Bem Vindos...

sábado, 21 de julho de 2012

Perto Do Fim parte III

Não fiz mais do que me remexer na cama por mais de uma hora. Resolvi sair e andar um pouco. Estava mais frio do que na noite anterior, o acampamento estava vazio como de costume. Todos os outros jogadores estavam dormindo e eu era a única do lado de fora. Perto do portão estavam alguns guardas. Eu achei melhor não chegar perto, esperei Blast voltar escondida atrás de um arbusto. Passaram-se algumas horas, eu estava encolhida atrás de um arbusto quando Blast colocou a mão no meu ombro.
-Deus!
-Desculpa.
Ele sorriu, eu me levantei esfregando os braços congelados.
-E aí? Como foi?
-Eles aceitaram o plano. Vão acabar com isso tudo durante o desafio.
Eu o abracei.
-Vamos sair daqui finalmente!
Eu olhei seu rosto.
-O que é isso no seu queixo?
Ele deu um passo para trás.
-Não é nada.
-Deixe-me ver.
Eu me aproximei. O queixo dele estava com um ponto roxo, bem perto da boca. Eu passei os dedos por impulso, Blast virou a cabeça.
-Desculpa.
-Sua mão tá gelada.
-Eu estou inteira gelada.
Ele sorriu.
-Então vamos entrar. Eu acho que amanha vai chover, dia de desfio de resistência.
Andamos de volta até a minha barraca.
-É melhor ir contando os dias Ghost, daqui a pouco vamos sair daqui.
-Bia.
-O que disse?
-Meu nome é Bia.
Ele sorriu.
-Bem, então é melhor ir contando os dias Bia.
Ele virou as costas e começou a andar.
-Blast?
Ele se virou.
-Não vai me dizer seu nome?
Eu sorri, ele deu um passo na minha direção.
-Eu não pedi para você dizer o seu.
Ele riu e se virou.
-Blast...
-Diga.
-Pra onde você vai quando sairmos daqui?
Ele ficou em silêncio alguns segundos.
-Não sei. Ainda tenho algum tempo pra pensar nisso.
E saiu andando, entrei na barraca e me cobri com o que tinha ali. Não demorei muito pra adormecer. Pela primeira vez em muito tempo eu não tive um pesadelo, estava na praia das conchas, sentada na areia observando o mar.
-Vamos?
Bast estendeu a mão para mim e me ajudou a levantar.
-Tem certeza de que quer pular? É muito alto!
Ele riu.
-Deixa de ser boba criatura, nada de mal vai acontecer.
Escalamos as pedras no canto da praia para chegar ao penhasco. Era como eu chamava o lugar onde as pedras davam espaço para a imensidão azul. Era mesmo muito alto, todas as vezes que cheguei aqui, desisti na última hora.
-Eu não sei não...
Blast me segurou pelos ombros e me olhou bem nos olhos.
-Olha pra mim, nada de mal vai acontecer está bem? É só um pulo. Vamos lá.
Eu esperei alguns instantes. Cheguei na borda para olhar, não havia pedras lá em baixo, apenas o mar e as ondas.
-Então vamos no três...
Eu me virei mas não encontrei Blast. Não havia nada ali. Me desesperei e comecei a gritar seu nome, ninguém respondia. Não havia nada. Fiz o caminho de volta e escorreguei em uma das pedras, machuquei a perna. Alguém grita atrás de mim, volto para o penhasco a tempo de ver o Doutor Sociopata cortar o pescoço de Blast. Eu mordo o punho, mas ele escuta o grito abafado e se vira para mim, limpando a faca na blusa.
-Uma pena não é mesmo? Primeiro os seus amigos, depois este pequeno impostor aqui... Uma pena.
-O que ele fez pra você!
Eu estou gritando com ele, não posso suportar, todos aqueles perto de mim morrem. Todos morrem, mas Jason faz questão de que eu fique sozinha, seja sua jogadora. Ganhe o seu desafio.
-Ele ia tirar você daqui, assim como os seus amiguinhos. Não posso permitir tal coisa.
Ele passa os dedos pela minha bochecha, eu me afasto.
-Não seja tão dura consigo mesma, acontece que você fez um trato comigo. Eu deixaria seu amiguinho em paz e em troca você seria a minha jogadora.
-Mas você os matou.
-Isso foi antes de fazermos o trato.
-Não há trato algum!
Ele agarrou os meus cabelos e colocou a faca na minha garganta.
-Então há uma ameaça. Colabore ou terei que arranjar outra jogadora.
-Então comece a procurar.
Ele sorriu. Eu dei soquei seu rosto e me afastei. Ele se recuperou e vinha na minha direção, eu andava par trás com cuidado, estava perto da borda.
-Você é a minha jogadora Bia, não há como fugir.
Ele tentou puxar meu braço mas eu puxei de volta, caindo na imensidão azul.
Acordei num salto, meu coração estava tão acelerado que martelava em meus ouvidos. Saí da cabana, garoava em pouco e todos os outros jogadores estavam saindo do acampamento. Eu os segui, eles estavam indo para  Arena.
-"BEM VINDOS APOSTADORES, HOJE TEREMOS UMA PEQUENA MUDANÇA DE PLANO. TODOS OS JOGADORES DEVEM SE APESENTAR PARA O DESAFIO DE RESISTÊNCIA".
A voz eletrônica começava mais um jogo. Encontrei Ky e Bloom no meio do caminho para a Arena.
-O que é esse desafio de resistência?
-É algo bem simples na verdade, você tem que dar conta de um zumbi, cada jogador recebe um.
-Só isso?
Bloom se vira para mim.
-Acontece que você não pode matá-lo. Apenas fugir e não deixar ele te morder, até que só reste você na Arena.
-Nossa.
-É muito disputado, alguns preferem mutilar o zumbi pra que ele fique mais lento e não consiga te perseguir, outros preferem se esconder. E há os burros que preferem deixar o zumbi cansado.
-Isso é loucura!
-Não se preocupe Ghost, capitães de equipe não fazem parte desse jogo.
-Então vocês estão salvos, ninguém me disse nada sobre ser capitã.
Eles olharam para mim.
-Você não viu o comunicado? Apareceu hoje de manhã.
-Não...
-Tiraram  a Darkness Death do comando. Você é a nova co-capitã da equipe azul.
-Nossa.
-Parabéns!
Ky me abraçou e me guiou até uma área onde podíamos sentar e assistir. Não que eu tivesse escolha.
-Já vai começar, as PET's estão entregando as armas. Sabia que você é a única com uma espada? Eu tenho uma faça de caça.
Ky parecia ansioso.
-Bem, na minha estreia era a única opção plausível.
-Plausível?
Eu ri.
-Sim, plausível. A única coisa que seria sensato escolher.
Ele ficou quieto por alguns instantes e resmungou.
-Tenho cara de dicionário?
Eu ri de novo, Bloom me cutucou com o cotovelo.
-Olha só, DD recebeu uma arma nova.
-O que é aquilo?
-Parece um mangual.
Eu olhei para Bloom.
-O que diabos é isso?
-Uma arma medieval, é uma bola de metal com saliências pontudas presa ao cabo por uma corrente.
-Pra mim o nome disso é arma e fim.
Ela riu.
-Era a melhor aluna da classe de história.
-"ATENÇÃO JOGADORES, O JOGO VAI COMEÇAR."
A buzina soou e da areia brotaram pontinhas de metal, depois grades e por fim, cada jogador estava preso em uma gaiola de metal. Eles estavam confusos e irritados, os zumbis eram trazidos em fila, sendo colocados perto de cada gaiola.
-O que diabos...
-Isso nunca aconteceu.
-Parece que alguém quer deixar o jogo um pouco mais difícil.
Eles olharam para mim. A buzina soou, os zumbis entraram. Muitos jogadores foram mordidos pela confusão do momento. Ouvimos os gritos desesperados dos jogadores, os gritos animados dos apostadores, e o som da luta incessante de acontecia á nossa frente. Eu virei o rosto. Ky colocou a mão no meu ombro.
-Não é mesmo uma cena fácil de assistir.
Eu balancei a cabeça positivamente, a chuva aumentou. Eu ficava ensopada e com frio a medida que o jogo acontecia. Apenas alguns jogadores continuavam de pé, eu não me importava em ver as cores, não me importava em ver quais jogadores haviam sobrevivido. Ficamos ali por mais algumas horas, haviam apenas dois jogadores, a chuva continuava nos castigando enquanto os jogadores corriam, pulavam e lutavam por suas vidas. Eu achei que ficaríamos ali pra sempre, num golpe único e certeiro, DD lançou alguma coisa pequena e afiada no garoto da outra gaiola. Ele caiu imóvel. Todos os capitães se levantaram incrédulos a Arena inteira em silêncio diante de uma menina ofegante. Eu estava de boca aberta, nenhum jogador usou tal modo para ganhar. Todos continuavam em silêncio, DD olhava para cada um de nós, parou os olhos furiosos em mim, deu um sorriso malicioso e continuou olhando. Doutor Sociopata começou a bater palmas, a Arena aplaudiu. Eu cruzei os braços, aquela sim era uma menina de baixo nível. Seguimos de volta para o acampamento, já havia anoitecido. Eu estava com tanta fome que poderia comer qualquer coisa e estava com tanta vontade de beber coca-cola que podia ouvir minha mãe dizer "Bebe água Beatriz, isso aí vai te matar." Debaixo da chuva, com frio e incrédulos, o restante de jogadores retornou para o acampamento da equipe azul.
-Parece besteira nos dividir agora.
-Quantos sobraram? Cinco? Éramos 70 jogadores!
-Eu disse que seria um banho de sangue, todos vocês achavam legal viver o sonho gamer de vocês, mas pessoas morriam! Pessoas, não a imagem que voltava segundos depois, seres humanos! A raça que está em extinção, por Deus! Vocês achavam engraçado quando algum companheiro era morto por um zumbi, vocês nem ligavam se ele tinha família ou não!
Eu estava exausta, gritava para todos eles ouvirem,todos os jogadores estavam em um círculo a minha volta, DD deu um passo á frente.
-Belo discurso, mas isso não vende. Entramos aqui por vontade própria, aceitamos as regras, deixamos tudo para trás.
Olhei rapidamente para a adaga na minha cintura, eu poderia matá-la, estaria fazendo um grande favor para todo mundo e estaria me protegendo. Ela não parecia exitar se tivesse a chance de colocar a adaga na minha garganta. Por outro lado, não a mataria assim, sem mais nem menos. Eu tenho princípios, e um caráter que não pretendo perder tão cedo.
-O que foi bonitinha? Sem palavras?
-Não, apenas, analisando as possibilidades.
Ela me observou por um segundo.
-Quais possibilidades?
-Enfiar essa faca na sua garganta agora mesmo, ou calar essa sua maldita boca. Você matou um garoto que nem conhecia! Você foi a única a matar outro jogador, você não percebe? Você é baixa, fria e cruel. Aposto que não tinha nenhum amigo lá fora, por isso se sente tão confortável em matar assim. Você não tem amigos DD, você tem pessoas que tinham medo de você, mas agora acham que você é desprezível, como a vaca gorda e suja que você é.
Ela avançou em mim, agarrou o meu pescoço com as duas mãos e me derrubou na areia, ela gritava nos meus ouvidos. Eu tentava soltar as mãos dela do meu pescoço, ela era forte, mas não tinha técnica nenhuma. Eu prendi suas mãos com as minhas, ela se debatia freneticamente enquanto eu tentava segurar seus braços.
-Quando você vai aprender que eu sou mais forte que você?
Ela continuava se debatendo, eu prendi seus braços em suas costas e coloquei sua cara na areia.
-Fica quieta!
Eu a levantei.
-Eu vou te matar sua pirralha!
Eu chutei a parte de trás dos seus joelhos, ela caiu na areia.
-Tá bom, como se você já não tivesse tentado antes.
Ela resmungou alguma coisa. Dois meninos vieram me ajudar com ela, agarraram seus braços e a levaram para dentro do acampamento, ela gritava e se debatia enquanto eles tentavam acalmá-la. Minha cabeça girava e minha bochecha ardia, ela deve ter me arranhado quando caímos. Ky e Bloom vieram me ajudar.
-Você tá bem?
-Parece pálida...
-Eu estou bem, só cansada.
-Seu rosto tá sangrando.
-Eu já vejo isso.
Me sentei na areia enquanto eles procuravam um pouco de água para mim. Talvez não tivesse sido uma boa ideia ter brigado com DD, agora eu estava acabada, poderia ficar ali sentada contanto que a chuva parasse. O restante dos jogadores se reuniu para comentar a briga, ou fugir da chuva. Meu cabelo pingava na roupa que já estava encharcada.
-Tudo bem?
Eu olhei pra cima.
-Eu quero sair daqui.
Blast sorriu.
-Essa não foi a minha pergunta.
-Eu sei lá, devo estar bem.
-Você tá sangrando.
-É só um arranhão.
-Deixa eu ver isso.
Ele sentou ao meu lado e puxou meu queixo para o lado.
-Tá doendo?
-Não muito.
-Vem comigo.
Ele me ajudou a levantar e andou comigo até o mar, a chuva havia diminuído bastante, mas o mar continuava revolto.
-Acho melhor lavar com a água do mar, vai ajudar bastante.
-Mas a aguá deve estar gelada.
-Você já ta encharcada, não faz diferença.
Ele riu.
-Mesmo assim.
-Então eu pulo com você.
-Pular da onde?
-Lá de cima.
Ele apontou para o penhasco do meu sonho. Eu dei um passo para trás.
-Vamos lá, não acredito que tenha medo de altura.
-Eu não tenho.
-Então qual o problema?
-Nada... Eu só...
-Vamos lá Bia, é só um pulo. Eu já fiz isso várias vezes.
-Tudo bem então.
Ele pegou minha mão e me guiou até o penhasco.
-Só uma dica. Prende bem a respiração, se você gritar engole água.
Ele sorriu eu acenei com a cabeça.
-No três está bem?
Desse vez a fala foi dele. Mas nada aconteceu, ele ainda estava ali. Ainda segurava a minha mão.
-Um...
Eu olhei para o horizonte, onde o céu cinzento se encontrava com a imensidão azul.
-Dois...
Fechei os olhos enquanto dávamos um passo a frente.
-Três.
Uma rajada de vento enfurecido bagunçou meus cabelos enquanto caíamos de encontro ao mar. A água estava gelada, e era fundo. Mais fundo do que eu já me permiti chegar. Com os olhos fechados eu imaginava o que a imensidão azul escondia. Abri os olhos devagar, analisando se o sal não machucava os olhos, ardeu por um instante mas depois eu estava afundando, enterrando os pés na areia e olhando para as pedras á minha frente. Ainda tinha fôlego, nadei até a parede de pedras para ver um pequeno ouriço do mar, tentei pegá-lo nas mãos mas espetei o dedo e me afastei bruscamente. Bati em algo gelado e duro, ao me virar dei de cara com olhos vermelhos, olhos que eu conhecia muito bem. Vinícius estava amarrado por uma corrente á uma pedra, ele tentava arrancar a corrente e me alcançar ao mesmo tempo. Eu gritei, e perdi todo o ar que me restava, engoli a água salgada por engano quando tentava desesperadamente nadar para a superfície. Ele agarrou meu pé, eu não tinha mais ar, não tinha mais nada. Chacoalhei minha perna com força pra tentar me soltar, tentava arranjar um meio de me colocar de volta á superfície. Blast puxou minha mão e me içou de volta a superfície, me puxou para a areia molhada e segurou minha cabeça com as duas mãos. Eu chorava, tossia e tentava entender o que estava acontecendo.
-Bia! Olha pra mim, o que aconteceu....
-Ele... estava lá.
-Ele quem?
Eu tossi várias vezes antes de poder falar outra vez.
-Um menino que eu conhecia.
-Bia.
Ele me forçou olhar pra ele.
-Você enroscou sua perna em algumas algas. Do que você tá falando?
-Eu vi ele, vi os olhos dele.
Eu estava chorando e tossindo outra vez. Blast me abraçou.
-Desculpa, eu não devia ter feito você pular. Vem, eu vou buscar alguma coisa pra você comer enquanto se seca tá legal? Depois tenho uma coisa pra te dizer.
Balancei a cabeça uma vez, deixei que ele me levasse até minha barraca, permiti que ele me desse o único cobertor que tinha para que eu parasse de tremer, ainda não podia acreditar, eu devo estar ficando louca.
-Seus amigos...
Eu o olhei, ainda estava tremendo, podia ser o frio ou a adrenalina. Talvez fossem os dois.
-Deus sua boca está roxa!
Ele me abraçou tão forte que perdi o ar, mas estava mais quente. A chuva havia recomeçado, não seria uma noite fácil.
-O... O que tem meus amigos?
-Vamos explodir a Arena durante o nosso desafio, achei que você devia saber.
-Então seguiram o plano da PET?
-Sim. Vamos preparar tudo hoje a noite, mas os guardas ainda estão por aí. É melhor você não vir.
Eu me afastei.
-Não vir? Não vir... Eles são meus amigos, vão mexer com explosivos e é melhor eu não vir?
-Você é uma gracinha nervosa.
-Cala a boca.
-Viu?
Eu grunhi.
-Posso te fazer uma perguntinha?
Ele sorriu.
-Claro.
-Você por acaso é bipolar? Porque numa hora finge que eu não existo, na outra me beija, numa hora me ignora e agora diz que eu sou uma gracinha?
Ele riu.
-Então você anda pensando no beijo que eu te dei.
-De jeito nenhum!
Ele olhou meus olhos por um instante, eu desviei o olhar.
-Pensa sim.
-Não.
-Então olha pra mim e diz isso.
Eu relutei um pouco em olhar, mas depois o fiz.
-Não pensei.
Ele me analisou por um segundo e se afastou.
-Uma pena.
-Porque?
-Porque eu faria isso de novo.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Narração- Lucas.

Assim que deixamos a cabana, voltamos para a praia.
-Alguém mais conhece essa entrada?
As meninas balançam a cabeça negativamente, eu aperto o volante do Jipe com mais força. Eu deveria ter cuidado dela. Mas a deixei sumir, deixei que a levassem.
-Só a Bia conhecia o caminho, só ela sabia como entrar.
Anne, a menina que se juntou á nós no mercado havia participado mais do que nós. Descobriu a marca de pneus, soube raciocinar direito. Eu só sou um  idiota que deixou que levassem a única menina que me fazia parecer normal depois do que houve.
-----
-Eu não acho isso certo.
Passava da meia noite e eu estava com o pessoal num galpão onde nos reuníamos. Felipe, Diego e Julia estavam comigo.
-O que acha Lucas?
Ela sorri para mim.
-Eu acho que devemos ir em frente, chegamos até aqui podemos ir até o final.
-E a casa vai estar vazia?
-Vai sim.
Júlia senta na capô do carro que vamos usar pra chegar na minha casa de praia.
-Então, vamos?
Felipe está animado, ele nunca fez nada disso antes. É o novato da turma por assim dizer.
-Lucas, você dirige.
Diego jogou as chaves do gol preto que iríamos dirigir. Júlia se levantou e veio ao meu lado.
-Vê se dirige rápido, tá?
Ela sorriu e foi para o banco do carona. Eu entrei e dei a partida, saímos do galpão em direção á estrada. As ruas laterais estavam mal iluminadas e desertas, o que facilitaria a nossa viagem. Estava tudo muito quieto exceto pelo rádio do gol que estava um pouco alto demais. Felipe e Diego cantavam a música no banco de trás. Julia estava com a janela aberta deixando seus cabelos loiros bagunçados com o vento. Eu voltei meus olhos pra estrada, não podia me distrair. Não tenho carteira e estou abusando, manter os olhos no caminho é o mínimo que eu podia fazer. Eu checo os retrovisores, ninguém nos segue, ninguém na rua. Isso é estranho, mas nos ajuda muito. Julia pega a minha mão que estava na marcha. Eu a olho por um segundo.
-Obrigada por levar a gente.
Eu sorrio.
-Não por isso.
Ela ri e me beija na bochecha. Eu sorrio e mudo a marcha. Estou olhando para a rua a minha frente quando algo no retrovisor me chama a atenção. Eu diminuo e continuo olhando pelo retrovisor. Parece ser um homem maltrapilho correndo atrás de outro, eu ignoro por alguns instantes. "Deve ser só algum assalto" mas o homem derruba o outro e começa a atacar ele, se debruça sobre seu corpo enquanto o outro homem rita, se debate e tenta escapar. O homem que o derrubou o morde. Eu me espanto e continuo olhando a cena, Julia grita. Eu olho para frente a bato com o carro na lateral da pista. Eu não vejo nada se não o rosto em pânico da menina que amo. Não sinto nada além do vento que se revolta entre nós e sua mão apertando a minha. Não ouço nada se não os gritos de todos nós. Eu apago. Estou num escuro sem fim, não há carro, não há rodovia, não há gritos nem vento. Apenas eu e o escuro. Minha perna dói, eu enfim abro os olhos. Estou preso pelo cinto no carro, capotamos. Não há mais ninguém acordado, eu toco no braço de Julia, mas ela não se meche. Eu me desespero, tento tirar o cinto mas ele está emperrado. Não há nada para me ajudar. Eu tateio pelo chão do carro procurando pelo canivete do Diego, está em algum lugar por aqui. Eu o acho, corto o cinto e chuto a porta para sair. O carro está destruído. Deixamos um rastro de peças e terra pra todo o lado. Eu me ajoelho e soco o chão. Se eu não tivesse me distraído, se eu tivesse olhado pra estrada. Eu chuto a terra que está manchada de sangue, ouço sirenes. Corro dali. Vou para qualquer lugar.
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-Tem certeza que é por aqui?
Estamos no meio da mata, Gabe acha que esse é o caminho que leva até a praia.
-Eu acho que sim, é a única trilha no sentido do mar que achamos em duas horas. Eu não tenho certeza do caminho, tenho certeza de que o mar é pra lá.
Ele continua andando. Phelipe está conosco. O resto ficou nos carros.
-Estamos andando há mais de meia hora.
Gabe parece cansado. Ele está com um ferimento nas costelas.
-Só mais um pouco.
-Eu acho que é aqui.
Eu olho para Gabe.
-Essa é a praia eu tenho certeza.
Estamos numa clareira, ouço algo parecido com ondas ao fundo.
-Então ela está por aqui, vamos em frente.
Sou surpreendido por alguém que saí detrás de uma árvore. Ela veste um all-star preto de cano alto, um shorts com rebites de ferro pendurados, uma camiseta preta com um pedaço rasgado, a estampa é uma caveira. É a Bia. Ela abraça nós três de uma vez.
-Eu achei que nunca mais veria vocês.
 Nós a soltamos.
-Você achou mesmo que iríamos deixar você sumida?
-Não.
 Ela sorri e nos abraça mais uma vez.
-Então vamos.
 Eu pego sua mão e começo a voltar para dentro da floresta.
-Eu não posso.
 Nós a olhamos.
-Isso aqui é uma loucura, é um jogo doentio que não vai acabar, e eu não quero que continue.
-A gente sabe, mas isso podia ficar pra depois.
 Gabe fala com ela.
-Eles vão me achar de novo, eles sabem que estão aqui. Vão continuar me trazendo até que eu jogue e ganhe.
 Ficamos em silêncio por alguns minutos.
-Tem um cara, parece ser o dono disso aqui, ele quer que eu aceite o desafio, quer que eu jogue conforme suas regras, só assim ele vai me deixar ir.
 A olhamos por alguns instantes, Lucas pega o meu colar de identificação.Eu vejo um colar do exército pendurado em seu pescoço, o nome Ghost está gravado junto com uma estrela preta.
-O que isso quer dizer?
-Quer dizer que eu já estou aqui, e não posso fugir.
-Então o que a gente faz? Não vamos falar para os outros que te achamos e você quis ficar.
-Eu não quero ficar, eu só não quero voltar pra cá nunca mais. Eu tenho que saber o que está rolando aqui, e depois acabar com tudo.
-Quer saber? Então tá. Isso aqui é um jogo multibilionário com apostadores mundiais. O dono disso aqui foi quem criou o vírus, ele vendeu para representantes do mundo inteiro que espalharam a infecção. Novos jogadores são trazidos a cada semana até ter um total de 70 jogadores, e aí começa a batalha de cada equipe até sobrar um só representante que vai aceitar um desafio moldado só para essa pessoa. E o desafiante não tem como vencer.
-Como vocês sabem disso?
-Entramos naquela cabana lá atrás, o cara deixou todos os arquivos abertos.
-Então eu já sei o que fazer. Mas não aqui, não agora, provavelmente os outros acordaram, vão vir me procurar. Me encontrem aqui, quando anoitecer. Pode ser que eu demore um pouco, mas continuem aqui.
-A gente não vai deixar você ficar.
-Vocês tem que deixar, ou isso nunca vai parar.
Eu não quero que ela fique, por mim agarrava ela e a arrastava de volta para o Jipe. Mas ela tem razão, o cara que a sequestrou a quer por um motivo, e ele não vai deixá-la por um preço tão barato assim. Voltamos para a estrada, as meninas nos olham com caras decepcionadas.
-Ela está la.
Elas correm na minha direção furiosas.
-E você a viu?
-Porquê ela não está aqui?
-O que aconteceu?
Eu ergo as mãos.
-Esperem um segundo!
Explico para elas o que a Bia disse, elas entendem. Depois ficam furiosas.
-E como você deixou que ela ficasse?
-Eles vão matar ela!
-E a culpa é sua!
Eu grito.
-EI!
Elas me olham.
-O que vocês queriam que eu fizesse? Amarrasse ela e a trouxesse a força? Ótimo, mas aí eles iriam evá-la de novo. Seja lá o que esse cara quer, é pessoal com a Bia. E eu não posso fazer nada pra ajudar, mas ela tem um plano. Confiem nela. Deus! A gente já achou ela, a parte mais difícil já foi.
Eles ficam em silêncio. Eu sento no capô do Jipe. Gabe vem ao meu lado.
-E o que a gente faz? Espera até meia noite pra depois entrar na floresta?
Eu balanço a cabeça uma vez.
-Ela vai dar um jeito de acabar com essa maluquice, eu confio nela.
-Nós também.
Eles disseram em coro. Ficamos perdidos em conversas paralelas, eu ainda não acreditava que a tinha encontrado e ela quis ficar. Estava visivelmente irritado. Ouvi alguma coisa. Parecia alguém correndo. Chamei Gabe.
-Tá ouvindo isso?
Eu disse a ele.
-Acho que sim. Parecem... Pessoas correndo?
-Pessoas não.
Eu vi alguns zumbis correndo na nossa direção.
-Entrem nos carros!
Mas era tarde demais, eles não vinham apenas da floresta, corriam para nós vindos da estrada, das lojas e sabe-se mais de onde. Estávamos cercados. Eles nos alcançaram no momento em que Anne pulou na caçamba, nem todos estavam nos carros. Eu desci.
-Entrem logo!
Milly e o menino que me deu carona até aqui estavam cercados por um grupo de cinco zumbis. Gabe veio ao meu lado.
-Vamos precisar disso.
Ele me entrega uma arma que pegamos na delegacia.
-Disso também.
Eu alcanço a mala e pego alguns pentes de munições. Corremos para ajudar mas é em vão, os zumbis já estão em cima deles, há sangue espalhado pelo chão. Eu continuo, mesmo depois de ver seus olhos se fechando, mesmo depois de suas mãos caírem ao lado do corpo. Mesmo depois das balas acabarem. É preciso que Gabe me arraste de volta para o Jipe até eu parar, mas eu continuo gritando, continuo me debatendo até estar dentro do carro. Há sangue nas minhas mãos. Há sangue escorrendo pelo meu rosto, eu olho pela janela. Consigo ver as montanhas que limitam a ilha. Esse não é o paraíso que achamos que fosse, não é o ponto seguro que a Bia acreditava. Estávamos enganados, estávamos presos e sem lugar para ir. Eu me preocupei, para onde iríamos depois que tirássemos a Bia de lá?  Cidades grandes eram um suicídio, não podíamos ficar aqui. Para onde iríamos? Paramos o carro alguns metros antes da balsa. Phelipe desceu do carro junto com o resto das pessoas. Anne saiu da Hilux procurando por Milly entre nós. Vi as lágrimas no seus olhos, vi ela morder o punho para não chorar, vi ela correr para a água e gritar. Gabe foi atrás dela, nós encaramos o chão. Eu soquei a grade que protegia as janelas do Jipe. Sentei no asfalto quente e esperamos. Gabe não voltou com Anne até o sol se pôr. Havíamos comido qualquer coisa que pegamos no posto. Anne estava com o casaco de Gabe, o capuz puxado mesmo no sol da tarde, ele a abraçava e ela olhava para o chão. Eu olhei para o lado. Costumava ficar assim com a Julia quando estávamos no colégio.
-O que vamos fazer com a Bia?
Eu olhei para Phelipe.
-Vamos encontrá-la, ouvir o que ela tem pra dizer e tirá-la de la.
-Eu não gosto nem um pouco da ideia que ela tem. Apesar de ter salvado a gente, ela se meteu em encrenca.
A namorada do Phelipe se virou para mim.
-Mas também cometemos erros, a Bia era a única que estava sozinha no hotel, por outro lado, não acho que o sequestrador hesitaria em levar os dois.
Eu concordei.
-Eu sempre disse que deveríamos amarrar ela numa cadeira. A Bia é muito enérgica, nunca tá parada, quando bebe refrigerante na madrugada não há quem aguente.
Eu sorri.
-Então, como medida de prevenção, a gente amarra ela e trás de volta.
Eles riram.
Phelipe olhou para o relógio de pulso.
-Se quisermos chegar á meia noite, temos que ir agora.
Nos levantamos.
-Montem um acampamento aqui. O mais perto da água que conseguirem. Voltamos assim que possível.
Larissa acenou com a cabeça.
-Voltem com ela.
-Não voltaremos de outro jeito.
Eu, Gabe e Phelipe entramos no Jipe. Eram quase meia noite. Eu não estava surpreso, o tempo passa rápido aqui na ilha, como se 24 horas não fossem o bastante. Deixamos o carro na entrada da trilha, apenas o deixamos lá e entramos na floresta. Estava escuro mas ainda dava para ver o sangue, as marcas de mãos, não havia mais corpos, apenas o sangue e as marcas. Me concentrei em olhar para a frente, para os galhos, as folhas, a terra. Nada de sangue. Nada de zumbis. Chegamos na clareira e esperamos, ela não havia chegado. A lua ficaria cheia em alguns dias, havia muitas estrelas no céu.
-Ela ainda não chegou.
Eu olhei para Gabe.
-Ela vai vir.
-Não. Não vai.
Alguém se aproximava de nós, não era a Bia.
-Quem é você?
Eu me levantei.
- Sou amigo dela.
Eu olhei para Gabe. Ele olhou para o menino e acenou com a cabeça para mim.
-Cadê ela.
Ele deu um passo em nossa direção. Estendeu um colar. Era o mesmo colar que ela estava usando naquela manhã. Eu peguei o colar, se ele estava aqui, se a Bia não estava e se um "amigo" dela tinha vindo então ela estava.... Eu soquei o "amigo" dela, ele ajoelhou no chão e me xingou.
-Droga cara! Porque fez isso?
-Cadê ela!
-Tá no acampamento seu maluco! Eles estão vigiando ela, sabem que ela quer fugir.
Ele tirou a terra da roupa e se levantou.
-Eles pegaram ela correndo pela floresta hoje. Tem guardas na entrada do acampamento, ela não poderia vir. Seja lá o que ela sabe Jason está muito interessado nela.
Phelipe veio ao meu lado.
-Jason? Jason Mueller?
-Sim, acho que é isso.
E me virei para Phelipe.
-O que foi?
-Estudei com esse cara. Droga, eu deveria saber.
-Saber o quê?
-Todo o tempo que estudamos juntos, ele era obcecado por zumbis e morte e apocalipses, ele era maluco, escolheu estudar biociência pra ver se tornava tudo aquilo realidade.
-Que maluco.
-E o que isso tudo tem a ver com a Bia.
-Eu não sei.
-Então a gente vai ter que descobrir.
O amigo da Bia limpa a garganta.
-Ela tem um plano.
-Me diga qual é.
-Bom, eu não sei. Isso sabe.
Ele balança o colar para nós. Eu fico sem entender. O amigo da Bia diz PET em voz alta e deixa o colar no chão. Um holograma surge na forma de uma menina loira de franja.
-Saudações, meu nome é PET, sou o Programa de Evoluão Técnica. Estou destinada á jogadora de nome Ghost.
Ela fechou os olhos por um segundo. Ficou em silêncio, Gabe estendeu o braço para tocá-la mas eu disse não com a cabeça. A menina voltou a abrir os olhos, olhou para nós todos.
-Ela deve estar em apuros.
-O que disse?
-Ah, desculpe-me. Esse é uma mensagem de reiniciamento. Todas as vezes que me converto nos chips sou obrigada a reproduzi-la. É um saco.
Ela sorriu. Andou na minha direção e parou á alguns passos. Eu não daria nem 6 anos para a garota.
-Vocês são os amigos da jogadora?
Eu concordei com a cabeça.
-Desculpe, não posso falar o nome dela com outro jogador presente, são as regras, mas enfim. Tenho um plano para vocês.
Sentamos em círculo enquanto escutávamos o plano da garotinha.
-Há uma arena alguns metros antes do mar, ela é cercada de arquibancadas onde os apostadores ficam esperando por seu campeão, um pequeno fato, Ghost, depois de sua estreia onde matou o primeiro zumbi sozinha, está liderando a porcentagem de apostas a seu favor, 78% esperam que ela vença, 12% esperam que um jogador a mate e 10% esperam que ela seja mordida. Enfim, ela faz muito sucesso. Tem uma sala onde o criador esconde explosivos que usa para conter os zumbis quando eles ficam agitados, vocês poderiam pegar algumas caixas, colocar nos portões, nos acampamentos e nas arquibancadas. Os explosivos são detonados por controle de modo que podem explodir ao mesmo tempo. Ela só teria que jogar a final pra poder distrair todos os jogadores e apostadores e o próprio criador. E então vocês explodiriam esse lugar.
-Espera.
Eu me levantei.
-O cara criou você. Porque está nos ajudando?
Ela sorriu e se levantou.
-Acho os humanos fascinantes. Suas emoções, seus instintos. O modo que agem quando são induzidos pelo medo, pela raiva. O criador despreza a humanidade, tanto que criou algo para acabar com ela, eu não gosto dele. A sanidade também é algo que me interessa nos humanos, é tão fácil perdê-la e é algo tão importante.
Ela estala a língua em reprovação.
-Há mais... PET's?
Gabe pergunta. Ela sorri. Sua imagem treme e oito meninas muito parecidas surgem.
-Somos as originais, nove programas que iriam ajudar os jogadores.
-Parecem gêmeas estranhas que vão nos matar.
Elas riem ao mesmo tempo. Eu me assusto.
-Somos gêmeas, mas não vou matar vocês. Pena que minhas irmãs não pensem o mesmo. Eu sou a primeira PET, o criador me fez com uma capacidade mais humana do que as outras, ele queria companhia. Por isso posso fazer minhas irmãs originais aparecerem, as outras não. Mas eu tenho limites como toda máquina. Preciso ser carregada oito horas por dia, como se fosse dormir. Praticar os truques que faço como trazer minhas irmãs aqui, ou me converter para o chip acaba com a minha bateria mais rápido do que seu eu fosse apenas o programa que sou.
Ficamos em silêncio.
-Você acha mesmo que isso vai funcionar? Esse lance dos explosivos?
-Sim. Posso levá-los para a sala agora. Temos quatro dias até a lua cheia. Quatro dias para acabar com essa loucura.
-Eles não podem entrar.
O amigo da Bia se tornou presente de novo.
-Há guardas por todo o acampamento. Eles não conseguiriam sair da floresta.
- O que vamos fazer então?
-Eu posso ir até la e trazer para vocês. Não seria complicado, Jason me dá as chaves de todas as salas do escritório.
Acenamos com a cabeça.
-Se a Bia confia em você, então confiamos também.
-Mas está tarde. Amanha vai ter um desafio. Enquanto ele acontece, posso trazer os explosivos para vocês.
-Que horas?
-Perto do meio dia.
-Estaremos aqui.
Apertamos as mãos. PET se despede e transforma-se outra vez em um colar.
-A propósito, desculpe pelo soco.
Ele sorri.
-Não foi nada.
E ele desaparece na floresta.
-Então, a gente volta?
-Sim. Temos um plano para botar em ação.Voltamos para o Jipe, dirigimos até a balsa e preparamos tudo. Larissa se mostrou uma ótima opção para montar os dispositivos, como médica ela tem mãos delicadas. Anne se ofereceu para carregar os explosivos, as amigas da Bia se ofereceram para ajudar a colocar os explosivos. O Phelipe detonaria as bombas, eu e Gabe tiraríamos a Bia de lá. Estava tudo pronto. Iriamos tirar a Bia de la.

sábado, 7 de julho de 2012

Perto do Fim. Parte II

Eu fiquei parada. Estava em pânico e não podia fazer mais nada.
-Sai daí.
Eu obedeci. Eu estava encharcada, fui deixando um rastro molhado enquanto saía da poça.
-Ora, ora, ora. É bom tê-la aqui sabia disso?
Eu contraí os ombros, estava frio fora da água.
-Vire-se.
Eu obedeci. Darkness Death me revistou e tirou do meu passa-cinto a adaga que tirei da menina do amarelo.
-O que  você quer de mim?
-Você se acha muito esperta não é? Chega agora, dá um kill impressionante no zumbi, ganha a confiança de todos os jogadores á sua volta com apenas um dia aqui. Impressionante.
-Você tem ciúmes?
Ela chuta a dobra de meus joelhos e eu caio na areia em volta da poça.
-Não seja ridícula.
Eu não tento me levantar, quero saber o que ela está planejando.
-Eu sabia que tinha algo diferente em você, Ghost. Mas não sabia que era algo tão...Comprometedor.
-Do que você tá falando?
Ela agarra os meus cabelos molhados e passa a adaga pelo meu pescoço, não chega a cortar. Ela sussurra no meu ouvido.
-Não se faça de tonta. Eu sei o que você tá planejando.
-Eu juro pra você que não sei do que você está falando.
Ela aperta meus cabelos com mais força.
-Você quer tomar o meu lugar.
Ela chuta minhas costas e eu caio de cara da areia. Não consigo respirar, não enxergo. Eu quero muito quebrar a cara dela. Eu me levanto devagar, tudo dói, tudo machuca, minhas costas estalam quando fico ereta.
-E então?
Ela me pergunta, eu tiro um pouco da areia do rosto.
-A única coisa que eu quero desse lugar, é sair daqui.
Ela ri, investe contra mim, a faca passo a poucos centímetros das minhas costelas. Eu prendo o braço dela com o meu, seguro sua outra mão que tenta me socar, ela solta a faca, dou um joelhada em sua barriga e ela caí de joelhos, Chuto a faca para a poça.
-Eu CANSEI de ver as pessoas tentando me matar.
Ela sorri e tenta se levantar, eu coloco o pé em suas costas e a empurro para a areia
-Não, não, não.
-Você acha que vai ganhar assim, Ghost?
-Assim como menina? Eu estava desarmada e você tinha uma faca e minha adaga. Eu te derrubei usando dois braços e um joelho. Do que você está falando?
Eu a deixo se levantar.
-Estou falando- Ela mexe os cabelos para tirar a areia- De você ter Blast na sua mão, para matá-lo no desafio final.
Eu dou um passo para trás. Como assim? O que ela quis dizer? Ela ri.
-Eu sabia! Sabia que tinha razão. Ou o que? Você acha mesmo que as outras equipes vão sobreviver até a lua cheia? Vão sobrar só os melhores, querida. Infelizmente serão eu, você, Blast, Ky, Bloom e o menino do amarelo que ninguém conhece. Só nós restarão. E será a morte súbita mais disputada de todas. O jogo inteiro foi feito para isso. Descobrir o melhor dos melhores e você tá querendo roubar o meu lugar.
-Roubar o seu lugar?
-Nossa como tu é lerda em! Sim, o meu lugar, o meu troféu, o meu prêmio em dinheiro! Tudo isso é meu.
Eu parei um pouco pra pensar. Éramos muito fúteis. O que ela ia fazer com um troféu e um prêmio em dinheiro se não há mais nada no mundo? Se todos os adolescentes aqui vão morrer até que reste o "melhor", tudo isso em cima de adultos retardados que também só ligam para o dinheiro. Estávamos enganados, estávamos sendo controlados pela ganância que nos cercava. Quase não vi quando DD vinha de novo na minha direção com a minha adaga. Eu a soquei bem perto da boca, ela se abaixou, eu dei uma cotovelada nas costas dela e ela caiu. Eu sentei em suas costas enquanto ela comia areia. Lutar com meu irmão havia realmente me dado forma.
-Eu já não disse que estou cansada das pessoas tentarem me matar?
Tirei a adaga das mãos dela e prendi de volta no meu shorts.
-Tudo bem, tá legal, eu me rendo. Parei. Você é melhor que eu na luta. Onde aprendeu a fazer isso?
-Brigava muito com o meu irmão. Agora vem, não confio em você.
Agarrei-a pelo braço e o dobrei para trás formando um V. Parecia doer. Andei com ela de volta para o acampamento, Blast estava nos esperando no portão.
-O que diabos? Ghost... DD, solta ela pelo amor de Deus!
Eu não a soltei.
-Eu prometo que não vou fazer aquilo de novo. Agora me solta.
-Fazer o que?
Eu dobrei o seu braço com mais força ela se ajoelhou.
-Eu não vou tentar te matar! Droga, me solta!
A soltei e atravessei o portão. Prendi o cabelo úmido num coque, as roupas estavam quase secas.
-Ghost... mas o que diabos ela fez pra você?- Ele ajudou DD a se levantar- Temos que encontrar com Jason. Ele quer falar com a gente.
DD olhou para nós dois.
-A gente quem?
-Eu e Ghost.
Ela resmungou alguma coisa e entrou no acampamento. Blast segurou meu cotovelo.
-O que ela fez pra você?
Ele parecia nervoso.
-Ela tentou me matar, duas vezes. Sorte a dela eu não matar ninguém.
Ele me soltou e começou a andar rapidamente. Eu corri atrás dele.
-Ué, voltamos a estaca zero? Eu tento falar alguma coisa e você é grosso comigo?
Eu rio. Ele continua dando passadas rápidas, eu seguro seu braço.
-Dá pra andar mais devagar? Aquela maluca tentou cometer homicídio comigo...
Ele sorriu.
-O que foi? Ela tentou me matar e você fica aí rindo.
-Não, nada. A maioria das pessoas não fala homicídio.
Eu dou uma cotovelada de brincadeira.
-Não sou a maioria das pessoas.
Apostamos corrida até a sala de Jason, eu ganho.
-Não é justo!
-Nada a ver, você caiu porque é burro.
Ele tira a areia dos cabelos.
-Você me empurrou.
-Assim?
Eu o empurro contra a porta do Doutor Sociopata que está fechada. No momento que Blast bate contra a porta ela se abre e nós dois tomamos um susto. Doutor Sociopata nos observa antes de nos convidar a entrar.
-Sentem-se.
Há uma mesa de jantar para oito pessoas. Doutor se senta na ponta, eu e Blast nos sentamos lado a lado.
-Bom, vocês são uma dupla e tanto!
Nos entreolhamos, eu afasto minha cadeira.
-Vimos hoje que vocês dois atuam melhor em dupla, então eu tenho uma proposta pra vocês.
Eu olho desesperada para Blast. Ele acena com a cabeça uma vez.
-Eu proponho um desafio duplo. É de meu conhecimento que os dois desejam deixar o jogo. Então porque não? Eu vou escolhendo os outros jogadores nesta madrugada e no dia de amanha enquanto os dois vão se preparando. O que acham?
Eu estou sem palavras. Isso não pode acontecer, ele não abriria mão tão fácil assim. Blast não espera que eu concorde. Ele daria tudo pra sair daqui.
-Eu aceito, quer dizer, aceitamos. Nós dois. Estamos dentro.
Doutor sorri e entrelaça os dedos.
-Ótimo. Aproveitem o jantar meus caros.
"Porque pode ser o último." Eu jurei que ele falaria isso. Ficamos em silêncio enquanto ele deixava a sala. Asism que a porta se fechou eu avancei em Blast.
-Tá maluco! O que você pensou quando aceitou? Você é doido, eu não acredito que...
Estava segurando a gola da sua roupa, ele me olhou bem nos olhos. Eu o soltei.
-Você é idiota por acaso? Não se aceita assim, sem discutir, sem pensar sem...
Eu grito. Grito com ele, com o Doutor, com a garotinha e com todo mundo. Sento e apoio a cabeça na mesa. Ele coloca a mão nos meus ombros.
-Eu sei. Me desculpa. É que.. Eu daria tudo pra sair daqui e...
-Sair daqui e ir para onde menino? Não há mais nada lá fora. Não tem sua família esperando por você, nem sua namorada, nem ninguém. Apenas zumbis, sangue e uma vida de fugitivo. Não que aqui seja legal. E eu ainda tenho meus amigos. Mas eu não sei pra onde vamos. O nosso lugar seguro virou uma piada. As outras alternativas foram eliminadas. Somos sem-teto numa era onde não há policiais que impeçam invasão á domicílio.
Ele ri.
-Eu não sei pra onde eu vou. Talvez possa virar sem-teto com você.
Eu o olho furiosa.
-Estou brincando!
-Não diga isso nem de brincadeira.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, eu estou comendo algo parecido com cordeiro ou algo assim. não sei. Eu sei que está bom.
-Eu ainda não sou o cara legal?
Eu sorri.
-Não.
Ele riu.
-Eu sou legal!
-Eu não acho isso.
Ele se senta do meu lado e começa a comer.
-Vou fazer você mudar de ideia.
Eu rio.
-Ah é? Nunca! Você nunca vai ser legal.
Eu termino minha comida e o deixo sozinho na sala. Corro de volta para a floresta. Já está anoitecendo e eu tenho muitas perguntas a fazer. Chego no portão. Eu estava me sentindo fraca e cansada, mas agora estou bem. Poderia arrancar esse portão do lugar. Demoro um pouco para ver a pequena silhueta nas sombras da floresta.
-Eu estou aqui.
Sussurro para as sombras. A menina entra ainda mais na floresta. Ela para perto do tronco caído onde eu e Blast treinamos.
-Você precisa fugir.
Eu ando até ela.
-Como?
-Tudo isso é uma armadilha, o jogo, os zumbis, os jogadores. Eles querem você, Bia.
Eu dou um passo pra trás.
-Como vo... Como sabe meu nome?
-Sabemos tudo sobre você, o criador tem muito interesse em você. Sabemos por que.
-Sabemos?
-Eu e minhas irmãs.
Ela treme um pouco como se fosse uma imagem e de repente as outras meninas de vestido branco aparecem.
-Somos o Programa de Evolução Técnica. Ou PET se preferir. Fomos criadas para ajudar os jogadores, e eu estou te ajudando. O criador quer você Bia, ele não está nem aí para os outros jogadores. Todos eles irão morrer esta noite.
Eu dou outro passo para trás.
-Você tem que fugir.
-Me diga como!
Ela e suas irmãs se sentam no tronco.
-Há um meio.
Uma delas fala.
-Você aceitou o desafio e o terá de cumprir.
Outra completa.
-Eu sei que seus amigos vão te encontrar aqui.
-Peça para eles que entrem na sala 304.
-Mande a Arena pelos ares.
Eu parei um pouco pra pensar. A PET que trouxe minha espada se levantou.
-Ou se preferir, fuja agora. Fuja enquanto eles não sabem que você está aqui.
-Mas e vocês?
-Vamos ficar bem.
-Venham comigo.
-Não podemos.
-Não vou deixar vocês aqui.
-Então vamos agora.
Corremos pela floresta. Eu devia encontrar Lucas na clareira. PET voltou a ser a menina somente a menina loira que me trouxe a espada. Eu a coloquei nas minhas costas enquanto corria.
-Eles descobriram!
Eu corro o mais rápido que posso. Não vou me cansar, não posso me cansar. Eu tropeço. PET caí das minhas costas mas me ajuda a levantar, estamos correndo de novo. Ela para. Não está ofegante mas fica tremendo como se fosse uma imagem.
-O que você é?
-Não dá tempo de explicar. Eles estão perto.
Eu olho ao redor. PET treme mais uma vez e se diminui até ficar no formato dos colares de identificação.
-Você podia fazer isso? Podia ter feito isso antes de eu te carregar pela floresta né!
Eu a amarro em meu pulso. Ouço passos, começo a correr de novo. A adaga fica balançando em meu cinto então eu  tiro de lá. Corto minha mão ao tentar tirar um objeto afiado enquanto corro pela floresta. Eu olho ao redor, estou perto da campina. Está escuro e eu não enxergo quase nada. Eu paro, observo o que estou fazendo. Estou correndo, com um colar no pulso, uma adaga ensaguentada na mão e há alguém me perseguindo. Lucas deveria me encontrar aqui, eu sou muito burra. Acabei de fazer o sonho que eu morro se realizar. Eu corro de novo, mas estou me cansando, minhas juntas doem e então eu caio. Alguém está em cima de mim. Eu grito mas ele tapa a minha boca.
-Tá maluca! Fica quieta e deixa que eu cuido disso.
Eu balanço a cabeça uma vez. Blast não deixa eu me levantar.
-Achei ela!
Ele grita, e somos cercados por vários guardas armados. Doutor Sociopata abre caminho por eles. Anda na minha direção. Levanta o meu queixo fazendo-me olhar para ele.
-Pensou que poderia fugir assim?
Eu balanço a cabeça negativamente.
-Que bom que você sabe. Levem-na de volta para o acampamento.
Ele olha para mim.
-Não me faça ter que vigiar você.
Eles me levaram de volta ao acampamento. Eu estava com PET no pulso, assim que ficasse sozinha. Pediria um favor á ela. Blast dispensou os guardas quando saímos da floresta. Ele segurou meu ombro.
-Você tava pensado em quê exatamente.
-Eu tinha que encontrar alguém na floresta.
Ele fica em silêncio por alguns minutos.
-Eles te acharam
-Sim.
Ele me solta e se afasta. Me acompanha até a cabana e se despede. Eu seguro seu braço.
-Por favor.
Ele me olha.
-Vá na campina, chame o nome PET em voz alta. Peça que ela explique aos meninos o plano de fuga dela. Vai dar certo. Eu sei que vai. Por favor, se eu tentar sair de novo eles vão prendê-los. Eu sei que vão.
Ele me abraça.
-Eu vou. Mas você fica me devendo uma.
Ele tira PET do meu pulso e corre de volta para a floresta. Eu tento dormir enquanto penso no que pode acontecer.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

.COMUNICADO.

Oooi gente!
Desculpa de verdade por ter demorado pra postar, eu sei que é mancada da minha parte mas vocês sabem como são as férias. É só dormir e comer e sair e dormir de novo....
Enfim, aqui está outro capítulo pra vocês, comentem, deem suas opiniões, falem comigo por que é super legal quando vocês falam comigo *-* E aproveitem essa história que vocês dizem ser super legal.

Perto Do Fim.

Eu não sabia o que fazer direito. Blast continuava me beijando e eu, bom, eu estava em pânico. Quando uma coisa dessas acontece é normal você ficar sem reação. Eu só estava, confusa na verdade, como? Porque? Minha cabeça rodava com tantas coisas que passavam por ela e, num minuto tudo acabou. Assim que ele se afastou pude perceber o que eu sentia. Incredulidade, na certa. Porque diabos ele e beijou? O que ele tinha na cabeça? Porque ele esta sorrindo desse jeito? Eu me virei e corri, corri o mais rápido que pude para longe dele. Entrei na minha barraca e deitei no saco de dormir, desejando apagar o mais rápido possível. Mas parece que eu ficava apenas me remexendo ali. A cena não saia da minha cabeça, o que aquele menino estava pensando, agindo daquele jeito? Eu fui adormecendo, e aos poucos não me lembrava de nada.
Eu estava na floresta, correndo de algo que me perseguia, na minha mão esquerda uma faca ensanguentada, na direita, um colar militar com o nome Blast gravado. Eu corria tanto que meu peito ardia em fogo, não podia parar. Não podia. Alguém me derrubou, caí de cara na terra e por pouco não bato a cabeça em uma pedra, eu grito por socorro mas a pessoa tapa minha boca. É o fim. A pessoa me vira, mas está escuro demais para vê-la, ela tira de minhas mãos machucadas a faca ensanguentada e sorri por um minuto.
-Parece que você não foi uma boa menina.
A voz masculina diz em reprovação.
Eu esperneio, me remexo toda mas ele está sobre mim, segurando meus pulsos. Eu sei que ele está armado, posso ver a silhueta da adaga em sua cintura. Ele vai me matar porque eu fugi.
-Vamos acabar com isso sim?
As nuvens desaparecem e posso ver o rosto do Doutor Sociopata. Ele retira a adaga do cinto e a ergue de forma dramática, eu fecho os olhos.
-Uma pena eu ter que matar minha melhor jogadora.
Eu posso sentir o esforço que ele faz para não abaixar a faca na minha direção, posso quase ver onde ele quer me acertar.
-Pare com isso.
Outra voz aparece e eu sou obrigada a tentar olhar, mas o Doutor é maior do que eu e não posso ver mais do que uma sombra. O Doutor se levanta, eu observo meu pulso direito onde o colar está amarado. Blast está em pé, atrás do Doutor.
-Ora, vejo que também conseguiu achá-la.
-Sim.
-Então deixe-me terminar, você sabe as regras.
Eu estava olhando para ele, mas ele olhava para o Doutor.
-Deixe que eu faço.
Eu arquejo, ele não poderia.
-Ora ora, que corajoso de sua parte!
Doutor lhe entrega a adaga mas eu estou cansada demais para tentar fugir enquanto isso acontece.
-Levanta.
Ele não olha para mim, está com muita raiva. Eu também estou, confiei nele e ele está prestes a me matar. Eu me levanto, estou mais cansada do que aparento. Minha cabeça está tão cheia que seria melhor que Blast me matasse, assim eu não precisaria me preocupar. Eu o olho, ele apenas sorri.
-Foi bom jogar com você.
Blast estende a mão, mas eu apenas desamarro seu colar. Eu o estendo e deixo o colar em sua mão.
-Obrigado por devolver, sem ele não poderia ganhar o troféu.
Eu estou quieta, ele não merece ouvir o que eu quero falar. Alguém grita meu nome, eu olho em volta mas estão muito longe.
-Ande logo, eles estão chegando.
Blast pensa por um minuto e eu quero muito que ele acabe com isso, não quero que eles me vejam morrer. Eles não iriam suportar.
-Me mate de uma vez!
Eu grito, mas me arrependo porque ouço uma voz familiar. "Por aqui!" Blast sorri e chega um pouco mais perto.
-Foi realmente uma honra, Bia.
E ele me esfaqueia, para acertar o coração, mas seu golpe não é tão preciso e eu caio de joelhos com a adaga cravada no peito. Dói. Dói tanto que lágrimas caem sem meu consentimento. Eles começam a rir. Minha visão escurece, eu estou sem foco. Caio de lado na terra fria, mas talvez eu é que esteja gelada. Blast e o Doutor saem andando no momento em que Lucas me vê. Meu cabelo está no meu rosto de modo que eu não consigo enxergá-lo. Mas sei que ele está ali. Ele grita, e me vira para que possa me olhar, meus olhos querem se fechar para o abismo eterno mas eu me forço a continuar olhando para ele. Lucas tira o meu cabelo do rosto enquanto sussurra alguma coisa.
-Me...Desculpe.
Ele me olha nos olhos mas meu tempo acabou, eu não aguento mais. Eu o vejo gritar pela última vez, e então tudo fica escuro.
Eu acordo sobressaltada com a mão onde a adaga deveria estar. Mas eu estou viva, por enquanto. Saio da barraca e me vejo ainda no amanhecer, não dormi tanto assim. Eu começo a andar e quando me dou conta estou no mesmo lugar do meu sonho. E é bem mais assustador do que no meu sonho. Eu ouço passos e fico alerta, talvez não devesse estar aqui. São passos cautelosos de um caçador, eu me escondo atrás de uma árvore. Alguém se aproxima.
-Eu acho que é aqui.
Eu conheço essa voz.
-Essa é a praia, eu tenho certeza.
Também conheço essa. Eu escuto por mais alguns segundos.
-Então ela esta por aqui, vamos em frente.
Eles estão aqui, eles me acharam. Eu saio de trás da árvore e fico a três passos de Lucas que me olha sem acreditar. Eles ficam em silêncio. Phe, Gabe e Lucas estão bem na minha frente. Eu corro na direção deles, abraço-os sem pensar. Eles me apertam forte e não me soltam por um bom tempo.
-Eu achei que nunca mais veria vocês.
Eles me soltam.
-Você achou mesmo que iríamos deixar você sumida?
-Não.
Eu sorrio e os abraço mais uma vez só pra ter certeza de que estão mesmo aqui.
-Então vamos.
Lucas pega minha mão e começa e e guiar para dentro da floresta. Eu quero ir, quero sair desse inferno mais do que tudo mas algo me impede.
-Eu não posso.
Eles me olham.
-Isso aqui é uma loucura, é um jogo doentio que não vai acabar, e eu não quero que continue.
-A gente sabe, mas isso podia ficar pra depois.
Gabe fala comigo mas estou convencida de que o Doutor vai me perseguir mais vezes, se eu não jogar o jogo dele.
-Eles vão me achar de novo, eles sabem que estão aqui. Vão continuar me trazendo até que eu jogue e ganhe.
Eles ficam quietos.
-Tem um cara, parece ser o dono disso aqui, ele quer que eu aceite o desafio, quer que eu jogue conforme suas regras, só assim ele vai me deixar ir.
Eles me olham por alguns instantes, Lucas pega o meu colar de identificação.
-O que isso quer dizer?
-Quer dizer que eu já estou aqui, e não posso fugir.
-Então o que a gente faz? Não vamos falar para os outros que te achamos e você quis ficar.
-Eu não quero ficar, eu só não quero voltar pra cá nunca mais. Eu tenho que saber o que está rolando aqui, e depois acabar com tudo.
-Quer saber? Então tá. Isso aqui é um jogo multibilionário com apostadores mundiais. O dono disso aqui foi quem criou o vírus, ele vendeu para representantes do mundo inteiro que espalharam a infecção. Novos jogadores são trazidos a cada semana até ter um total de 70 jogadores, e aí começa a batalha de cada equipe até sobrar um só representante que vai aceitar um desafio moldado só para essa pessoa. E o desafiante não tem como vencer.
-Como  vocês sabem disso?
-Entramos naquela cabana lá atrás, o cara deixou todos os arquivos abertos.
-Então eu já sei o que fazer. Mas não aqui, não agora, provavelmente os outros acordaram, vão vir me procurar. Me encontrem aqui, quando anoitecer. Pode ser que eu demore um pouco, mas continuem aqui.
-A gente não vai deixar você ficar.
-Vocês tem que deixar, ou isso nunca vai parar.
Eles me abraçam e eu volto para o acampamento. Tenho que bolar um plano, e tenho que falar com o Doutor. Eu corro para a praia, corro como se estivesse no sonho, em poucos minutos passo pela enfermaria e paro na sala onde recebi minha identificação. E abro a porta assustando o cara que esta ali.
-Preciso falar com...
O cara me olha, esperando.
-Com o homem que me trouxe até aqui.
-O nome dele é Jason, Jason Mueller. E ele está ocupado.
Eu bati as mãos na mesa dele.
-Eu vou falar com ele. Agora!
Ele se levantou.
-Então me acompanhe.
Ele me levou pelos corredores, parou na frente de uma porta. Ele bateu três vezes e eu contei oito batidas de coração até Jason (Doutor) abrir a porta. Ele estava com óculos de leitura, ficou surpreso com a minha presença mas logo me convidou a entrar.
-A que devo a honra de sua presença, Ghost.
Eu fui tão direta que ele deixou seus óculos cairem.
-Quero que você acabe com essa palhaçada. Eu quero sair daqui, quero que meus amigos sobrevivam, não quero ser perseguida até a morte ou acorrentada para não fugir. Eu quero que esse jogo acabe e eu quero que você de um fim nesse apocalipse todo.
Depois de se recompor ele riu.
- Você acha que é fácil assim?  Chegar aqui, exigir coisas impossíveis e ainda esperar um resultado vindo de mim? Eu não vou parar nada. Um vírus como esse já se alastrou até em ilhas desertas. Um jogo como esse custa milhões e milhões de dólares que eu não estou disposto a perder. Você é só uma peça. Facilmente substituível. Facilmente descartada.
Ele se sentou atrás de sua mesa, meticulosamente colocada no centro da sala. Eu era dinamite, e estava prestes a explodir. E ele não ia querer estar perto quando eu explodisse.
-Então eu aceito seu desafio, desde que minhas exigências sejam cumpridas.
Ele sorriu.
-Não é tão fácil quanto você imagina garota.
-Eu estou preparada.
Saí da sala dele com os pés batendo no chão e uma batida tão forte da porta que algumas pessoas olhavam para mim e abriam caminho pelos corredores.
Eu estava de volta no acampamento, estava com tanta raiva que chutei o portão para abri-lo. Me faltava mais um assunto antes de me preocupar com aquele desafio estúpido. Encontrei Blast facilmente, ele me esperava, ou a outro alguém. Ando em sua direção e ele se desencosta da árvore.
-Achei que você ia se esconder de mim.
Eu estou com raiva. Queria socá-lo, queria que seu sangue fizesse uma poça em volta do seu corpo. Eu me controlo.
-Já aceitei o desafio. Mas vou treinar sozinha.
Ele dá um passo em minha direção.
-Sem mim você não vai conseguir.
-É o que vamos ver.
Eu passo por ele, estou com tanta raiva que poderia derrubar a árvore mais próxima. Eu queria encontrar Lucas, queria fugir dali. Mas corria o grande risco de ser raptada de novo. Eu estava andando sem rumo pela floresta. Ouço alguém falar com voz artificial para que os jogadores se apresentem na Arena. Eu vou andando, DD me encontra no portão.
-Boa jogada, iniciante.
Eu ignoro, mas ela permanece do meu lado até chegarmos na Arena. Posso ver Blom e Ky acenarem para mim. Eu podia tirá-los daqui.
A voz artificial começa um comunicado.
-Hoje teremos uma mudança de planos jogadores. Apresento á vocês..A Morte Súbita!
Todos os jogadores começaram a falar, nos jogos, morte súbita poderia ser a eliminação imediata do time em uma competição. Ninguém sabe o que significa aqui.
-Quero que cada equipe escolha três jogadores que melhor os representem. Eles serão os primeiros a jogar.
A equipe azul se reuniu em uma bola de jogadores, todos eles falavam ao mesmo tempo. DD os interrompeu.
-Eu vou. Escolham os outros dois manés que virão comigo.
Eles se olharam pensativos e eu encarei o chão até que tudo ficou em silêncio. eles olhavam para mim.
-Eu?
-É, agora escolhe o outro.
Eu olhei no rosto de cada um dos jogadores no meu círculo, eles estavam com medo, ansiosos e confusos. Havia um único rosto que sorria.
-Blast.
Ele se adiantou em vir ao meu lado. Tinha um sorriso cínico no rosto que me dava vontade de socá-lo até os zumbis terem nojo dele. A voz artificial tornou a falar.
-Jogadores apresentem-se.
Um por um de cada equipe falou seu codi-nome com o peito inchado e tanta certeza que me deu medo. Minha voz era apenas um sussurro.
-Ghost. Equipe Azul.
A voz nos mandou formar um círculo no meio da praia, os outros jogadores deveriam ir para as arquibancadas.
-O que você acha que a gente está fazendo aqui.
Blast sussurrava perto demais do meu ouvido. Eu não o respondi. Quem sabe o que se passa na cabeça do Doutor (Jason). Eu observei os outros jogadores, Ky e Bloom não estavam ali. Se isso de morte súbita fosse algo entre matar os outros jogadores, eu não teria que matá-los.
-Que suas armas sejam entregues.
Surgiram algumas meninas, cabelos cortados á navalha como de meninas japonesas, rostos de boneca e vestidos brancos. Aquilo devia ser brincadeira. A mesma menina que entregou minha espada, a trouxe para mim. Ela me fez abaixar para ouvi-la.
-Isso é uma armadilha. Assim que puder, fuja!
E ela saiu saltitando com as outras garotas-fantasmas. Aquilo me perturbou. Como assim uma armadilha? Pra onde eu deveria fugir? Por que diabos essa menina estava me ajudando?
-Jogadores, eu lhes apresento, A Morte Súbita. Esse desafio consiste em sobreviver á vários ataques de zumbis e fazer com que sua equipe mantenha o mesmo número de integrantes. A equipe que perder um integrante deve se retirar da Arena. A equipe vencedora ganhará um jantar especial. Que comece o jogo!
Nos entreolhamos por alguns segundos, não teríamos que matar as equipes adversárias, mas é claro que DD não pensava assim.
-Tentem matar algum membro de cada um deles, assim sairemos mais rápido.
-Não precisamos matá-los.
DD me olhou.
-Deixe que os zumbis façam isso.
Ela chegou bem perto do meu rosto, era da minha altura, eu encarava seus olhos.
-Pense assim e acabará morta. Vamos acabar com isso.
Eu não irei matá-los, não irei matá-los não irei.... O primeiro zumbi corre em nossa direção, meu primeiro intuito é me afastar, correr para bem longe com a minha espada." Isso é uma armadilha. Assim que puder, fuja!" Eu repassava a frase da garotinha enquanto corria. Mais zumbis, eles nos cercavam e estávamos a pelo menos 3 metros de distância um do outro. Eu não olhava para as outras equipes. Olhava para os zumbis que corriam em nossa direção, estaríamos cercados em poucos minutos. Tentei me afastar, mas a menina da equipe amarela me derruba na areia.
-Você vai ser a primeira a morrer. Ghost.
Ela cuspiu meu nome, tinha em mãos uma adaga muito parecida com a do meu sonho, eu girei meu corpo e agora estava sobre ela.
-Eu não vou te matar, tomara que os zumbis façam isso.
Ele tentava sair de baixo de mim mas eu era mais pesada, segurei seus braços em cima de sua cabeça e olhei para trás no minuto em que um zumbi se jogava na minha direção,  peguei a adaga que caiu do meu lado e me desviei assim que o zumbi caiu na areia. Ele se atrapalhou todo para levantar e eu ainda tinha a garota do amarelo debaixo de mim. O zumbi rastejava na direção da menina, eu me levantei e a chutei a menina do amarelo na barriga.
-Isso é por tentar me matar sua vaca.
E o zumbi mordeu seu pescoço enquanto ela abraçava a barriga. Eu corri com a adaga em uma mão e a espada em outra. Parei com os pulmões em fogo para prender a adaga no passa cinto do meu shorts. Outro zumbi vinha e eu só tive tempo de levantar a espada e cair com o impacto, ele estava preso á uma certa distância de mim e tentava me alcançar com as mãos podres. Eu o chutei com toda a minha força e me levantei rapidamente enquanto ele tentava se levantar, num golpe cortei sua cabeça com a espada. Corri de novo e olhei para a Arena, estava uma confusão só. Humanos brigavam com humanos, zumbis tentavam morder humanos, humanos lutavam com zumbis e a areia da praia das conchas era manchada de vermelho. Eu estava cansada, corri muito, mal comi e estava exausta pela falta de sono. Alguém se aproxima, estou agachada mas ouço os passos surdos na areia, levanto com a espada no pescoço de quem se aproxima. Estou ofegante e Blast também. Ele levanta as mãos em rendição.
-Calma, só vim oferecer uma mão.
Eu tiro a espada.
-Não quero nada de você.
Viro as costas e continuo observando a carnificina á minha frente. Ele coloca a mão no meu ombro, eu me viro e o ameaço com a espada.
-Se eu fosse você pararia com isso.
Ele sorriu e ergueu as mãos. Alguns zumbis corriam em nossa direção, eu vi os corpos inertes dos outros jogadores. Onde estava DD? Os zumbis se aproximavam, eu me preparei. Se eu não os matasse eles iriam me matar, se eu ão os matasse eles iriam me matar... O primeiro zumbi investiu contra mim, eu dei um pulo para a esquerda deixando ele dar de cara com uma árvore, Blast continuou batendo a cabeça dele até ele parar de se mexer. Outros estavam chegando, eu não estava com força para cortar a cabeça deles, então só os parava, fazia um corte nas pernas, ou nos braços ou os deixava presos na lâmina enquanto Blast terminava de matá-los. Eu estava exausta. Uma buzina soou.
-Parabéns á equipe azul! São os vencedores desta noite.
As meninas voltaram para pegar nossas armas, eu estava suja, suada, havia sangue nas minhas mãos e na lâmina da espada. Eu estava passando mal. Me ajoelhei na areia.
-Eu disse para você fugir.
Eu olhei para a menina, ela sinalizou a espada com sua cabeça.
-Pra onde eu vou?
Ela sorriu.
-Eu te ajudo, me encontrei no portão do seu acampamento depois do jantar. Vou te ajudar a sair daqui.
Ela pegou minha espada, nem se importou de manchar o vestido de sangue. Saiu saltitando com as outras meninas. Alguém me levanta, eu estou farta. Exausta, cansada, esgotada de tudo aquilo. Tiro a mão de Blast do meu ombro, percebo que estou com a adaga da menina do amarelo.
-Eu poderia te esfaquear agora mesmo.
Ele sorri.
-Você não faria.
Eu pego a adaga mas o Doutor Sociopata caminha até nós.
-Parabéns meus jogadores, sua equipe será recompensada pelo seu esforço. Vão se limpar, tenho uma proposta para os dois.
Eu não via DD em lugar nenhum, Alguém coloca a mão no meu ombro e eu me viro com a adaga apontada para o peito de DD.
-Nossa, olá pra você também.
Eu sento na areia.
-Qual é? Um joguinho e já está assim?
Ela ri. Eu apoio a cabeça nos joelhos. Fecho os olhos mas só consigo ver os corpos ensanguentados. Eu corro. Estou correndo até a cachoeira. Vou tentar lavar esse sangue de mim. Estou correndo, pulando pedras e desviando de troncos. Essa é a minha praia. O meu paraíso. Olho para o céu azul, olho para o padrão semelhante de árvores. Eu estou perto. Me lembro de quando descobri esse caminho.
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" -Tem certeza de que é por aqui tio? A gente veio do outro lado...
Ele não olha para mim, está procurando alguma coisa no alta das árvores.
-Tá vendo aquela árvore ali?
Ele aponta para uma árvores que é visivelmente mais alta do que as outras.
-Você tem que chegar até ela.
Andamos até a árvore grande, que está bem no meio de duas trilhas.
-Agora a gente vai pra direita. Não esquece, árvore grande depois direita.
Seguimos pela trilha, é mais escuro aqui dentro da floresta. Não há asfalto, mansões ou ricaços tomando champanhe. Eu gosto desse lugar.
-Agora tá vendo aquela pedra ali?
-Parece uma estrela do mar.
-Isso. A gente vai na direção dela.
-Então é árvore grande, direita e estrela do mar?
-Isso Bia, você aprende rápido.
Ele sorri e bagunça meus cabelos molhados por causa do mergulho que nos trouxe para a outra costa da praia. Passamos por cima da pedra estrela do mar e tiramos alguns galhos do caminho. O que eu vi foi impressionante. Era uma cachoeira, a cachoeira da praia. Só que privativa e muito mais legal. Era como uma rua sem saída formada por paredes de pedra e árvores, havia uma grande poça funda de água onde a cachoeira caía. Eu empurrei meu tio lá dentro.
-Pra voltar pra praia é muito simples. É só seguir aquela trilha ali.
Ele apontou para o caminho sinuosos de pedras que havia pouco depois do fim da poça."
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Acho a árvore, vou para a direita, demoro um pouco e acho a pedra que não parece nada com uma estrela do  mar e sim com algo achatado e estranho. Pulo a pedra, tiro alguns galhos e estou de volta ao meu paraíso. Mergulho na poça de roupa e tudo, fico submersa pelo tempo que meus pulmões permitem. Em baixo da água esfrego m pouco de musgo nas roupas para o sangue sair. Eu quero ficar ali pra sempre. Mergulho mais uma vez só para fazer as imagens de hoje sumirem, só para ter mais um pouco de paz. Quando abro os olhos há uma faca apontada para o meu pescoço.