Bem Vindos...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Compras no Paraíso Sangrento.

O mercado estava deserto, na hora que chegamos eu já percebi que não era uma boa idéia.
-Isso aqui tá muito quieto...
Eu estava mais uma vez em meio as mochilas na caçamba da Hilux. Advinha quem estava me acompanhando? O Lucas, claro.
-Olhá lá.
Ele apontou para a porta de vidro, ou  o que um dia foi uma porta de vidro. Os estilhaços estavam em todo lugar. Havia manchas de sangue no chão e nas paredes mais próximas á entrada.
-Talvez a gente deva ir para outro lugar.
Eu estava olhando ao redor e tentando ver se tinha algum morto-vivo por perto.
-Não dá, o outro mercado fica do outro lado, tirando que o único posto que eu conheço fica á uns 2 Km. daqui, não vamos ter tempo de fazer tudo isso. Eu acho melhor arriscar.
Eu bati na janelinha, coloquei em votação "Ficar e arriscar, ou Ir para outro lugar". Bem, depois da minha linda perfórmace na luta anterior, eu achava que seria melhor ir embora. Mas o pessoal decidiu ficar. Saímos silênciosamente do carro e pegamos alguns carrinhos. Nos dividimos em grupos de duas e três pessoas. A Lala, o Phe e o Lucas estavam encarregados de pegar água e ferramentas de jardinagem, o que em meio ao caos é uma ótima arma. A Iara e a Pammy foram atrás de produtos não-perecíveis. O Colírio e a Jamille foram atrás de coisas que poderiam ser úteis como roupas, panelas, travesseiros... Eu e a Tatz fomos atrás de gostosuras, ou seja, chocolate, bombons, balas de gelatina, coisas desse tipo.
-Porquê você saiu correndo quando voltou da "luta"?
Eu coloquei uma caixa de bombom no carrinho.
- Eu não fiz absolutamente nada lá, fiquei parada de punhos erguidos como uma idiota.
-Você foi inútil? Você? E o que a gente foi? Pelo que eu saiba, eu fiquei parada olhando as ondas, nada que mereça uma medalha. Você encorajou eles á irem, você que criou esse plano maluco pra nos tirar de lá. Você, não que seja fácil de lembrar, mas você levou um TIRO! Um tiro Bia!
-Nathalia...
-Que seja! Mas você é a pessoa mais útil que eu conheço. E acho que essa história de trocar o nome é ridícula. E você sabe que só você acha esse nome bonito.
Eu mostrei a lingua para ela. O carrinho estava cheio de coisas que ainda tinham três meses de validade. Coisas gostosas com três meses de validade. Quando íamos virar para o próximo corredor, nos deparamos com uma cena grotesca. Um zumbi, aparentemente uma mulher, estava se alimentando de uma criancinha, que com sorte já estava morta. Era nojento. Como comer pudim de leite com a cara, eu não digo que parecia um cachorro porque a coisa estava usando as mãos para comer o que tinha dentro da criança, mas ainda assim era nojento. Igual as cenas de filme de terror só que com menos sangue. Eles exageram muito. Eu tentei virar o carrinho mas ele estava imperrado. A coisa ainda estava muito ocupada para noa notar. Eu coloquei toda a minha força pra puxar aquele maldito carrinho, estava começando a ficar apavorada. Eu consegui, o problema foi que o carrinho me empurrou contra a prateleira e ela caiu. O zumbi olhou diretamente para mim.
-Corre Tatz!
Corremos passando direto por vários corredores, eu vía vários zumbis. Entrar aqui foi um erro e eu sabia disso. O último corredor estava vazio.
-Cadê eles?
Eu estava andando devagar agora.
-Eles quem?
-Todo mundo, derrepente ninguém está aqui. Uma hora o lugar está cheio de zumbis e outra não encontramos ninguém.
Eu olhei pra ela, estávamos pensando na mesma coisa. Mais alguns passos para frente e eu ouvi um barulho perto de nós. Bem perto de nós. Eu me virei e a primeira coisa que minhas mãos alcançaram eu ataquei contra o zumbi. A gente estava no corredor de coisas para gardinagem, onde Lala, Phe  e Lucas deveriam estar.
A pazinha que eu joguei não teve muito efeito, o zumbi continuava avançando. Meu cérebro não funcionava direito, eu vía coisas embaçadas. Eu tinha certeza de duas coisas: Eu precisava fazer algo imediatamente e que a Talita não estava fazendo nada.
Eu tateei algumas coisas e encontrei uma pá, não do tipo pequena, mas daquelas que são realmente úteis. Era pesada, mas agora eu já sabia o que fazer.
-Corre Talita, sai do mercado, grita por eles, vai pro carro e me espera lá.
Ela correu. Ótimo, nem pensou duas vezes.
Eulevantei a pá e acertei bem no topo da cabeça do zumbi. Ele caiu, mas não foi forte o bastante. Continuei fazendo a mesma coisa até que ele não se mexeu mais. Legal, minha primeira morte de zumbi. Eu corri com o carrinho procurando por meus amigos, quase atropelei a Talita.
-Não disse pra sair daqui?
-Não achei a saída.
-Anda, vamos achar eles.
Gritar não era algo bom de se fazer mas era a única coisa que podíamos fazer. Continuamos correndo por cinco longos corredores até que os vimos. Encurralados bem na nossa frente. Eu tomei um pouco de impulso e já estava correndo em direção aos zumbis. Nem percebi quando o carrinho acertou eles, nãoos matou mas os deixou bem presos. Iara,Pammy,Jamille,Colírio,Phe e Lucas. Estavam todos ali. O carrinho com as guloseimas teve que ficar para trás, mas o resto conseguímos levar. Tínhamos tudo o que precisávamos para seguir viagem. Assim que descarregamos as coisas dos carrinhos, eu olhei para Talita. Ela sorria para mim.
-Viu? Eu disse que você não era inútil.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A Praia.

Lucas derrubou o primeiro zumbi com muita facilidade, foi estranho. Aliás, o que NÃO era estranho naquele menino? Eu estava um pouco atrás do grupo, a cena ficava um pouco rápida demais para que eu a acompanhasse. Lucas foi para cima de outro zumbi assim que se certificou que o primeiro estava morto. Pammy tinha um pouco de dificuldade para levantar o cano pesado, mas ainda assim estava fazendo um bom trabalho. Lala derrubava os zumbis enquanto o Phe desferia o golpe que os matava, me pergunto se a mão dele não doía, mas no segundo zumbi, ele preferiu usar o chute ao invés de machucar a mão. E eu? Bom, eu fiquei como uma boba de punhos levantados esperando a luta acabar. Sim, eu fui totalmente inútil.
-Com medo?
-Apenas...Despreparada.
-Sei.
Andamos de volta até o carro. "Eu não acredito que não fiz nada. Como eu posso ser tão inútil?Logo eu que tenho tanto treinamento. Não que eu chame bater no meu irmão de treinamento, mas ainda assim."
-Tudo bem?
-Vai ficar.
-Cara! Que luta! Parabéns galera!
-É claro, grande luta, eu vou ali um minuto, sim?
-O que deu nela?
-Não me pergunte cara, não me pergunte.
Eu andei em direção ao mar, não, eu corri em direção á ele. Milhares de coisas vinham á minha mente, meu irmão, minha mãe, meu pai até meu cachorro. Minha casa, minha guitarra, minhas coisas. Meus outros amigos e até o menino que eu gostava.Eu nunca mais os veria. Cada memória que eu tinha agora se transformava em lágrimas de solidão. Não era assim que deveria acontecer. Tarde demais pra pensar nisso garota, eu podia ver meu irmão falando isso pra mim.
Uma mão em meu ombro, graças a deus no ombro bom.
-Não fica assim, você vai ter outras oportunidades de mostrar seus golpes.
Lucas riu.
-Você acha engraçado? A gente vai morrer nessas condições, eu não posso viver dependendo do Phe, ou de alguém que esteja armado. Eu também não posso viver sabendo que deixei eles para trás, eu fui egoísta e achei que seria a viagem entre amigos que eu nunca tive. Eu estava enganada, nunca estive tão enganada assim. E você está achando graça disso tudo? Você poderia ter um pouquinho mais de consideração e...
Ele me abraçou, assim no nada. Nem sei quantos minutos fiquei ali.
-Galera a gente já vai comer, eu queria....Opa, volto depois.
-Não, não.-Uma fungada- Eu, o que vocês querem comer?
-Eu acho que o pessoal vai querer mais do que barras de granola e água.
Jamille riu e depois completou.
-Eles estão falando em dar um pulo em algum mercado, pegar ao menos alguns perecíveis. Só pra sentir o gostinho de novo.
-Por mim tudo bem. Eu quero muito um sanduíche.
Lucas sorriu.
-Por mim, macarrão está ótimo.
-E como vamos cozinhar, esperta?
-Já ouviu falar em panelas e fogueiras?
-Tudo bem, vamos arrumar tudo e depois eu te chamo.
Ela olhou para mim, olhou para o Lucas deu uma risada e depois saiu andando. Estranho. Eu não pude olhar nos olhos dele. Ele tinha acabado de me abraçar, eu estava envergonhada. Passaram-se alguns minutos e já estávamos entrando no carro, discutindo o que seria melhor para o almoço. O mercado não ficava muito longe e não havia zumbis por perto. Eu só percebi que era uma má ideia quando chegamos ao local.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Chegando ao Destino por Caminhos Obscuros.

Eu estava observando o nascer-do-sol, em silêncio como se estivesse o cumprimentando silenciosamente. Depois de alguns minutos eu percebi como estava cansada, não havia dormido direito desde que levei o tiro. Meus olhos estavam pesados e a linda vista estava desaparecendo á medida que eu abraçava meus joelhos e descansava só por alguns minutos.
O sol agora estava mais forte, meu ombro reclamava devido ao esforço, eu apoiei as mãos na areia fofa era uma sensação boa. Minha vista se ajustou á luz do dia, quanto tempo eu havia dormido?
-Olá de novo.
Lucas me deu um susto aparecendo por trás de mim, ele sorriu e estendeu a mão para mim.
-Ah, oi.
Ele conseguiu me levantar apesar de eu estar mais parecendo com um peso morto do que com uma menina de quinze anos.
-Vem, eles estão esperando por você.
-Espera, espera. Você tá sem o capuz, eles vão achar estranho.
Eu ri, foi estranho.
-Não tem graça.
Andamos até o outro lado da Hilux, as portas estavam abertas, Lala, Phe, Iara, Talita, Pammy, Jamille e Colírio estavam cada um com uma caneca nas mãos, alguns estavam comendo algo que pegamos nas lojas antes. Alguns porquê a Talita quase nunca come nada, e  com o quase nunca eu quero dizer quase nunca mesmo. Eu dei a volta pela traseira do carro, me pareceu a cena de um acampamento, algo que eu não havia feito antes dessa loucura começar.
-Bom dia! Vai querer alguma coisa pra comer?
Phe estava abraçado com a Lala, não que eu nunca tivesse os visto assim, mas ainda era algo bonito de se ver.
-Não obrigada, não costumo comer muito de manhã.
Eu sorri. E me encostei na lateral do carro junto com a Jamille e o Colírio. Ele me cutucou com o cotovelo e sussurrou.
-E aí, já descobriu qual é a daquele menino?
-O nome dele é Lucas, ele...
Ela me interrompeu.
-Ele é a sua nova paixonite?
Ela começou a rir, não tinha graça. Não tinha graça nenhuma aquilo, aliás, todas as vezes que as "paixonites" aconteciam, quem perdia era eu. Eu a encarei.
-Não, acho que ele tem um passado problemático demais para mim.
-Qual é? Passado mais problemático que o seu não existe. Você foi fichada, nada supera isso.
A última parte ela falou meio alto. Não que a lista de pessoas que não sabiam dessa pequena parte da minha vida fosse muito grande, mas a maioria estava presente. Como a Lala o Phe a Pammy e o Colírio. O resto fazia parte da lista que sabia dessa parte obscura do meu passado. Como era de se esperar, eles começaram a fazer perguntas.
-Mas como assim,fichada?
-O que foi que você fez?
-Eu sempre achei que seu irmão seria o primeiro a ser envolvido com a polícia.
-Durona em! Aposto que foi barra pesada.
Eu tive que explicar para eles que foi tudo um mal entendido.
-Ah claro, criminosos sempre falam isso.
-Não gente, não é bem assim. Foi realmente um mal entendido, eu estava com uns amigos e eles estavam "aprontando", eles saíram correndo e me deixaram para trás.
Bom, as pessoas que eu não havia contado não precisavam saber que eu estava gostando do cara que estava no meio disso, nem que eu tentei fugir também.
-Tá, mas e aí. Estamos na praia o que fazemos agora?
O "Estamos na praia" que o Phe disse me lembrou de uma pergunta que eu queria fazer para o Lucas, ela teria que ser deixada para mais tarde.
-Sinto lhe informar, mas essa aqui é a praia errada. A gente tem muito chão pela frente.
Eles abaicharam a cabeça. Possivelmente lembrando do que aconteceu ontem.
-Qual o plano então?
Iara estava de pé, junto com a Pammy e a Talita.
-Quanto temos de gasolina?
-Meia garrafa.
Lala me respondeu.
-Mantimentos?
-Dois dias se o Phe não acabar com tudo.
A Talita estava rindo como o resto de nós, tirando o Phe é claro.
-Alguma coisa que a gente precise? Com urgência?
-Além de um carro, poquê eu não aguento mais viajar apertada. um banheiro seria ótimo.
-Concordo.
-Eu também.
-Cara, vocês passaram uma noite no carro e já estão reclamando? Eu passei dois dias inteiros na estrada num celtinha com cinco pessoas, uma delas era o meu primo de dez anos que além de não parar de cantar músicas religiosas e de ter uma voz irritante, ficava arranjando briga de cinco em cinco minutos com o meu irmão.
Eles ficaram quietos  por um momento. Depois alguém berrou. Eu me virei e átras de nós, não muito lonje para a minha surpresa, estavam uns cinco zumbis. ensanguentados e todos esfarrapados. Não que virar um zumbi fosse fácil, mas ainda assim estavam esfarrapados. Sem pensar o Phe sacou a arma. Eu entrei na frente.
-Tá maluco? Sabe o barulho que essa coisa faz? Só vai atrair mais deles para cá.
- E o que a gente faz, entrar num combate corporal?
-Não seria má idéia. Lala, você não estava fazendo um curso de defesa da mulher ou algo assim?
-Defesa pessoal.
-Tanto faz, e você Phe? Não estava lutando alguma coisa na academia?
-Sim, mas...
-Bom, eu não enfrentei brigas com o meu irmão á toa todos esses anos.
-De qualquer jeito, eles estão em cinco e vocês em três, o que planejam, ser mordidos?
-Não, alguém aí tem alguma arma útil que não faça muito barulho?
Pammy tirou do banco traseiro um cano. Perfeito.
-Mais alguém?
Lucas estava com uma barra de ferro na mão, de onde ele tirou aquilo?
-Colírio?
-Sinto que não vou poder participar agora.
Ele riu. Eu não achei graça. De qualquer jeito partimos para a luta. Não. Nós não saímos correndo gritando "Banzai" ou "Iáaa" como nos filmes, aliás, porque eles fazem isso? Nós fomos dando passadas rápidas de encontro com eles. Trinta e oito passos rápidos na areia fofa.
O Lucas estava na frente, estava tomando impulso com a barra antes de acertar na cabeça de um zumbi.
-Isso aqui vai ser fácil.

Relembrando Memórias Parte II

Eu acordei no meio da madrugada, num solavanco. Estavam todos dormindo, menos o Phe, eu acho. Estava nebuloso e o céu cinzento denunciava um dia triste e possivelmente chuvoso. Eu estava novamente deitada sobre as mochilas, o meu ombro doía, mas não insuportavelmente. Meus amigos dormiam e não havia mais nada que eu pudesse fazer se não observar a paisagem. Não estava certo. Não estava nada certo. A gente estava á uns trinta metros do túnel, depois dele qualquer caminho que a gente tomasse levaria para uma paisagem de prédios e comércio, civilização ou coisas assim. mas estávamos na praia, não na rua da praia e sim na areia. Apenas a uns quarenta centímetros do mar, escuro e de águas gélidas. Claro que eu me desesperei, refiz mentalmente o caminho que poderia nos levar até lá. Só havia dois, eu precisava reconhecer a praia para ter certeza. Era como todas as outras, areia clara e mar escuro. Eu tentei olhar além, alguma ilha ou paisagem ao longe. Não era possível.Não. Não podia ser. Três ilhas ao fundo, perfeitamente alinhadas como se fossem uma só. Estávamos na praia da Enseada. Como o Phe poderia saber o caminho? Duas a direita, uma a esquerda, reto e depois á direita no caminho a pé. Era o único que eu conhecia e não havia dito a ninguém. Como ele poderia saber? Um vento gelado me atingiu, eu virei o rosto rapidamente e meus cabelos balançaram me acompanhando. Um rosto se ergueu no retrovisor, eu pude ver pela janelinha meio embaçada. O carro parou e uma porta se abriu. Estava realmente frio, e ontem havia sido um dia típico de verão. Interessante como o tempo pode mudar drásticamente. Eu ouvi passos abafados na areia, talvez o Phe quisesse esticar as pernas um pouco. Mas ele alcançou minha vista, o menino estranho. Ele estava dirigindo o carro. Era esquisito, primeiro a ligação direta e depois dirigindo um carro enquanto todos dormiam. Tudo bem que eu também dirigi, mas isso era totalmente diferente. O menino andou até mim, o rosto encoberto nas sombras do capuz, eu estava começando achar tudo aquilo ridículo, porquê ele não mostrava logo o rosto?  Ele chegou bem perto de mim, eu estava sentada agora- Consegui com um pouco de esforço me endireitar- O menino estendeu a mão para mim, um convite. Eu não entendia porquê ele ficava mudo, de qualquer jeito consegui saltar da caminhonete, eu caminhei até a água, não me importei de molhar o meu all-star favorito. Era um péssimo dia para estar de camiseta sem mangas, mesmo que essa camiseta fosse a sua preferida. Eu parei de andar e fui olhar o mar, parecia deprimente agora. Não só o mar como toda a praia, deserta e fria. Como um pesadelo. O menino ficou ao meu lado, mudo como sempre.
-Porquê você não desiste de bancar o cara mudo e distante e me conta o que está acontecendo?
Toda aquela histórinha estava de deixando irritada.
-Um apocalipse zumbi está acontecendo, isso não é o bastante?
Eu não esperava resposta, sua voz me surpreendeu. Não que eu pudesse descrevê-la ou coisa assim.
-Não, na verdade um acontecimento assim não daria de resultado um cara que anda o tempo todo com um capuz e não fala absolutamente nada, bom até agora.
Ele sorriu e tirou o capuz. Ele era incrivelmente bonito, tá agora parecia que eu estava afim dele sem ao menos o conhecer.
-Meu nome é Lucas.
Ele me estendeu a mão.
-Meu nome é Bia, quero dizer, Nathalia. É Nathalia.
Ele riu.
-Como assim?
-Bom, é uma longa história.
-Acho que temos tempo até eles acordarem.
Eu me afastei da água e me sentei na areia, Lucas me acompanhou.
-Pode começar.
Eu sorri.
-Tudo bem, ahm eu sabia que meus pais nunca ultrapassariam a barricada que os militares fizeram, nem sei como vocês passaram mas emfim, seria bom esquecer de tudo o que eu fiz antes disso tudo começar.
-Como o quê?
-Eu fui fichada dois meses atrás, por porte de bebida e por acompanhar uns babacas.
Ele ficou confuso.
-Tinha um cara que eu estava gostando, mesmo sabendo que não daria certo porque ele tinha dezoito anos e tudo mais, mas mesmo assim eu saí com ele e uns amigos idiotas. No fim,eu estava distraída demais para notar o que eles fizeram, distraída demais até que eu ouvi as sirenes e eles começaram a correr. O garoto que eu gostava estava pulando o muro, eu tentei fazer isso também mas ele soltou minha mão e correu antes que eu pudesse fazer alguma coisa. Os policiais me levaram para a delegacia e eu fui fichada porquê eles estavam apostando corrida e bebendo. Eu nem estava fazendo nenhuma das duas coisas, mas como eu não fiz nada eles me colocaram como cúmplice. Fiquei quatro meses de castigo.
-Você ainda gosta dele?
-Isso não vem ao caso.
-Me fala.
-Eu...Eu não sei, mas porquê você quer saber?
Ele ficou em silêncio alguns minutos e depois falou.
-É que... Eu poderia ter agora alguém que eu gosto, se eu não fosse tão covarde.
-Quer me contar?
-Foi no dia em que isso começou, talvez na noite anterior. Eu estava com uns amigos numa festa e eles queriam dar uma volta, eu tenho que admitir meus amigos não eram boa companhia, mas eu saia com eles em parte para irritar meus pais e em parte porquê uma menina que eu achava estar gostando também andava com eles, foi assim que eu aprendi a dirigir e a fazer ligação direta- Ele sorriu - Mas eu me distraí por um segundo, eles estavam no carro comigo a garota no banco do passageiro e eu estava dirigindo, eu pensei ter visto alguma coisa e virei a cabeça por um segundo. Eu bati na árvore e ela ficou bem ferida, e se eu não tivesse tido tanto medo de ser pego dirigindo que saí correndo e deixei ela lá, o noticiário disse que ela morreu no caminho pro hospital e os dois meninos estavam desacordados na UTI. Com medo denovo eu fugi de casa, acho que meus pais nem perceberam, mas de manhã eu estava metido nesse apocalipse, o único modo foi aceitar e me esconder debaixo do capuz.
O sol estava nascendo, não querendo ignorar a história dele, mas eu estava realizando algo da minha lista-quase-secreta-de-desejos. Quase secreta porquê as meninas sabiam, de qualquer modo eu estava vendo o nascer do sol na praia. Logo eles acordariam e nossa jornada estaria um passo mais perto do verdadeiro início.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Relembrando Memórias.

Eu não sabia ao certo o que aconteceria em seguida,o céu escuro, o sangue em minha camiseta e a dor no meu ombro esquerdo, tão forte que me mantinha acordada, tão forte que não me deixava esquecer da mão gelada sobre meu punho. Havia vozes, quantas delas? Eu estava vendo o céu escuro sobre mim, mas de onde vinham as vozes? Eu ainda as ouvia, não tão lucidamente quanto desejaria estar ouvindo. Elas murmuravam, acima de mim, do meu lado, sussurravam ao meu ouvido, clamavam-me como se eu estivesse perdida, estavam me procurando. A dor aumentou e eu gritei mas não ouve som, isso era realmente estranho. Senti mais mãos sobre mim, no ombro esquerdo, no pescoço, sumia por alguns segundos e depois apertava meu pulso. Seguiu esse padrão por mais ou menos três minutos, se é que eu contei certo. Depois de algum tempo as mãos pararam de me tocar, os múrmuros já não eram ouvidos, eu estava sozinha. Sozinha com o céu escuro e a dor mais lancinante que eu já senti. Estava sozinha até não saber se estava delirando de dor, ou vendo algo mítico de meia-vida. Um inferno particular que estava esperando por esse momento.
Eu despertei, não, não levantei e saí andando como se nada tivesse acontecido. Sim eu estivera alucinando por um longo tempo. Agora eu podia ver, estava deitada no carro, não sobre as mochilas que machucavam as minhas costas, mas sim no banco de trás do carro. Eu tentei alcançar o olhar mais perto da janela, eu via as estrelas, inúmeras estrelas que identificavam um só lugar que eu conhecia nesse mundo. Havíamos chegado ao Guarujá. Eu reconheceria aquele céu em qualquer lugar, foi debaixo dele que eu vi a minha primeira estrela cadente, foi debaixo dele que eu ria, brincava e corria como se não houvesse amanhã, foi debaixo daquele céu que o menino que eu mais gostava me beijou. Eu estava finalmente em casa, não a minha antiga casa, aquela em que eu morava com os meus pais, mas sim a casa em que todos nós tínhamos esperança de ser seguro o bastante para ser a nossa casa, por um bom tempo. Eu não ouvia nada além da minha respiração, estava muito quieto, perturbador até. Eles não seriam burros de me deixar sozinha no carro,seriam? Meu batimento estava acelerando, por algum motivo eu não sentia meu ombro, não sentia o meu lado esquerdo inteiro. Era bizarro. Fiquei no escuro por mais um tempo, estava perdida em lembranças, relembrando memórias. Remexendo em algo útil pelo meu cérebro, encontrei coisas engraçadas, tristes, extremamente depressivas, memórias que me transportavam para um lugar onde eu não estivesse deitada no banco traseiro de um carro, possivelmente drogada para não sentir a dor do meu ombro. Um curto tempo de solidão até que algo se chocou contra o vidro, bem em cima da minha cabeça. Um único som saiu da minha garganta, um som estridente, voraz e terrivelmente desafinado. Um grito agudo que seria ouvido de milhares de quilômetros. Eu gritei por dois motivos: Aquilo me deu um susto desgraçado. E eu me esquivei instintivamente para me afastar, forçando o ombro machucado. Doeu, não mais do que levar o tiro claro. Abriram a minha porta, um sorriso de alivio me saudou. Tatz estava bem ali, o rosto com a clara expressão de alívio no rosto, todo eles estavam com a mesma cara, todos menos o menino estranho de capuz. Tinha algo naquele menino, algo muito curioso sobre ele, eu certamente iria descobrir. O Phe, a Lala, Pammy, Iara, Tatz, o Colírio e a Jamille me ajudaram a sair do carro. Eles estavam na cidade antes da praia, como se fosse uma pequena vila com um túnel. O túnel levava á Enseada, o meu lugar. Todos estavam sentados em círculo com lanternas e comida enlatada que pegamos ainda hoje. Não era certo estar aqui, pequena ou não era uma cidade e pelo modo que os militares reagiram quando ultrapassamos a barreira, a cidade estava infectada. Não tínhamos muito tempo, não depois do berro que eu dei.
-Pessoal, eu acho que seria melhor a gente ir.
Lala veio falar comigo.
-Você vai querer comer primeiro, deve estar muito fraca, perdeu bastante sangue.
-Eu não acho que tenhamos tempo para isso.
Estava tudo em silêncio. Estava porque segundos depois o gemido daquelas coisas nos alcançou. Ficamos paralisados, não havia muito tempo. A gente tinha que fugir. Três minutos, foi o tempo de pegar tudo o que estava espalhado no chão e colocar no carro. Oito minutos, só para tentar me colocar no carro sem que algo provocasse um grito agudo de dor.
-Você vai ter que ir na caçamba. sinto muito.
-Que seja! Só tire a gente daqui.
Na caçamba foi mais fácil, de novo eu não era a única lá. Jamille e o Colírio estavam lá. Dois minutos e o carro ainda não estava ligado. Tinha algo errado, eu já podia vê-los, sentir o cheiro de sangue e podridão que emanava deles. A noite era escura, mas as estrelas iluminavam o chão que estava cinzento. O primeiro a aparecer tinha sido em sua vida um lixeiro. rapidamente reconhecido pela roupa laranja com aquele colete brilhoso. Ele mancava mas parecia determinado para chegar até a sua refeição. Cinco minutos, ainda estávamos parados no lugar.
-Phe! Tira a gente daqui!
Tentei falar controladamente e não muito alto, não queria apressar aquelas coisas.
-A chave está emperrada!
Não tínhamos tempo, eu podia ouvir os passos á quinze metros do carro. Pensei que eles estavam vindo da minha direita. O carro estava parado atravessado na estrada, da minha visão eles vinham da diagonal das casas que rodeavam a rodovia. Mas eu vi, bem atrás da minha amiga, no espaço entre ela e o Colírio. Uma mão ensanguentada tentando agarrar algo comestível.
-Saiam daí!
Apontei com o braço direito até o espaço onde a mão tentava se firmar em algo. "Estamos cercados. Cercados!" Ela gritou. A sede de sangue deles aumentou, começaram a correr, ou a mancar rapidamente.
-Phe!
-Eu sei fazer ligação direta.
- O quê?!
O menino estranho falou pela primeira vez, pelo vidrinho da cabine eu pude ver o Phe lutando para abrir espaço e deixar o menino mexer nos fios. O carro deu a partida, acho que fui a única a ficar boquiaberta. Quatro estavam contentes, dois estavam apavorados e dois estavam distraídos. Eu estava contente que nos salvamos, foi por um fio realmente. Eu dormi a maior parte do caminho, ainda pensando no passado daquele menino. Se eu tivesse pelo menos uma chance, perguntaria á ele. Então eu adormeci, havia sido um dia muito longo.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Um novo começo Parte II

A viagem de volta não demorou muito. O carro estava pesado, mas ainda assim acelerava como um predador, rugindo pela estrada. É uma comparação estranha, eu sei, mas se comparavam carros com animais antes, porque não continuar com isso agora? Bom, eu só sei que depois de alguns minutos e algumas músicas que eu sabia as letras, chegamos onde estávamos parcialmente seguros e escondidos dos militares. -Eu acho que é melhor ficar um pouco atrás.
O Phe parou a Hilux alguns metros da barricada dos militares.
-Algum plano?
Tá, essa é uma pergunta idiota de se fazer para mim. Eu sempre tenho um plano. Ele pode ser idiota, infantil, irresponsável, ele pode não dar certo e ser totalmente inútil, mas ainda assim é um plano.
-Você está mesmo fazendo essa pergunta para mim Iara?
Ela sorriu.
-Tá, eu esqueci. O que vamos fazer?
-É o seguinte. Vai ser idiotice chegar lá com o carro, chamar toda a atenção para nós e nos ferrar completamente com aquelas armas. Então eu pensei o seguinte: Alguém fica no carro esperando um sinal para vir acelerando, tem que ser alguém que manobre muito bem em alta velocidade. Enquanto o carro fica aqui esperando, o "grupo tático" vai pelas árvores ali - eu apontei para a pequena floresta que cercava a rodovia- teremos o elemento surpresa e a arma. Só estaremos ferrados se o Phe for ficar no carro,porque eu nã tenho mira nenhuma, nem sei se o coice dessa arma vai me afetar tanto- Sim, eu sei que a arma dá um recuo depois do disparo, comumente chamado de coice- Não que eu duvide de alguma de vocês, mas acho que ninguém aqui tem medalha de tiro. Bom, é muito simples. Eu e as pessoas que quiserem vir comigo- Lancei um olhar significativo para a Pammy- vamos pelas árvores, chegamos bem perto dos militares e se a minha amiga puder nos ver, vamos voltar com ela pelas árvores sem chamar atenção e saímos muito rápido daqui. Caso contrário teremos que usar poder de fogo e o carro. Eu vou precisar do walkie-talk.
Primeiro eles tentaram discenir meu conflito interno de explicações das instruções do plano, depois eles pensaram consigo mesmos para ver o que era mais sensato.
-Eu vou contigo.
Lala foi a primeira a se resolver.
-Eu sou rápida e posso me esgueirar bem nas árvores, eles nunca vão ver.
-Eu fico no carro, só vou atrapalhar indo nas árvores.Não sou rápida, nem ágil, não me dou bem com a floresta e odeio andar. É melhor eu ficar aqui.
Tatz foi a segunda a me dar uma resposta, agradeço por ser a resposta certa, não que eu não goste que ela vá junto, mas o que ela disse é a pura verdade. Ela não corre, mal sai de casa e prefere aulas entediantes de matemática á uma partida de o que quer que seja na educação física. Sim, uma aula intediante por não correr em uma quadra.
-Eu vou com você.
Iara estava decidida, mas ela também não gosta muito de exercícios complicados como uma trilha ou uma partida de futsal.
-Eu vou.
Essa foi uma resposta que me surpreendeu. Logo depois de tudo o que ela disse sobre voltar para buscar meus amigos e tals Pamella estava se arriscando para salvá-los.
-Então eu vou ficar aqui né!
Não acho que o Phe ficou decepcionado e também não ficou muito alegre. Dependeríamos dele se o primeiro plano não desse certo.
-Tá, eu acho que vou precisar da arma. Lala, você consegue atirar?
Ela se assustou um pouco.
-A...Acho que sim.
-Não querendo pressionar muito mas eu gostaría que você atirasse para matar, nada de tiros no joelho ou no braço. Preferivelmente no peito ou na cabeça mesmo.
Eu sorri, claro que não pretendia, mas eu lembrei de um filme onde a mulher não conseguia atirar porque ficava soluçando. Era besteira claro, mas me pareceu divertido praticar tiros como naquele filme.
-Acho que lido com isso.
Saímos do carro em direção ao pedágio. Eu estava na frente, a Lala estava logo atrás de mim seguidos da Iara e da Pammy. Não estávamos muito distantes umas das outras, mas ainda assim parecia cena de filme de terror, só faltavam uma noite escura como breu, um assasino maluco nos perseguindo e uma trilha sonora de puro rock. Agora estávamos perto, a trilha não era muito longa e estava bem ao lado da rodovia, só que as árvores faziam um tipo de paredão verde e cheio de musgo. Um passo cauteloso para frente e eu ecsutei uma voz.
-Senhor, acho que temos um problema.
-Você ACHA soldado?
-Sim senhor. Acho que há um carro parado logo ali perto do pedágio senhor.
-Não existe achismo no exército soldado. Agora volte já para o seu posto.
Então ouvi passos ficando distantes.
-Vamos.
Eu sussurrei para as meninas. Mais alguns passos e eu já podia ver algo preto e grande que parecia com um carro. Depois de tantas noites acordada em frente ao computador com um brilho exagerado eu acabei perdendo um pouco da visão o que é irônico porque eu ainda consigo ver a companhia aérea de um avião que está no céu, mas não enchergo o texto da professora á algumas carteiras de mim.
Eu enviei uma mensagem, seria tolice aparecer ali no asfalto como alguém dizendo " Ah, oi, não se incomodem eu só vou ali buscar a minha a miga e já volto, e desculpa por aquela hora que eu fugi quando vocês queriam me matar tá?" Por favor, eu sou um pouco louca e infantil, mas isso seria muito idiota.
"Gordinha eu to aqui, vc consegue me ver? Não sai dai."
Eu enviei, graças a Deus ainda tínhamos sinal. Eu peguei o walkie-talk para informar o Phe.
-Phe?
-To aqui.
-Eu enviei uma mensagem pra minha amiga, fica de olho nos militares. Me avisa qualquer coisa.
-Pode deixar.
A resposta da Jamille veio assim que eu desliguei o walkie-talk.
"A gente tá dentro do carro, cade vc eu não to te vendo."
-Lala, tem algum espelho aí?
-Acho que sim, porque?
-Você já viu um programa onde o cara sobrevive as mais variadas coisas? Eu aprendi a fazer um sinal com um espelho.
-Tá não é preciso ver esse programa pra usar o reflexo do espelho.
Querendo ou não eu tive essa idéia do programa, mas a Lala e a Tatz jáforam em acampamentos, sabem as regras de sobrevivência e sabem como sobreviver na selva, eu não.
Assim que a Lala me entregou o espelho eu enviei uma mensagem pra Jamille ficar de olho nas árvores á esquerda dela. Usei o reflexo para atingir o carro e acho que funcionou, pena que não possa ficar muito tempo. Assim como eu vejo o reflexo, os militares também vêem, e isso não é nada bom. Mas funcionou, ela viu e me mandou uma mensagem.
" Eu te vi, e agr o que a gente faz?"
-Iara? Posso te pedir um favor?
Ela me olhou como quem diz" Tá brincando né!"
-Claro Bih!
-Vê pra mim onde os militares estão e se eles ainda estão de olho no carro. Por favor.
Ela se abaichou e chegou bem perto da rodovia, olhou para os lados e depois se levantou.
-Cara! Eles estão joganto cartas, no meio da estrada.
- Não tem nenhum olhando pra lá?
-Não. Eles nem desconfiam.
-Isso vai ser fácil.
Eu mandei outra mensagem.
"Pega as suas coisas e vem rápido pelas árvores. A gente se encontra aqui."
Eu fiquei de olho no carro, eles saíram por trás. Eles porque estavam a Jamille, e mais dois meninos que eu destingui como o meu amigo que a gente chama de Colírio e o Vinicius que é amigo dele e nosso também. Peguei o walkie-talk.
"Phe, se prepara eles estão vindo."
"Já to pronto."
"Que rápido, fica esperto."
Mais algum tempo e eu podia ouvir passos apressados e típicas reclamações da minha amiga.
-Cara isso aqui é horrível.
-Quer ajuda?
Esse era o colírio. Eu não pude evitar sorrir. Logo eu podia vê-los. A Jamille como sempre de shorts e regata, estava de tênis e tinha uma mochila nas costas. O colírio estava do lado dela de calça camisa e o boné. Atrás deles tinha alguém de capuz e calça jeans. Eu não consegui reconhecer.
-Tá todo mundo bem?
Eu estava sussurrando.
-Bia! Aí que bom que você está aqui...
Eu tive que tapar a boca dela porque ela estava falando muito alto.
-Deixa que a gente se cumprimenta depois, primeiro eu gostaría de sair daqui.
A gente voltou um pouco mais rápido, eu tropecei algumas vezes e aposto que meu cabelo deve estar cheio de folhas. O garoto que estava de capuz não falou nada desde que chegou, ele parecia estranho. Eu tinha certeza que não o conhecia, mas eu também não havia visto o rosto dele. Estávamos em fila, Lala, Iara, Jamille, Colirio, Eu e o menino estranho. A caminhada de volta foi um pouco mais demorada, ainda estávamos na floresta. Eu tropecei de novo e o menino passou por mim, eu achei grosseiro da parte dele, mas acho que isso só iria nos atrasar. Finalmente chegamos no carro, o Phe estava de costas para a bade militar. Eu esperei eles se acomodarem no carro e infelizmente o espaço que me sobrou foi na caçamba da Hilux, bem na frente do menino e rodeada por mochilas. Estava tudo quieto, até que o Phe ligou o carro e por algum motivo ele disparou o alarme, não demorou até ouvirmos os gritos dos militares.
-Quebra do perímetro!
-Abrir fogo!
O Phe estava acelerando, mas os militares tinham motos, e estavm quase perto demais de nós. Eu cometi o erro de ficar sentada, falando pra todo mundo se abaixar. Foi quando eu ouvi um disparo bem perto de nós, e tudo começou a ficar em câmera lenta. Como a cena principal de um filme de ação. Só que eu estava caindo sobre as mochilas, olhando o céu azul. O primeiro depois de semanas de chuva. Até aí eu não sentia a dor, mas era bem pior do que todos os machucados que eu já fiz, da vez que eu fiz a proesa de andar de skate e cair logo depois, quase perdi a perna naquele dia. Foi bem mais doloroso do que a minha mãe passando água oxigenada nos machucados. Eu ainda estava olhando pro céu, mas agora ele estava ficando escuro, eu podia ver sangue na minha camiseta favorita, eu podia sentir meu corpo se rendendo á dor. Quando meu tio descreveu como era levar um tiro, eu não imaginei que fosse assim, escuro e deprimente. Eu não tinha adormecido ou desmaiado mas provavelmente estava viajando. O céu escuro já não importava mais as malas que machucavam minhas costas eram irrelevantes, a dor no meu ombro já não era mais sentida. O menino de capuz estava muito perto de mim, segurando o meu pulso olhando para mim. E mesmo assim eu não via o seu rosto que estava encoberto pelas sombras. Eu não conseguia parar de pensar em quem era aquele garoto.