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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Little Things

Não vi o garoto com a moto nem Lucy o caminho todo até o acampamento. Ótimo Bia, deixou a garotinha com um moleque e ela vai acabar matando a pobre da garotinha. Estacionei o Jipe Logo atrás da Picape, abri a porta e saltei para fora do carro, com a mão no ombro que estava doendo.
-O que você vai fazer?
Ouvi alguém dizer antes de ser derrubada no chão, Lucas estava em cima de mim, prendendo os meus dois braços, me deixando indefesa.
-Porque trouxe a gente de volta pra cá? Eu deixei bem claro que iríamos ficar lá na maldita cidade.
Ele disse, visivelmente alterado, o que diabos aconteceu com o Lucas?
-Sai de cima de mim!
Eu gritei tentando respirar, ele estava totalmente em cima de mim.
-Você já era, não tem como continuar mandando aqui, eu disse que iríamos ficar na cidade e é o que vamos fazer.
Eu comecei a rir, involuntariamente, é claro.
-Você... Ah claro!.... Só porque você disse... Deus do céu... Sai de cima de mim agora!
Eu estava rindo e gritando e acho que ele não ouviu uma palavra além dos risos, o que o deixou bem irritado. Suas duas mãos foram até o meu pescoço, apertando com força.
Qual é! Eles vão deixar ele me estrangular assim, de boa? Cadê o Phe pra me ajudar? Ou o Gabe? Eu arranhava as costas de suas mãos, minhas unhas haviam crescido muito nesses meses. Lucas parecia não notar que suas mãos sangravam e que eu mal conseguia enxergá-lo. Continuava me contorcendo, tentando sair de baixo dele, mas ele era mais forte e mais pesado, me pegou de surpresa e agora colocava toda a mágoa e a raiva nas mãos que me sufocavam. Aos poucos, minha visão turva foi escurecendo,um som de motocicleta invadiu minha mente e eu já não via nada, não sentia nada. Era apenas escuridão.
Narração- Autor.
Phe viu que o garoto mais novo andava a passos pesados na direção do Jipe amarelo.
-O que você vai fazer?
Ele perguntou mas o garoto passou por ele, indo na direção da Bia que saiu do Jipe segurando o ombro que havia machucado uns tantos meses atrás. As meninas tiravam as coisas do carro enquanto Tatz tagarelava sobre os vestidos que achou,sem mostrar nenhum. Eles não viram quando Lucas derrubou a Bia, já estavam longe, montando a cabana. Escutaram os gritos da Bia, mas entre os dois, eram socos e gritos, sempre. Continuaram seu trabalho até ouvirem que ele gritava também, levantaram-se rapidamente, mas chegaram enquanto Bia arranhava as mãos de Lucas, que estava em cima dela. Eles viram os pés da amiga se contorcendo e se debatendo, na vasta esperança de conseguir sair. Nenhum deles conseguiu processar a cena, uma moto chegou ao local, nela, um garoto vestido de motoqueiro com uma garotinha de garupa, ele saltou da moto deixando a garotinha confusa sentada lá, o garoto recém chegado nem tirou o capacete antes de agarrar Lucas pela camisa e o jogar para longe como se ele não pesasse mais do que um saco de batatas. O garoto se ajoelhou ao lado do corpo inerte de Bia e tirou o capacete, jogando-o para qualquer lugar. Aproximou o ouvido da boca da garota e começou a fazer uma massagem cardíaca. Lala correu para ajudar, quando viu que a amiga não se mexia mais.
-Eu não sinto o pulso.
Murmurou enquanto fazia a contagem.
-Não.NãoNão.
Disse desesperada enquanto tentava reanimar o corpo.
-Espera!
O garoto disse segurando o mão da Bia, que parecia um pouco mais pálida do ponto de vista dos garotos. Eles se reuniram numa rodinha, em volta do garoto novo, do corpo de Bia e da Lala. Todos observavam atentamente, alguns com lágrimas nos olhos, outros desviando o olhar. Anne foi a primeira a sair, andando com os olhos marejados em direção á Lucas que estava se levantando, apoiando-se na picape. Ela não pensou duas vezes, desferiu-lhe um soco certeiro no canto da boca, sentiu a pancada um pouco forte demais, gritou um "Babaca!" Antes de sair chacoalhando a mão. Puxou Gabe para longe e deixou que ele a abraçasse. Os dois com seus próprios pensamentos, temendo pela garota estranha, que estava metida em mais confusões que Gabe, que nunca foi muito de seguir regras, mesmo prometendo para Anne que mudaria por ela. Mas a garota nunca demonstrou interesse. Os dois temiam pela baixinha que salvara-lhes a vida, deu-lhes uma família e confiou em todos, mesmo que eles nunca tenham confiado nela. Tatz tirou Pammy e Iara de lá antes que Lala anunciasse que Bia estava morta. Ela não pode. Não pode! É a Bia! A louca que bolou um plano idiota uns anos atrás, que salvara-lhes a vida umas trocentas vezes, mesmo não sendo no modo literal, era a Bia! A garota que acreditava em horas iguais, que fazia pedidos para estrelas cadentes, que sorria de um jeito estranho quando a olhavam, que contava segredos e os guardava como se fossem a sua vida. E ela era tão nova! Só de pensar que elas nunca mais discutiriam sobre Talita ser uma bruxa, sobre filmes ridículos de terror e fantasias de Halloween. Era a garota mandona e teimosa que arrastava as amigas até a piscina, era a garota chata e cheia de manias estranhas que conquistou todos ali. Phe tentou afastar Lala do corpo da Bia, mas ela o empurrou e continuou fazendo a contagem. Ela não pode morrer, não pode, não pode...
Phe se abaixou ao lado da namorada e a olhou por um momento enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto.
-Ela não vai morrer Phe...
Ela murmurou enquanto pegava a mão de Bia. O garoto da moto, observava a cena com uma certa dor no coração, havia visto a mãe e o pai morrerem para protegê-lo. Mas nunca viu uma garota da idade dela, morrer por um idiota como aquele. Ah, como ele queria acabar com a raça do desgraçado que fez isso com ela, ele olhou para o lado e sorriu ao ver que o garoto se levantava limpando a boca que estava suja. Ora, alguém teve a ideia primeiro. Ele estava com a mão apoiada na barrigada da garota que estava deitada no chão, sem querer é claro, deixou a mão ali quando foi chamar atenção da outra garota que parecia ser médica. Ele estava surpresa por ser um grupo tão grande, esperava que fosse só a garota e a menininha, Lucy.
Lucy olhou a cena de longe, sem entender nada. Aliás, não entendia mais nada desde que se perdeu dos seus pais uns meses atrás, achou a cidade por acaso e ficou lá, muito bem obrigada, até que a garota chegasse e a ajudasse. Sentia pena da menina, ela parecia ser legal, mas não tinha um futuro muito bom, percebeu isso pelas várias cicatrizes que a garota possuía, vários cortes, um machicado no ombro e estava com as mãos todas cortadas, sem falar nos machucados nos joelhos e nas pernas.
O garoto da moto sentiu a barriga da menina subir em um único movimento para buscar ar, ele se levantou rapidamente, chamando a atenção de Lala e Phe que estavam pedindo á quem quer que ouvisse, para a amiga não morrer.
Lala encostou o ouvido no peito de Bia e ouviu um fraco "tum-tum" do coração da amiga. Sorriu e tentou fazer com que ela acordasse, sem sucesso, pediu para Phe que chamasse Gabe para ajudá-lo a achar algum lugar para deixá-la descansar. Ela estava viva afinal! Não há luta que essa garota não ganhe.
Narração- Bia.
Era tudo escuridão, eu só conseguia pensar em quanto eu queria socar a cara do Lucas, e como eu acabaria com ele quando acordasse. Mas porque eu não acordava, quer dizer, eu conseguia pensar. Parecia que eu estava amarrada num quarto muito muito escuro, mas eu conseguia pensar. Não via, ouvia,sentia ou fazia qualquer outra coisa, só pensava.
Pensava em como eu cresci nesse tempo que estive com meus amigos. Me tornei responsável por eles, liderei eles contra um apocalipse zumbi, perdi alguns, o que me deixou abalada por um tempo. Mas estou de volta, porque não consigo abrir os olhos, será que estou morrendo? Tem vezes que parece que estou dormindo sem sonhar, é apenas escuridão e silêncio, mas aí eu voltava a pensar. O que diabos está acontecendo? Eu só sabia de pequenas coisas que consegui reunir.
1. Eu era foda pra caralho por ser uma adolescente no meio do apocalipse zumbi, que venceu um jogo de malucos, levou um tiro, atirou em trocentas coisas, foi sequestrada, matou uma louca, beijou um menino que estava morrendo, chorou, manteve todos vivos e se perdeu por um momento, mas estava de volta.
2. O meu ombro doía pra caramba quando eu "acordava" e ele nunca havia doido assim, parece que eu estou levando pequenos choques, o que é bizarro.
3.Eu deveria ter arrebentado a cara do Lucas quando tive a chance.
4.Não faço a mínima ideia de como vou ser responsável por Lucy.
5. Tenho que tirar aquele garoto daqui antes que me cause problemas.
6.Alguém poderia ter a boa vontade de me acordar.
Narração- Larissa Beulke.
Certo, ela estava respirando. Bem fraco,mas respirando. O que já era um milagre. Colocamos ela na barraca, mas Lucas fez questão de arrastar todos nós para a cidade de novo. Quer saber? Esse pirralho tá começando a me encher, foi ele que quase matou a Bia, talvez eu devesse quase matá-lo também.
Lucas insistiu em colocar a Bia na delegacia, não tínhamos nenhum outro lugar, o que não foi má ideia porque era reservado e eu tinha espaço para trabalhar. Andei olhando o corpo da Bia pra ver se ela não tinha batido a cabeça quando caiu, O Phe disse que o Lucas tinha a derrubado, provavelmente.
Além de um monte de machucados novos, havia um corte bem pequeno no ombro, bem na incisão que eu tinha feito pra tirar a bala do ombro da Bia, achei aquilo estranho, mas relevei. A Bia era toda estranha.
Falando em estranhos, uma garotinha pequenininha chegou no dia em que a Bia quase morreu. Na hora ninguém tava pensando direito mas, QUEM DIABOS É AQUELA MENINA E COMO ELA CHEGOU LÁ?
 A garota não fala quase nada e a Tatz disse que ela tem cara de psicopata, eu concordei.
A Bia não acordava há um bom tempo, eu estava lendo uma revista velha quando Gabe entrou na cela em que estávamos.
-Nada ainda?
-Ela não acorda faz tempo, estou preocupada. Como está lá fora?
-Ela vai conseguir, não há ninguém mais forte que essa aí- Ele sorriu e depois fechou a cara.- Aquele moleque precisa de uma lição, quase matou Anne hoje numa "Missão".
Ele fez aspas e puxou uma cadeira.
-Eu to achando que ele quer dominar essa cidade. A gente acabou com metade da munição e gasolina, sem falar que a tempestade tá rolando há mais de meia hora e ele não tá nem aí.
Eu suspiro, esse garoto tem problemas.
-Larissa?
Eu levanto os olhos e o encaro.
-Lembra aquele dia, que a Bia falou que viu algo na floresta?
-Lembro.
-Ela não estava mentindo, tem alguma coisa lá. Eu vi outro jipe militar saindo de lá.
-O que isso quer dizer?
Eu pergunto.
-Até que se prove o contrário, temos inimigos bem organizados.
Ele diz e se cala, encarando a Bia por um instante.
-Já parou pra pensar.... Se ela não acordar?
Ele pergunta e me pega de surpresa, eu jogo a revista na mesa.
-Ela vai.
-Eu sei- ele suspira- o que eu to dizendo, é que ela sofreu pra caramba. Bem mais que nós todos, o que é  bizarro pra uma menina da idade dela, mas e se.... Inconscientemente, ela estiver desistindo? Você mesma disse que ela está respirando mais devagar, chegou a ficar mais fria e... Eu sei lá, vai que ela, mesmo sem perceber, esteja desistindo?
Ele diz e volta a olhar pra ela. Realmente isso seria possível mas... NÃO! Ela vai acordar, vai levantar daí e encher a cara do Lucas de porrada.
-Bom, eu vou dar mais uma olhada nos nossos "Amigos", vou levar Anne comigo, qualquer coisa, use o walkie-talk.
Ele jogou um para mim enquanto saía.

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