Eu fiquei parada. Estava em pânico e não podia fazer mais nada.
-Sai daí.
Eu obedeci. Eu estava encharcada, fui deixando um rastro molhado enquanto saía da poça.
-Ora, ora, ora. É bom tê-la aqui sabia disso?
Eu contraí os ombros, estava frio fora da água.
-Vire-se.
Eu obedeci. Darkness Death me revistou e tirou do meu passa-cinto a adaga que tirei da menina do amarelo.
-O que você quer de mim?
-Você se acha muito esperta não é? Chega agora, dá um kill impressionante no zumbi, ganha a confiança de todos os jogadores á sua volta com apenas um dia aqui. Impressionante.
-Você tem ciúmes?
Ela chuta a dobra de meus joelhos e eu caio na areia em volta da poça.
-Não seja ridícula.
Eu não tento me levantar, quero saber o que ela está planejando.
-Eu sabia que tinha algo diferente em você, Ghost. Mas não sabia que era algo tão...Comprometedor.
-Do que você tá falando?
Ela agarra os meus cabelos molhados e passa a adaga pelo meu pescoço, não chega a cortar. Ela sussurra no meu ouvido.
-Não se faça de tonta. Eu sei o que você tá planejando.
-Eu juro pra você que não sei do que você está falando.
Ela aperta meus cabelos com mais força.
-Você quer tomar o meu lugar.
Ela chuta minhas costas e eu caio de cara da areia. Não consigo respirar, não enxergo. Eu quero muito quebrar a cara dela. Eu me levanto devagar, tudo dói, tudo machuca, minhas costas estalam quando fico ereta.
-E então?
Ela me pergunta, eu tiro um pouco da areia do rosto.
-A única coisa que eu quero desse lugar, é sair daqui.
Ela ri, investe contra mim, a faca passo a poucos centímetros das minhas costelas. Eu prendo o braço dela com o meu, seguro sua outra mão que tenta me socar, ela solta a faca, dou um joelhada em sua barriga e ela caí de joelhos, Chuto a faca para a poça.
-Eu CANSEI de ver as pessoas tentando me matar.
Ela sorri e tenta se levantar, eu coloco o pé em suas costas e a empurro para a areia
-Não, não, não.
-Você acha que vai ganhar assim, Ghost?
-Assim como menina? Eu estava desarmada e você tinha uma faca e minha adaga. Eu te derrubei usando dois braços e um joelho. Do que você está falando?
Eu a deixo se levantar.
-Estou falando- Ela mexe os cabelos para tirar a areia- De você ter Blast na sua mão, para matá-lo no desafio final.
Eu dou um passo para trás. Como assim? O que ela quis dizer? Ela ri.
-Eu sabia! Sabia que tinha razão. Ou o que? Você acha mesmo que as outras equipes vão sobreviver até a lua cheia? Vão sobrar só os melhores, querida. Infelizmente serão eu, você, Blast, Ky, Bloom e o menino do amarelo que ninguém conhece. Só nós restarão. E será a morte súbita mais disputada de todas. O jogo inteiro foi feito para isso. Descobrir o melhor dos melhores e você tá querendo roubar o meu lugar.
-Roubar o seu lugar?
-Nossa como tu é lerda em! Sim, o meu lugar, o meu troféu, o meu prêmio em dinheiro! Tudo isso é meu.
Eu parei um pouco pra pensar. Éramos muito fúteis. O que ela ia fazer com um troféu e um prêmio em dinheiro se não há mais nada no mundo? Se todos os adolescentes aqui vão morrer até que reste o "melhor", tudo isso em cima de adultos retardados que também só ligam para o dinheiro. Estávamos enganados, estávamos sendo controlados pela ganância que nos cercava. Quase não vi quando DD vinha de novo na minha direção com a minha adaga. Eu a soquei bem perto da boca, ela se abaixou, eu dei uma cotovelada nas costas dela e ela caiu. Eu sentei em suas costas enquanto ela comia areia. Lutar com meu irmão havia realmente me dado forma.
-Eu já não disse que estou cansada das pessoas tentarem me matar?
Tirei a adaga das mãos dela e prendi de volta no meu shorts.
-Tudo bem, tá legal, eu me rendo. Parei. Você é melhor que eu na luta. Onde aprendeu a fazer isso?
-Brigava muito com o meu irmão. Agora vem, não confio em você.
Agarrei-a pelo braço e o dobrei para trás formando um V. Parecia doer. Andei com ela de volta para o acampamento, Blast estava nos esperando no portão.
-O que diabos? Ghost... DD, solta ela pelo amor de Deus!
Eu não a soltei.
-Eu prometo que não vou fazer aquilo de novo. Agora me solta.
-Fazer o que?
Eu dobrei o seu braço com mais força ela se ajoelhou.
-Eu não vou tentar te matar! Droga, me solta!
A soltei e atravessei o portão. Prendi o cabelo úmido num coque, as roupas estavam quase secas.
-Ghost... mas o que diabos ela fez pra você?- Ele ajudou DD a se levantar- Temos que encontrar com Jason. Ele quer falar com a gente.
DD olhou para nós dois.
-A gente quem?
-Eu e Ghost.
Ela resmungou alguma coisa e entrou no acampamento. Blast segurou meu cotovelo.
-O que ela fez pra você?
Ele parecia nervoso.
-Ela tentou me matar, duas vezes. Sorte a dela eu não matar ninguém.
Ele me soltou e começou a andar rapidamente. Eu corri atrás dele.
-Ué, voltamos a estaca zero? Eu tento falar alguma coisa e você é grosso comigo?
Eu rio. Ele continua dando passadas rápidas, eu seguro seu braço.
-Dá pra andar mais devagar? Aquela maluca tentou cometer homicídio comigo...
Ele sorriu.
-O que foi? Ela tentou me matar e você fica aí rindo.
-Não, nada. A maioria das pessoas não fala homicídio.
Eu dou uma cotovelada de brincadeira.
-Não sou a maioria das pessoas.
Apostamos corrida até a sala de Jason, eu ganho.
-Não é justo!
-Nada a ver, você caiu porque é burro.
Ele tira a areia dos cabelos.
-Você me empurrou.
-Assim?
Eu o empurro contra a porta do Doutor Sociopata que está fechada. No momento que Blast bate contra a porta ela se abre e nós dois tomamos um susto. Doutor Sociopata nos observa antes de nos convidar a entrar.
-Sentem-se.
Há uma mesa de jantar para oito pessoas. Doutor se senta na ponta, eu e Blast nos sentamos lado a lado.
-Bom, vocês são uma dupla e tanto!
Nos entreolhamos, eu afasto minha cadeira.
-Vimos hoje que vocês dois atuam melhor em dupla, então eu tenho uma proposta pra vocês.
Eu olho desesperada para Blast. Ele acena com a cabeça uma vez.
-Eu proponho um desafio duplo. É de meu conhecimento que os dois desejam deixar o jogo. Então porque não? Eu vou escolhendo os outros jogadores nesta madrugada e no dia de amanha enquanto os dois vão se preparando. O que acham?
Eu estou sem palavras. Isso não pode acontecer, ele não abriria mão tão fácil assim. Blast não espera que eu concorde. Ele daria tudo pra sair daqui.
-Eu aceito, quer dizer, aceitamos. Nós dois. Estamos dentro.
Doutor sorri e entrelaça os dedos.
-Ótimo. Aproveitem o jantar meus caros.
"Porque pode ser o último." Eu jurei que ele falaria isso. Ficamos em silêncio enquanto ele deixava a sala. Asism que a porta se fechou eu avancei em Blast.
-Tá maluco! O que você pensou quando aceitou? Você é doido, eu não acredito que...
Estava segurando a gola da sua roupa, ele me olhou bem nos olhos. Eu o soltei.
-Você é idiota por acaso? Não se aceita assim, sem discutir, sem pensar sem...
Eu grito. Grito com ele, com o Doutor, com a garotinha e com todo mundo. Sento e apoio a cabeça na mesa. Ele coloca a mão nos meus ombros.
-Eu sei. Me desculpa. É que.. Eu daria tudo pra sair daqui e...
-Sair daqui e ir para onde menino? Não há mais nada lá fora. Não tem sua família esperando por você, nem sua namorada, nem ninguém. Apenas zumbis, sangue e uma vida de fugitivo. Não que aqui seja legal. E eu ainda tenho meus amigos. Mas eu não sei pra onde vamos. O nosso lugar seguro virou uma piada. As outras alternativas foram eliminadas. Somos sem-teto numa era onde não há policiais que impeçam invasão á domicílio.
Ele ri.
-Eu não sei pra onde eu vou. Talvez possa virar sem-teto com você.
Eu o olho furiosa.
-Estou brincando!
-Não diga isso nem de brincadeira.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, eu estou comendo algo parecido com cordeiro ou algo assim. não sei. Eu sei que está bom.
-Eu ainda não sou o cara legal?
Eu sorri.
-Não.
Ele riu.
-Eu sou legal!
-Eu não acho isso.
Ele se senta do meu lado e começa a comer.
-Vou fazer você mudar de ideia.
Eu rio.
-Ah é? Nunca! Você nunca vai ser legal.
Eu termino minha comida e o deixo sozinho na sala. Corro de volta para a floresta. Já está anoitecendo e eu tenho muitas perguntas a fazer. Chego no portão. Eu estava me sentindo fraca e cansada, mas agora estou bem. Poderia arrancar esse portão do lugar. Demoro um pouco para ver a pequena silhueta nas sombras da floresta.
-Eu estou aqui.
Sussurro para as sombras. A menina entra ainda mais na floresta. Ela para perto do tronco caído onde eu e Blast treinamos.
-Você precisa fugir.
Eu ando até ela.
-Como?
-Tudo isso é uma armadilha, o jogo, os zumbis, os jogadores. Eles querem você, Bia.
Eu dou um passo pra trás.
-Como vo... Como sabe meu nome?
-Sabemos tudo sobre você, o criador tem muito interesse em você. Sabemos por que.
-Sabemos?
-Eu e minhas irmãs.
Ela treme um pouco como se fosse uma imagem e de repente as outras meninas de vestido branco aparecem.
-Somos o Programa de Evolução Técnica. Ou PET se preferir. Fomos criadas para ajudar os jogadores, e eu estou te ajudando. O criador quer você Bia, ele não está nem aí para os outros jogadores. Todos eles irão morrer esta noite.
Eu dou outro passo para trás.
-Você tem que fugir.
-Me diga como!
Ela e suas irmãs se sentam no tronco.
-Há um meio.
Uma delas fala.
-Você aceitou o desafio e o terá de cumprir.
Outra completa.
-Eu sei que seus amigos vão te encontrar aqui.
-Peça para eles que entrem na sala 304.
-Mande a Arena pelos ares.
Eu parei um pouco pra pensar. A PET que trouxe minha espada se levantou.
-Ou se preferir, fuja agora. Fuja enquanto eles não sabem que você está aqui.
-Mas e vocês?
-Vamos ficar bem.
-Venham comigo.
-Não podemos.
-Não vou deixar vocês aqui.
-Então vamos agora.
Corremos pela floresta. Eu devia encontrar Lucas na clareira. PET voltou a ser a menina somente a menina loira que me trouxe a espada. Eu a coloquei nas minhas costas enquanto corria.
-Eles descobriram!
Eu corro o mais rápido que posso. Não vou me cansar, não posso me cansar. Eu tropeço. PET caí das minhas costas mas me ajuda a levantar, estamos correndo de novo. Ela para. Não está ofegante mas fica tremendo como se fosse uma imagem.
-O que você é?
-Não dá tempo de explicar. Eles estão perto.
Eu olho ao redor. PET treme mais uma vez e se diminui até ficar no formato dos colares de identificação.
-Você podia fazer isso? Podia ter feito isso antes de eu te carregar pela floresta né!
Eu a amarro em meu pulso. Ouço passos, começo a correr de novo. A adaga fica balançando em meu cinto então eu tiro de lá. Corto minha mão ao tentar tirar um objeto afiado enquanto corro pela floresta. Eu olho ao redor, estou perto da campina. Está escuro e eu não enxergo quase nada. Eu paro, observo o que estou fazendo. Estou correndo, com um colar no pulso, uma adaga ensaguentada na mão e há alguém me perseguindo. Lucas deveria me encontrar aqui, eu sou muito burra. Acabei de fazer o sonho que eu morro se realizar. Eu corro de novo, mas estou me cansando, minhas juntas doem e então eu caio. Alguém está em cima de mim. Eu grito mas ele tapa a minha boca.
-Tá maluca! Fica quieta e deixa que eu cuido disso.
Eu balanço a cabeça uma vez. Blast não deixa eu me levantar.
-Achei ela!
Ele grita, e somos cercados por vários guardas armados. Doutor Sociopata abre caminho por eles. Anda na minha direção. Levanta o meu queixo fazendo-me olhar para ele.
-Pensou que poderia fugir assim?
Eu balanço a cabeça negativamente.
-Que bom que você sabe. Levem-na de volta para o acampamento.
Ele olha para mim.
-Não me faça ter que vigiar você.
Eles me levaram de volta ao acampamento. Eu estava com PET no pulso, assim que ficasse sozinha. Pediria um favor á ela. Blast dispensou os guardas quando saímos da floresta. Ele segurou meu ombro.
-Você tava pensado em quê exatamente.
-Eu tinha que encontrar alguém na floresta.
Ele fica em silêncio por alguns minutos.
-Eles te acharam
-Sim.
Ele me solta e se afasta. Me acompanha até a cabana e se despede. Eu seguro seu braço.
-Por favor.
Ele me olha.
-Vá na campina, chame o nome PET em voz alta. Peça que ela explique aos meninos o plano de fuga dela. Vai dar certo. Eu sei que vai. Por favor, se eu tentar sair de novo eles vão prendê-los. Eu sei que vão.
Ele me abraça.
-Eu vou. Mas você fica me devendo uma.
Ele tira PET do meu pulso e corre de volta para a floresta. Eu tento dormir enquanto penso no que pode acontecer.
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