente dele- Eu estou de volta há quatorze horas, preciso de treinamento, capacidade de pensar em um plano, preciso ver se é seguro entrar, não faço a mínima ideia do que há lá em baixo, e eu não sei se quero descobrir.
Gabe deu um passo para trás.
-Uau, você está mesmo de volta.
Eu sorri.
-Ainda duvidava? Anda, temos que bolar um plano pra entrar.
Voltamos até a clareira, o pessoal estava reunido em volta de uma fogueira. Lucas estava falando alguma coisa.
-Então podemos seguir por aqui- Ele apontou para o mapa- ou por aqui. Temos que passar por essa cidadezinha aqui.
-Não é uma boa ideia.
Eu disse me sentando. Lucas se virou para mim e revirou os olhos.
-Então a gente pega os mantimentos aqui e...
-ME ESCUTOU? É uma péssima ideia!
Ele se virou para mim.
-Porque?
-Porque- eu virei o mapa na minha direção- essa cidade é o centro de uma rota- Apontei para as linhas vermelhas do mapa- essa rota, liga essas outras duas cidades que são bem maiores. Ou seja, qualquer coisa que veio de qualquer direção, vai passar por essa merda, e se vocês não quiserem virar comida de zumbi, sugiro seguirmos pela costa.
Eu empurrei o mapa e cruzei as pernas. Eles me encararam por um tempo e ficaram em silêncio. Gabe pigarreou e todos olharam para ele.
-Tem alguma coisa lá na floresta.
Eles se assustaram e começaram a falar todos ao mesmo tempo.
-EI!
 Eu gritei e eles me olharam.
-Tem alguma coisa em baixo de nós, um Jipe militar passou por lá e entrou num túnel subterrâneo. Eu não faço a mínima ideia do que tem lá em baixo, mas não é coisa boa.
Eles se entreolharam e aquela coisa de me achar maluca já estava me dando nos nervos.
-É verdade! - Gabe interrompeu os comentários- enquanto eu a seguia, vi o Jipe, a estrada, tudo. Ela não está louca, na verdade, está melhor do que nunca.
Ele disse e o pessoal ficou quieto, não aguentei ficar ali e saí andando. Que ódio! Fiquei observando o céu, estava nublado e ventava um pouco, haveria tempestade no dia seguinte.
-Eu acredito em você.
Me virei e dei de cara com Anne.
-Obrigada.
Eu disse num suspiro.
-Ainda bem que você voltou!
Ela disse me abraçando e a abracei de volta.
-Vou precisar de ajuda, tem alguma coisa lá que vai nos trazer grandes problemas.
-Eu sei, eu e Gabe vamos ajudar.
-Bem, é melhor do que nada. Mas você vai ter que me contar o que houve, desde que saímos da praia.
Ela concordou com a cabeça e começou a contar.
-Você ficou estranha desde que contamos que seus amigos... Bem, você sabe. O Lucas também não estava nada normal, ele ficou bem estranho desde á praia. O pessoal tá achando que isso deixou de ser um grupo e que não vamos resistir se tiver um ataque de um bando. Falando nisso, não vemos um único zumbi desde á praia, o que é um fato muito estranho. Não acho que eles tenham desaparecido, acho que estão...
-Esperando a hora certa de atacar? Também pensei nisso, mas não é tão simples assim, só se...
Na minha mente, a cena do Doutor Sociopata fugindo de helicóptero se manifestou. Parecia que eu estava lá outra vez, até podia sentir o cheiro de sangue na minha roupa.
-Vocês está bem?
Anne disse com a mão no meu ombro, eu chacoalhei a cabeça desviando os pensamentos.
-Estamos ferrados. Olha só, os zumbis foram criados por aquele cara de jaleco que estava na Arena comigo, ele me odeia ou tem alguma fixação comigo por algum motivo, o que é bizarro. Mas ele escapou, como eu, e acho que está atrás de mim. Esperando por uma brecha.
-Quando seria o momento perfeito?
Ela perguntou.
-Eu não sei- balancei a cabeça- espera, se estivéssemos separados e eu estivesse sozinha, se ninguém acreditasse em mim e se estivéssemos no meio do caos. Seria perfeito para ele.
-Estamos ferrados.- Ela apontou para o horizonte- Tem uma tempestade vindo, com uma tempestade, ninguém acredita em você, o grupo está separado, seria perfeito.
-Eu sei, já tinha reparado.
-Não podemos te deixar sozinha, vou avisar os outros.
Eu segurei seu braço.
-Eles vão falar que está maluca como eu, estão duvidando de Gabe por minha causa.
-Vou convencê-los.
-Boa sorte.
-Ainda bem que você está de volta, Lucas não sabe tomar grandes decisões.
Ela riu e se virou, correndo na direção dos demais que estavam na fogueira. Me virei para o horizonte e encarei o céu. Pouco tempo depois alguém agarrou o meu braço.
-O que diabos...
Eu me virei com raiva e dei de cara com Lucas.
-Me solta.
Eu disse com os dentes cerrados.
-Que papo era aquele de coisa estranha na floresta?
-Me solta!
Eu puxei meu braço e o encarei.
-Eu não disse nada além da verdade.
Ele bufou.
-Você está delirando.
-Estou? Ótimo, continue pensando assim. Arraste a gente pra droga da cidade que você quer ir, mate todos nós. Só não peça pra que eu te salve quando estiver sendo perseguido até a morte, falou?
Eu dei meia volta e comecei a caminhar.
-E á propósito, tem uma tempestade vindo. Eu sugeria que você reforçasse as pregas das cabanas.
Ele bufou, desacreditando-me. E nesse momento um vento forte começou a soprar, vindo do oceano. Eu me virei mais uma vez e disse entredentes.
-Eu te avisei.




quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Narração- Lucas.- Final.

Estávamos montando a última bomba em uma das Arquibancadas quando vimos os helicópteros chegando. Eram mais de dez com certeza, eram grandes, podiam ser militares.
-Temos menos de dois minutos, eles vão parar no Heliporto da pousada.
Anne, Gabe e Phe concordaram com a cabeça. Talita, Pamella, Iara, Larissa e Jamille estavam na floresta procurando a Bia ou aquele amigo dela. Não gosto dele, pode chamar de ciúmes mas ele ainda vai meter ela em muita encrenca.
-Acho que não temos esse tempo todo.
Anne cutucou meu braço com o cotovelo eu me virei e dei de cara com alguns seguranças.
-Encrenca.
Eles deram um passo na nossa direção, todos nós engatilhamos as armas que estavam conosco.
-Acho melhor não.
Um dos seguranças falou. Estávamos cercados, todos eles estavam bem mais armados que nós. Não tínhamos munição reserva, não dava pra desperdiçar assim. Eles investiram contra nós, Anne abaixou desviou do primeiro soco do segurança, ela era mais baixa e mais rápida que nós. Continuaos brigando até que uma voz no rádio chamou os seguranças.
-Levem-nos para a entrada principal. Amarrem eles á uma árvore se for preciso, e quero que ela veja.
Provavelente era o chefe deles, os seguranças tiraram as nossas armas enquanto nos imobilizavam e levavam a gente floresta adentro. Amarram-nos á uma árvore, o mais alto lançou-me um olhar e apontou para um telão á poucos metros de nós. Eles desapareceram na floresta assim que o telão brilhou e a imagem de um cara vestido com um jaleco branco apareceu.
-Vocês presenciaram a nossa estreante em suas proezas nesse acampamento.
Ele disse, e imagens da Bia lutando contra zumbis apareceu, ela corria e desviava, dava pra ver que estava esgotada, mas ela lutava bem, cortou a cabeça de um zumbi com uma espada, imobilizou uma garota de cabelos curtos que estava armada, várias outras cenas passaram até que a menina de cabelos curtos apareceu de novo, dessa vez a Bia foi derrubada, a menina ficou em cima dela co as duas mãos no pescoço dela, a Bia reverteu a situação, imobilizando a garota, derrubando ela na areia enquanto outros dois meninos vinham ajudar, ela tinha um pequeno corte no rosto quando a luta acabou. Anne sussurrava alguma coisa para Gabe, eu continuei olhando o telão.
-Ela não é só forte como também arrasa corações.
A imagem daquele garoto beijando a Bia fez meu sangue ferver, sabia que não gostava dele por algum motivo, eu tentei em vão, me soltar das cordas.
-Pois vamos ver se ela é habilidosa o bastante para cuidar de corações e ser forte para lidar com os zumbis. Que o desafio comece.
Uma garotinha trouxe algo embrulhado para a Bia, mas deixou cair quando chegou perto, a menina entregou uma espada para Bia e depois voltou correndo para dentro da floresta.
-Não tão rápido.
Ele colocou a mão no ombro da Bia, nesse momento eu ví algo se mexendo na floresta, virei a cabeça para encontrar a Talita. Ela andava rapidamente na minha direção.
-Não está dando certo, aqueles fios não se encaixam!
Ela disse enquanto me desamarrava.
-Eu... Mas e eles?
Eu perguntei quando as cordas me soltaram
-A Bia está vindo, olha só!
Anne apontou com a cabeça para o telão. A Bia corria o mais rápido que podia por entre a floresta.
-Vai lá, encontramos vocês depois.
Gabe disse e eu comecei a correr com a Talita para as arquibancadas, onde os explosivos estavam.
-Olha, ele não quer encaixar.
Ela apontou para a montoeira de fios que ligavam até o explosivo, o detonador estava com a Pamela. Eu ma abaixei para ver qual era o problema, as duas se posicionaram ao meu lado, mas olhavam alguma outra coisa.
-Ai não!
A Pamela disse enquanto observava o telão, estiquei o pescoço para ver também. O resto do pessoal estava encurralado no penhasco.
-Temos que ajudar, ela não vai chegar á tempo.
-Vão!
Eu disse.
-Mas e você?
-Eu vou detonar esse lugar. A Bia não vai aguentar muito tempo, correndo desse jeito, vão!
Elas me entregaram o detonador e saíram correndo. Eu encaixei o resto dos fios e corri também, demorou até que eu ficasse á uma distância onde não pudesse ser atingido, estava prestes á apertar o botão quando uma voz familiar me fez ficar paralisado.
-Olá.
Ela disse, me arrepiei inteiro, me virei devagar para encontrar a dona da voz, do mesmo jeito que e lembro.
Júlia estava com a camiseta preta do Nirvana, calça jeans rasgada e um all-star surrado. Os cabelos longos estavam enrolados nas pontas e um pouco mais compridos do que eu me lembro. O rosto estava quase igual, as bochechas coradas, os olhos cinzentos a boca avermelhada e até a sardas que ela tinha no nariz. A única diferença é que havia uma cicatriz rosada perto da sobrancelha direita. Ela sorriu e caminhou na minha direção, eu fiquei paralisado.
-Sabe... Foi muita indelicadeza sua ter me deixado pra morrer naquela estrada, sabia?
Ela traçou a própria boca com o indicador.
-Você... Você não...?
Ela riu.
-Não morri. Se é o que pergunta, mas cheguei bem perto. Duas costelas quebradas, um corte na testa e estilhaços de vidro pelo corpo causam um bom estrago. Por sorte acordei antes que o maldito carro explodisse, arrastei os corpos daqueles dois idiotas pra longe assim que vi a gasolina escorrendo. Fiquei com tanta raiva por você ter fugido...
Ela parou para me observar.
-Mas vejo que está muito melhor agora, até arranjou uma namoradinha, qual o nome dela? Ah, Bia.
Ela disse com um sorriso nos lábios, me aproximei dela.
-O que você faz aqui?
-Vim impedir que você destrua o que meu pai está construindo.
Eu pisquei várias vezes até entender que o cara de jaleco, que sequestrou a Bia e transformou nossa vida num inferno, era o pai da Júlia.
-E então? Sentiu saudades?
Ela disse se aproximando de mim, ela passou os braços pelo meu pescoço, eu me afastei.
-O que foi? Não vá me dizer que aquela garota fez você esquecer de mim.
Ela bufou.
-Não esqueci, só não consigo...
Ela continuou me observando, amei aquela garota por três anos.
-Não consigo acreditar no que está acontecendo.
Ela sorriu.
-É muito simples, eu estou aqui, você está aqui e ainda não estamos juntos.
Ela riu e se aproximou de novo.
-Não.
Murmurei e ela se afastou.
-O que é isso na sua mão?
Ela perguntou tomando o detonador, eu tentei pegar de volta mas ela o esticou pra longe.
-Não, não, não. Não é tão simples assim.
Eu investi contra ela e nós dois caímos no chão, ela deu uma risada.
- Bom, eu tinha pensado fazer isso em outro lugar mas já que você quer assim...
Eu me levantei apressadamente, ela estava com o detonador em mãos.
-Você não vai desistir dela não é?
Ela disse num suspiro, fiquei confuso com o comentário dela.
-Toma, vai lá e salva a garota. O quão antes vocês saírem daqui, mais cedo essa loucura termina.
Ela deu um sorriso acanhado e me devolveu o detonador.
-Tenha cuidado.
Ela disse e correu pela floresta, eu fiquei perplexo, mas sacudi a cabeça e apertei o botão, detonando a primeira arquibancada. O Phe tinha programado uma explosão á cada dois minutos, eu corri até a Arena para ajudar. O menino de camiseta preta está de braços abertos na frente da Bia, ele vai se aproximando, dizendo alguma coisa, eles ficam nisso por alguns minutos. Ela começa a chorar e atira nele, penso em correr até ela, mas ela se ajoelha do lado do menino que nos encontrou na floresta. Ela coloca a cabça dele em seus joelhos, ele foi mordido. Por que ela está cuidando dele assim? Ele vai matá-la, vai tentar mordê-la! Eu caminho até ela mas paro subitamente quando os lábios dela tocam os dele. Ela o beijou. Logo depois fechou os olhos e apontou a arma pra cabeça do garoto. Um tiro. Eu corri até ela quando seus joelhos tremeram e ela parecia que iria desmaiar.
-Temos que ir agora!
Eu disse, mas ela não respondeu. Tomei-a em meus braços e a carreguei de volta para onde o carro estava, ví de relance Anne e Gabe correndo na mesma direção que eu. Ela levantou a cabeça do meu ombro para observar o grande helicóptero que nos sobrevoava. Aquilo não tinha acabado.
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Quem quer uma prévia de Era de Sangue- Segunda Temporada, levanta a mão!
-Antes de mais nada, as desculpas da autora por ter abandonado a história, espero que vocês não me abandonem.... Mas agora eu voltei e vamo que vamo!-
"Coloquem pra tocar antes de ler Música da Prévia."


-Ela está assim há tempo demais.
-Não há nada que possamos fazer.
Eu olho para Lala e ela tem razão, a Bia sofreu demais nesses últimos meses, não podíamos ter exigido tanto dela.
-Eu queria que as coisas voltassem ao normal.
-As coisas nunca mais serão normais Tatz.
[...]
-Eu preciso disso pronto até semana que vem!
Ele grita com o funcionário do grande laboratório subterrâneo.
-Sim senhor.
Ele faz uma reverência e some nos corredores brancos.
-O que essa garota tem de mais afinal!
Eu digo irritada, estou abrindo e fechando um canivete, impaciente com a demora.
-Ela é especial.
Jason diz com um sorriso no rosto.
-Mas o que ela tem de especial?
Eu pergunto, tirando os pés da mesa do escritório.
-Ela não....
Ele é cortado pela secretária inútil que trabalha aqui em baixo.
-Senhor, há um código seis no perímetro.
Ela diz e mostra prancheta eletrônica que contém os vídeos da segurança.
-Ótimo. Temos visitantes. Júlia, cuide disso para mim, sim?
Eu suspiro e caminho em direção á entrada do laboratório. Se ao menos esses adolescentes se escondessem em outro lugar....
[...]
-Mais alto!
Eu digo para os meninos enquanto eles tentam erguer a lona da barraca.
-Não há tempo, a tempestade está vindo.
-Temos que entrar!
-Andem!
Estou quase entrando no abrigo quando percebo que Gabe não está ali.
-Alguém viu o Gabe?
-Não, ele deve estar lá dentro.
Lucas diz, ele estava tão frio depois que salvamos a Bia, não entendia nada daquilo.
-Vou procurar por ele.
Eu grito em meio aos ventos, a tempestade está mais próxima do que imaginávamos.
-É suicídio!
Ele grita mas já estou bem longe. Onde diabos aquele garoto se meteu? Estou olhando para o chão e cobrindo o rosto por causa do vento, trombo em alguém.
-Aí está você!
Eu digo puxando seu braço mas ele não vem.
-Gabe?
-Temos que sair daqui.
Estava prestes a perguntar o porquê quando vejo um bando de mais ou menos vinte zumbis vindo em nossa direção. Meu olhar se encontra com o de Gabe e corremos de volta para o abrigo.
-Não estamos salvos!
Eu digo arrastando quem consigo alcançar para fora do abrigo improvisado.
[...]
-Você não vai tomá-los de novo!
Ela desfere um golpe contra o cara de jaleco, mas ele é mais forte que ela.
-Eles não me interessam, eu quero você!
E a imobiliza de uma forma impressionante, arrastando-a consigo pelos corredores desse lugar.
-Estamos ferrados.
Alguém murmura e eu não posso evitar de sorrir.
-Já escapamos de situações bem piores.
Alguém suspira.
-É quando um de nós estava solto.
-A Bia está.
-Você ainda acha que restou alguma coisa na cabeça dela depois do que aconteceu? Ela está maluca, lelé da cuca! E agora deu pra andar dormindo, não podemos dormir por causa dela.
-Ela salvou todos nós.
Lucas diz com a voz carregada de pesar.
-E isso custou a sanidade dela!
-Calem a boca vocês dois! Tudo o que fazem desde aquele dia é brigar por causa dela! Que ódio!
Eu digo tentando acabar com a discussão, temos que sair daqui antes que aquele projeto de serial killer volte.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Comunicado...

Oooooooooi!
 Primeiro de tudo, eu queria informar que esse último capítulo foi o fim da primeira parte de Era de Sangue, foi uma parte cheia de drama, segredos, esclarecimentos e romancezinhos *-*
 Eu vou continuar postando a segunda parte que vai estar com mais ação e mais suspense já que várias coisas aconteceram nesses capítulos, Era de Sangue Parte Dois  vai demorar um pouquinho mais pra sair, até porque eu estou buscando inspiração em muuuitos lugares diferentes pra história ficar bem legal.
Enfim, agradeço á todos os leitores, mesmo sentindo que as meninas que sempre comentavam nos capítulos deixaram de comentar, eu acho muito importante que vocês comentem, para me avisar como está o capítulo, se tem algum erro de digitação que eu não vi, se gostaram, se odiaram... A sua opinião.
 Ps: Eu tava escrevendo uma outra história MUITO diferente de Era de Sangue, é um romance, ele é mais elaborado e eu estou terminando o primeiro capítulo para postar, por enquanto só tem o prólogo, mas eu gostaria demais que vocês fossem lá dar uma olhadinha, só lembrando que não tem nada a ver com zumbis. É isso. Até Era de Sangue Parte II.
______________________________________________________xX
Respondendo ao Victor Azevedo :
Olha leitor novo! Primeiramente seja bem vindo ao Era de Sangue,  que bom que gostou, fico muito feliz em saber. Fica de olho por aqui pra ver quando sai a segunda parte da história, enquanto isso, se você ainda não viu, tem o site com a história dos personagens ali em cima, dá uma passadinha. Conta a história deles antes de apocalipse, eu estou tentando ao máximo manter atualizado. É isso, continue comentando é legal saber o que vocês pensam! xX

sábado, 4 de agosto de 2012

Quando tudo dá errado.

Ficamos em silêncio, eu não teria nada a dizer para Blast, o que iria dizer? "Nossa, tá bom." Ou "Ah sim, não tínhamos uma fuga pra planejar?." A melhor opção era ficar em silêncio. Ele se cansou, começou a se levantar quando estendi o cobertor dele.
-Já estou seca, obrigada.
Ele sorriu.
-Não há de quê.
Ele relutou alguns minutos antes de puxar o zíper para abrir a barraca, quando ele finalmente o fez, alguém o puxou para fora. Eu me levantei o mais rápido que pude, tirei a adaga da cintura. Haviam três homens na minha frente, dois deles batiam em Blast para segurá-lo. Um deles sorria e estendia a mão para mim.
-Vamos começar seu desafio, Ghost.
Eu dei dois passos em sua direção, escondi a adaga dentro da blusa. Um dos guardas colocou a mão pesada no meu ombro para me guiar até a Arena.
-Espero que goste do desafio especial que preparei pra você, Ghost.
Jason caminha comigo até o centro da Arena. Estamos sozinhos, eu, Doutor Sociopata e seus seguranças.
-Pra onde você o levou.
Ele olha para mim.
-Receio que você tenha que enfrentar o primeiro desafio sozinha, cada faze requer um tipo de habilidade, esta você deverá cumprir por sua conta e risco.
-O que eu tenho que fazer?
-Você verá.
As luzes da Arena ascenderam e eu pisquei várias vezes para ajustar a visão. Não estávamos sozinhos. A Arena estava lotada com apostadores, como se fosse um dia de jogo normal, eu não via os outros capitães em lugar nenhum, Jason deu dois passos na direção da arquibancada mais próxima.
-Vocês presenciaram a nossa estreante em suas proezas nesse acampamento.
Eu olhei para o telão, imagens minhas lutando no primeiro dia, na festa de iniciação, a tentativa de homicídio de DD também estava ali, as cenas continuaram até parar na nossa briga hoje de tarde.
-Ela não é só forte como também arrasa corações.
Mostraram o beijo que Blast me deu, a Arena gritou.
-Pois vamos ver se ela é habilidosa o bastante para cuidar de corações e ser forte para lidar com os zumbis. Que o desafio comece.
PET trouxe as pressas a minha espada,  deixou cair para sussurrar.
-Ele os pegou, mas eles vão detonar a Arena no último desafio. Vai dar tudo certo.
E ela saiu correndo, eu empunhei a espada, olhei ao redor e nada. Nada de zumbis, nada de monstros me perseguindo.
-Não tão rápido.
Doutor Sociopata caminhava na minha direção.
-Antes que você comece a sua parte, deixe-me lhe mostrar o que está em jogo.
Ele bateu palmas duas vezes e uma luz iluminou o rosto machucado e um pouco sujo de terra de três dos meus amigos. Anne, Gabe e Phe estavam amarrados de costas um para o outro á uma árvore. Eu avancei na direção deles mas Jason me segurou.
-Não.
Eu olhei para ele, meu punho foi mais rápido e o acertou em cheio no rosto. Ele se virou.
-Eles são meus amigos seu doente! São pessoas!  Eles não escolheram vir aqui!
Eu gritava com eles, com todos eles, pra quem quisesse ouvir. Doutor Sociopata riu.
-Eles escolheram te salvar. Escolheram desafiar minhas regras e te salvar.
Eu dei outro soco no seu rosto.
-Doente.
Eu ouvi um barulho e me virei, alguns zumbis corriam na direção dos meus amigos, eu corri, corri o mais rápido que pude.
-O que eu faço?
-Solta a gente!
Eles disseram em uníssono, eu cortei as cordas, eles cobriram meus flancos.
-Estamos cercados.
-E sem armas.
Várias PET's surgiram com facas, revólveres e pentes de munição.
-Rápido!
Começamos a nos defender, as balas acabaram mais rápido do que pensávamos, mas não sobravam muitos mais.
-Acho que terminamos.
Anne me abraçou com força quando o último zumbi caiu.
-Achei que tinha perdido você.
-Todos nós achamos.
E eles me abraçaram até eu ficar sem ar. Alguém aplaudia. Dessa vez Doutor Sociopata não ficou tão perto dos meus punhos.
-Uma bela cena, mas achei que tinha dito que você não poderia ter ajuda.
Os seguranças agarraram meus amigos e eles estavam presos outra vez.
-Agora vamos ver se consegue jogar de acordo com as regras, sim?
Ele pegou meu braço e me guiou até o centro da Arena outra vez. Ele falou com a plateia, eu olhava para o telão que exibia os "melhores momentos" do primeiro desafio. Meus olhos lacrimejaram quando mostraram meus amigos me abraçando.
-E agora.... O desafio duplo que Ghost pediu. Ela e seu amigo irão enfrentar alguns zumbis.
Os seguranças trouxeram Blast. Ele estava com o rosto machucado, carregava um taco de baseball manchado com sangue. Eles o empurraram e ele caiu de joelhos na areia, eu o ajudei a levantar.
-Eu estou bem.
-Só estou te ajudando.
Doutor Sociopata mandou que mais zumbis viessem, mas Blast se esforçava demais para alguém que não estava tão bem assim. Ele estava exausto quando restavam dois zumbis. Eu estava cansada, a espada era um pouco pesada demais para mim nesse momento, eu empurrei o zumbi que estava mais perto e chutei o peito do outro. Tentava mantê-los no chão, achando um jeito mais simples de matá-los. Empurrei o primeiro zumbi o mais forte que pude e ele bateu com a cabeça em uma árvore, não tive tempo para ver se ele havia morrido, o outro zumbi agarrou meu braço, eu puxava mas ele era forte, girei a espada e cravei-a em sua cabeça. Eu caí de joelhos, estava cansada, com medo e isso estava longe de acabar. O outro zumbi não havia morrido, ele caiu sobre mim na areia, tentava de todos os modos me morder, eu me esquivava e me arrastava pela areia, não queria mais lutar, não queria... Minhas costas batem na arquibancada, é o meu fim. Com um último esforço me coloquei de pé. O zumbi ainda vinha na minha direção, eu estava cansada, encurralada e desarmada. Não iria morrer assim, não vou morrer assim. Na frente de gente que eu não conheço, desarmada e deixando meus amigos sem algum plano de fuga. Deixei que o zumbi chegasse mais perto, pulei para o lado quando ele investiu. Agarrei sua cabeça com os dois braços, tomei cuidado para que sua boca não pudesse alcançar qualquer parte minha. Apoiei a mão esquerda no alto da sua cabeça e a mão direita no queixo e torci seu pescoço. Nunca tinha feito isso antes, o mais perto que cheguei foi imobilizar o meu irmão quando a gente brigava, mas nunca tive força o suficiente pra quebrar o pescoço de ninguém. Na minha cabeça eu via as imagens que vivi nos últimos dias, desde a viajem de São Paulo até aqui, quando cantamos Woman na estrada, quando voltamos pra buscar a Jamille, como eu me senti por ter todos os meus amigos por perto, quando conversei com Lucas na praia, a primeira vez que enfrentei um zumbi com um carrinho de supermercado, quando achamos Anne, Milly, Wood e Gabe, como eu quase quebrei o braço do Wood, quando acampamos numa loja de carros, quando transformamos o Jipe num carro para apocalipses, quando eu atirei em Vinícius, quando acampamos perto da cachoeira, quando brincamos na água, quando achamos a pousada, quando passamos a tarde na piscina quando eu treinei com Blast, quando ele me beijou, quando conversei com as PET'S e quando reencontrei meus amigos. Quando abri os olhos o zumbi caiu no chão, a plateia gritava ensurdecedoramente e eu caí de joelhos. Senti a mão de alguém nas minhas costas,  Blast me ajudou a levantar.
-Desculpa por não ter te ajudado com os dois últimos, eu estou melhor agora.
-Tudo bem, eu consegui dar conta de tudo.
Doutor Sociopata veio na minha direção.
-Ótimo, uma verdadeira performance se me permite dizer. Mas eu acho que você devia correr, seus amigos estão bem.... Ocupados.
Ele riu, e eu olhei em volta, não conseguia ver nada além da floresta escura.
-Melhor correr, acho que eles estão bem perto de cair.
Algum holofote guiou meus olhos até o penhasco do meu sonho, meu amigos estavam lá. Eu corri, pulei troncos caídos, desviei de pedras  e pedi para que meu cérebro não se lembrasse de todos aqueles filmes de terror que eu já vi. Cheguei ofegante no penhasco, eles estavam encurralados, eu gritei e balancei os braços feito ma maluca, atraindo a atenção dos zumbis para mim. Deu certo, eles se viraram na minha direção e começaram a correr atrás de mim, e eu estava correndo de novo, na floresta escura, tendo de desviar do que eu mal conseguia ver. Eu tropecei algumas vezes, me arranhei em arbustos e tenho certeza de que já deveria ter torcido o tornozelo, viro o rosto pra me certificar que estão todos atrás de mim. Olho, conto, caio. Caio em uma poça de lama e chega até ser ridículo, as mãos impedem que eu me quebre, voa lama pra todo lado, meus joelhos estão afundando. Espera, afundando?  Todas as vezes que eu vi areia movediça ela era realmente areia e estava num desenho animado. Nunca achei que tal coisa existisse e cá estou eu, afundando. Tateio em busca de alguma coisa pra me agarrar, acho um tronco caído, me apoio nele e me puxo pra fora da poça lamacenta. Os zumbis ainda estão atrás de mim, continuo fazendo barulho, talvez eles sejam burros o bastante pra cair aí e morrer enterrados. Isso funcionou, a maior parte dos zumbis havia caído dentro da lama e estava presa se afundando cada vez mais, outra parte corria atrás de mim, eu corri mas estava cansada, esgotada, acabada, qualquer palavra que signifique que eu não aguentava mais aquilo servia. Eu estava de volta na areia, tinha corrido metade da costa. Deveria ter caído e morrido de cansaço em algum lugar, mas ainda corria, num ritmo mais desacelerado, mas corria. Devo ter acabado com todas as forças que tinha, estava no centro da Arena, não aguentava mais. Parte da mim pensava " Você não pode desistir, eles estão soltos, isso vai acabar logo." Mas a outra parte pedia para que eu ficasse ali, fechasse os olhos e acabasse com tudo aquilo. Caí de joelhos na areia, não virei a cabeça para ver se os zumbis estavam perto, não olhei para os rostos dos apostadores. Caí na areia e fiquei lá, fechei os olhos para ver se acabava mais rápido. Um dois, três, quatro, cinco minutos talvez, nada de zumbis, nada de mordidas, apenas uma platéia que gritava quase tão alto que era impossível de se ouvir qualquer coisa atrás de mim.
-Ela não morreu certo?
Eu conhecia essa voz, mas estava cansada demais para abrir os olhos.
-Não, também não acho que tenha sido mordida. Seja o que for que ela tem, o criador deve querer muito.
Ter? Eu não tenho nada além de uma cabeça dura, muitos amigos e uma tremenda encrenca.
-Ela devia levantar, não acho que ele vai esperar muito mais.
Alguém toca o meu ombro, eu não abro os olhos. Não quero levantar, não vou conseguir.
-Vamos lá Ghost, eu sei que você consegue, só mais um pouco.
Eu abro os olhos devagar. Minha voz é um sussurro, eu não tenho como ficar de pé.
-Não consigo, cheguei ao limite.
Bloom e Ky estão ajoelhados ao meu lado, o que diabos eles fazem aqui?
-Vamos te ajudar. Não se preocupe.
Eu consigo ficar de pé. Não demora até que eu enxergue o que aconteceu. Várias PET'S estão ali, elas olham de um lado para o outro, procuram alguma coisa. Há corpos de zumbis no chão. Ky e Bloom estão com as armas sujas de sangue.
-O que vocês fizeram?
-Você tem razão, temos que sair daqui.
-Eu não vou conseguir.
-Vai sim.
A voz familiar de Blast me faz olhar para trás. Ele está de pé, a respiração está acelerada e ele está apoiando as mãos nos joelhos, deve ter corrido.
-Sabe o quão cansada eu estou? Não consigo nem levantar um dedo!
Ele sorri.
-Anda Bia, falta pouco.
Vejo meus amigos posicionados ao redor da Arena, não vejo Lucas, Milly e nem o Colírio. Eles devem estar terminando com os explosivos.
-Temos vinte minutos pra acabar com a raça dele e dar o fora daqui.
Ky e Bloom chegam mais perto.
-O que vocês vão fazer?
-Explodir a Arena.
-E os outros jogadores?
-Olha!
Bloom aponta para a arquibancada, todos os líderes exceto DD estão andando na nossa direção.
-Eles vieram ajudar.
-Você não vai precisar se esforçar tanto.
Eu quase sorrio, parece que arranjei mais amigos.
-Vamos lá, temos alguns zumbis para matar.
Os outros líderes chegaram, um deles carregava a minha espada.
-Belo jogo, isso aqui é seu.
-Obrigada.
-Vamos dar o fora daqui.
Eles concordaram com a cabeça. Abrimos um círculo, Blast me disse que o Doutor Sociopata havia dado a liberação dos zumbis, estávamos a espera deles. Demorou algum tempo, eu pude descansar um pouco. O som de gemidos e de passos rápidos começou a ser ouvido. Estávamos preparados- Eu pensava- Vamos dar o fora daqui. Eles surgiram de todas as partes, corriam, gritavam e chegavam mais perto. Eram muitos, mais do que eu já havia enfrentado aqui. Cercados antes mesmo que eu pudesse pensar em fazer alguma coisa, eles atacaram de todos os lados e eu não sabia o que fazer direito, eu corria, respirava, desviava e atacava, tudo isso repetidamente. Um barulho enorme, a primeira explosão. Parecia que eu havia ficado surda, tudo girava um pouco, eu estava de cara na areia protegendo a cabeça, voavam coisas para todos os lados,alguém grita.
-Menos de cinco minutos até a próxima!
Os apostadores correm de um lado para o outro, eu não vejo o Doutor Sociopata em lugar nenhum. ME levanto e vejo que alguns zumbis foram atingidos por destroços, estamos com um número bem reduzido agora. Vejo também que alguns jogadores desavisados foram feridos, eu corro para ajudar. o meio do caminho uma voz ecoa gritando o meu nome. Eu paro, olho para todos os lados tentando identificar. Os que não estão ocupados matando algum zumbi olham também. No meio da fumaça da explosão eu vejo uma silhueta, caminha devagar e um pouco manca talvez, eu não tenho certeza. A voz, a mesma do dia do meu desafio de iniciante, fala diretamente comigo.
-Acha que seus amigos poderão te ajudar? Pense bem Bia, só você pode terminar isso.
A pessoa sai da fumaça, a minha PET vem correndo e tira a minha atenção.
-Seja forte- Ela diz alternando o olhar entre mim e a sombra- Eu consegui isto.
Ela estende para mim uma Glock 45.
-Assim que você o matar isso vai acabar.
E ela sai correndo, eu olho a arma e finalmente olho pra cima. Ele está aqui, não foi só um sonho, eu não estava louca. Vinícius estava aqui. O mesmo Vinícius que eu tinha matado com um tiro na cabeça, o mesmo que perturba meus sonhos desde então, o mesmo que eu pensei ter tentado me afogar ontem á tarde. Eu fico paralisada, a minha cabeça gira, eu sinto que vou cair mas continuo olhando. Ele está parado ali, um pouco mais pálido, com uma cicatriz na testa e as mesmas roupas com que ele estava no dia que morreu.
-Não...
Eu não consigo continuar. Deus, estou perdendo a cabeça. Não é real, não é real, não é real... Ele sorri. Ele sorriu mesmo? Eu estou ficando louca, estou perdendo a cabeça...
-Bia!
Alguém grita o meu nome e eu me viro para olhar, Blast me derruba na areia no momento em que um zumbi me ataca, ele grita, eu grito, o cadáver do menino que eu amava está de pé á poucos metros de mim, ele continua sorrindo. Eu consigo me levantar, o zumbi se arrasta na nossa direção, dois tiros e ele para de se mexer.
-Blast?
Porque ele não levantou° Porque ele não parou de gritar? Porque ele está se contorcendo na areia? Eu coloco a cabeça dele no meu colo.
-Blast!
Ele abre os olhos, me olha por alguns instantes.
-Vai!
Ele diz, mas eu não posso me mexer, estou olhando a ferida no baço dele, ele foi mordido, ele foi mordido, ele foi.
-Bia. Vai!
Eu me levanto, se eu não fosse tão estúpida poderia ter acabado com tudo isso. Se eu não fosse idiota ele não estaria morrendo. Ando na direção do cadáver que continua sorrindo para mim.
-Saudades?
Ele diz, eu dou um passo pra trás.
-Você não é real.
Ele ri, o riso pelo qual uma vez eu fui apaixonada.
-Sou sim amor, bem real.
Ele investe contra mim, eu desvio dos braços que tentam me agarrar.
-Sabe- Ele anda na minha direção- Não foi muito legal o que você fez comigo sabia?- Ele sorri, eu estou andando para trás. Tenho que acabar com isso logo- Atirar em mim daquele jeito? Quanto sangue frio.
Eu o olho, não é ele, não é ele, Jason quer mexer com a minha cabeça, isso tudo não é real.
-Eu fiz bem, poderia ter atirado de novo.
-Então vai lá, atira em mim.
Ele sorri. Para poucos metros na minha frente e estende os braços.
-Mostra pra todo mundo o quanto você é forte, e como já superou. Vai lá, atira em mim de novo. Bem aqui- Ele aponta a cicatriz na testa- Mostra pra você mesma que você não me ama mais.
Ele tem a mesma voz, o mesmo jeito de falar. Eu levanto a arma, ele continua me olhando, nõ consigo olhar para o rosto dele direito, talvez seja a fumaça. Ele ri.
-Você não consegue.
Ele dá um passo na minha direção.
-Conta a verdade vai, você nunca deixou de me amar não é? Aquilo foi um momento de medo e adrenalina, fala pra mim. Fala pra mim que apesar de tudo você ainda preferia estar lá em São Paulo comigo, saindo comigo, ouvindo as palavras que te deixavam bem.
Ele ri. Eu olho no rosto dele, ele não está mentindo, mas eu tampouco sei a verdade. Não sei se preferia estar em São Paulo com ele ou lutando pela minha vida aqui, não sei se estaria feliz lá. Não sei, não sei, não sei...
-Eu te amo Bia.
Eu olho em seus olhos, estão vermelhos, eu podia jurar que estavam sangrando. Não. Ele nunca disse isso com tanta convicção.
-Abaixa essa arma e diz me me ama também.
-Não...
Ele chega mais perto.
-Vamos lá, eu sei que você consegue.
-Não...
-Eu sempre te amei Bia.
Ele está com a testa encostada no cano da arma. Ele sorri, fala aquilo tudo como se fosse verdade, como se nunca tivesse dito antes.
-Mentira!
Eu grito. Há lágrimas nos meus olhos, e eu atiro. Ele caí eu largo a arma e volto correndo. Não ouço, não vejo, não sinto. Sou um corpo vazio, correndo numa praia de areia ensanguentada enquanto explosões derrubam um império que um louco construiu. Eu estou ajoelhada, não enxergo por causa das lágrimas, não escuto por causa das explosões, não sinto por que tudo que fiz foi me manter viva esse tempo todo. Alguém pega a minha mão. Blast está deitado na areia, há sangue na sua roupa, no canto de sua boca e o fundo branco dos olhos está ficando avermelhado. Eu coloco a cabeça dele no meu colo de novo.
-Você vai ficar bem, vai ficar bem...
Perco a voz, não sei se minto para ele, ou para mim. Sei muito bem que em minutos ele vai morrer e depois se levantar e morder o que encontrar pela frente. Sei muito bem disso. Ele sorri.
-Não, não vai.
Eu rio, devo ter perdido tudo o que tinha dentro da cabeça.
-Tudo isso pra você ser mordido. Belo trabalho, Blast.
Eu sorrio, ele também.
-Pedro.
Ele diz.
-O quê?
-Você tinha perguntado o meu nome. Pedro.
Eu sorrio.
-Custava ter me dito antes? Agora está aí, prestes a virar um cadáver ambulante e fica dizendo essas coisas.
Nós dois rimos, ele começa a tossir freneticamente, vira o rosto para o lado quando o sangue começa a sair.
-Eu não tenho muito tempo.
Ele olha pra mim.
-Ninguém tem tempo o bastante. Nós dois sabemos disso.
-Você devia sair daqui, isso tudo vai pelos ares.
-E deixar você aqui pra virar churrasco?
-Melhor um churrasco do que alguma coisa que vai tentar te matar.
-Não fala isso...
-Mas é a verdade! Você tem que ir, anda logo.
Eu começo a chorar de novo, não posso deixar ele aqui.
-Eu só vou te pedir duas coisas.
Eu sorrio.
-As pessoas normais geralmente pedem uma.
Ele sorri.
-Diz logo.
-Primeiro, você vai ter que atirar na minha cabeça quando eu me transformar.
-Não...
-Deixa eu terminar, e segundo...-Ele faz uma pausa pra olhar o meu rosto- me beija de novo?
Eu sou pega de surpresa, sorrio.
-Primeiro de tudo, foi você que me beijou e segundo você acha que é fácil assim?
Ele sorri.
-Qual é? Eu to morrendo...
Mais lágrimas caem enquanto ele tenta falar alguma coisa.
-Você é muito idiota, se não tivesse nesse estado estaria apanhando agora...
-Cala boca e me beija logo!
Ele diz e se levanta um pouco pra chegar mais perto, ele está com os olhos fechados, talvez pela transformação ou pela dor ou por qualquer outro motivo. Eu não quero pensar que ele vai morrer, não quero pensar que não vou mais ouvir as idiotices que ele diz. Não quero pensar, não quero pensar. Nossos lábios se encostam, ficamos assim por um tempo, eu sinto ele sorrir. Estou com os olhos fechados porque quando eu os abrir, ele vai ter que ir embora. Pra sempre. Ele se afasta, vira o rosto pro lado e tosse mais sangue.
-Olha, nunca pensei que antes de morrer eu ia beijar uma menina como você.
Ele sorri.
-O que quer dizer com isso?
-Você é determinada Bia. Matou uns trocentos zumbis pra salvar os seus amigos, e eu sei que você vai conseguir sobreviver, eu sei disso. Se não for você, não vai ser ninguém.
Eu estou chorando de novo.
-É hora Bia. Você vai ter que fazer isso.
Ele sorri. Não entendo como pode sorrir sendo que está prestes a levar um tiro.
-Se esse lance de nascer de novo realmente existir... Eu vou querer te beijar de novo.
Eu sorrio.
-Idiota.
-Vamos lá Bia, eu sei que você consegue.
Eu não aponto a arma, somente olho pra ele, levanto a mão direita e fecho os olhos enquanto meu dedo pressiona o gatilho. Eu choro, não consigo me mover, não consigo falar, nem gritar, nem nada. Só choro e fico de pé. Eu gostaria de poder ter dito alguma coisa inteligente, alguma coisa que o fizesse se sentir melhor, mas não. Tudo o que fiz foi ser encorajada a atirar nele.
-Bia...
Alguém coloca a mão no meu ombro.
-Temos que sair daqui, agora!
Eu não respondo, não consigo ver quem é. Estou encarando o corpo inerte do menino que acabei de matar. Sem tempo, a pessoa me pega no colo, eu enterro a cabeça no ombro de Lucas e choro. Até não poder mais. Um barulho chama a minha atenção, estamos correndo, eu olho para o alto. Há um helicoptero, Doutor Sociopata está nele.
O pesadelo ainda não acabou.