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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Back To The Game

Eu decidi dormir na cabana esta noite, claro, eu dormia na cabana todas as noites, mas em uma extensão que montaram para mim, era apenas uma parte pequena fechada por um pedaço de pano que garantia a minha privacidade, eu era vigiada por duas pessoas todas as noites.
Quando eu entrei, todos os olhares se voltaram para mim. Eu apenas dei de ombros e peguei um saco de dormir, posicionando-o estrategicamente do lado de Anne e Gabe. Todo mundo ainda estava em silêncio então eu me virei e disse num tom de voz que todos iriam escutar.
-Que isso gente, não é porque eu estou aqui que o assunto tem que morrer, eu em!
Eles, lentamente, voltaram a conversar.
-Ah, antes que eu me esqueça. Ninguém precisa ficar acordado me vigiando essa noite, falou?
Eu disse e me cobri, dormindo logo em seguida.
Não sei o que me fez sonhar com aquilo, talvez fosse a nova descoberta que vi na floresta, ou o vento forte que quase derrubava a cabana. Mas eu sonhei que estava na floresta, não sei em qual, mas estava frio e eu estava machucada e correndo. O vento bagunçava meus cabelos e atrapalhava a minha visão. Droga! Eu pensei quando tropecei em algo, tentei ficar de pé mas meu tornozelo doía muito. Que ótimo! Me virei e tentei dar um grito quando vi no que tropecei, mas o horror era tanto que minhas cordas vocais congelaram.
Bem ali no chão, eu havia tropeçado no corpo de um dos meus amigos, olhando em volta o corpo de todos eles estava no chão. Um por um, eles abriram os olhos escarlate e começaram a se levantar, eu estava sentada no chão, me arrastando para trás, o vento embaçava minha visão junto com as lágrimas que caíam, quando um deles chegou mais perto eu senti uma mão no meu ombro direito e soltei um grito abafado.

Gabe estava olhando para mim com uma cara preocupada, eu estava sentada, com as costas encostadas no pano em uma extremidade da cabana, por sorte, eu estava á poucos metros do meu colchão.
-Eu...acordei alguém?
Ele balançou a cabeça negativamente, não estava tão escuro.
-O que houve?
Ele perguntou baixinho.
-Um sonho ruim, eu... Tenho que dar uma volta.
Eu me levantei e ele fez o mesmo.
-Onde vai?
Eu perguntei.
-Também preciso sair, eu vou com você e aí você aproveita pra me contar com o que sonhou.
-Eu não sei se quero lembrar.
Ele deu de ombros e pegou o meu pulso, me guiando por entre os corpos inertes dos meus amigos. Do lado de fora, a aurora ganhava vida no horizonte.
-É bonito não é?
Ele perguntou enquanto caminhávamos.
-Muito. Teve um que foi mais bonito que esse, quando estávamos acampados perto daquele riacho, sabe? O céu ficou todo colorido.
Ele riu.
-O que foi?
-O pessoal achava que você tava doidinha, me mandaram vigiar você naquela noite. Eu achei que você estava tendo outra crise de sonambulismo e te segui, você sentou perto do riacho e ficou lá um tempão vendo o céu. Aí eu me toquei que você tava acordada e... chorando.
Ele disse e olhou pra baixo.
-Você contou pra alguém?
Ele me encarou.
-Não, acho que o que quer que tenha acontecido aqui- ele bateu duas vezes o indicador na minha cabeça- afetou aqui- ele apontou para o meu coração- e eu não tenho o direito de sair espalhando. Anne me contou sobre o cemitério, ela sabia que desde aquele dia você estava melhor, eu achei muito bonito o que você escreveu.
"Estive com vocês por pouco ou muito tempo. Mas vocês estarão comigo, até que meu coração  pare de bater."
-Obrigada.

Eu disse com a voz num sufoco, ainda doía não tê-los por perto. Gabe me abraçou por um instante e depois soltou.
-Ahn, eu tinha que sair por um motivo e... Peraí que eu já volto.
Ele disse e foi até a floresta. Não pude deixar de rir ao perceber o que ele queria fazer.
-Porque está rindo sozinha?
A voz soou tão perto do meu ouvido que me arrepiei inteira, mas quando me virei, não havia ninguém.
-O que diabos....
-Falando sozinha agora?
Era uma voz feminina, eu estava ficando com raiva.
-E é da sua conta?
Eu respondi no mesmo tom irônico. Ela riu.
-Olha só, falando com o vento, seus amigos tem razão. Você está maluquinha.
Outra risada. Deus, como eu estava com raiva. E a voz estava tão perto, e não havia ninguém. Quando estava prestes a ir atrás do barulho, Gabe voltou.
-O que houve?
-Eu ouvi... Deixa pra lá.
Todos já estavam duvidando da minha sanidade. "Estou ouvindo uma voz de garota e estou com muita vontade de arrebentar a cara dela, mas ela não está aqui." Não iria me ajudar.
-O que você ouviu?
Ele continuou, eu suspirei.
-Vocês já tem motivos o suficiente pra me achar maluca, não precisam de mais um.
Eu dei as costas para ele.
-Vai me contar?
Ele se colocou ao meu lado.
-Pense bem no que vai dizer, bonitinha.
-Escutou isso?
Pera, foi ele que perguntou? Gabe me encarou e eu sacudi a cabeça para clarear a mente.
-Que estranho...
Ele continuou e eu percebi que foi ele que perguntou, mas interpretou o meu gesto errado.
-Você também ouviu?
-Ouvi.
-Eu não estou maluca.
-Ou estamos os dois. O que diabos foi aquilo?
-Era uma voz de menina, falou comigo três vezes contando essa.
-Desde quando?
-Desde que você foi naquela direção- eu apontei para onde ele tinha ido- e depois parou quando você voltou, e voltou quando eu pensei em te contar.
-Muito estranho.
-Devemos nos preocupar?
Eu perguntei encarando-o mas ele olhava para os lados.
-Muito.
Gabe queria acordar todos para contar sobre a "voz" mas eu o impedi.
-Tá doido? Eles vão nos crucificar se dissermos que eu ouvi vozes.
-Nós ouvimos vozes.
-Estão achando que você está tão louco quanto eu.
Ele deu de ombros e continuou andando, a voz estranha deu mais uma risada e depois desapareceu por completo. Quando eu entrei, todos estavam recolhendo as coisas. Gabe estava com Anne, os dois estavam conversando num canto distante. Lala e Phe estavam rindo enquanto tentavam dobrar um saco de dormir, mas não estava dando certo. A Tatz, a Pammy e a Iara estavam carregando algumas caixas para fora da cabana. Elas passaram em silêncio por mim. A Jamille juntava algumas coisas e eu me aproximei dela.
-O que está fazendo?
Eu disse.
-Arrumando isso daqui. Precisamos sair antes que a tempestade chegue.
-Quer ajuda?
-Claro.
Ajudei-a a empacotar alguns utensílios de comida, coloquei tudo na picape e olhei pra ela.
-Como conseguimos tanto combustível depois de tanto tempo?
Eu perguntei.
-Passamos por muitos postos de gasolina, e haviam muitos carros abandonados pelo caminho, temos um estoque pra durar três meses.
Ela disse dando de ombros. Ficamos em silêncio por um tempo, o pessoal começou a entrar nos carros.
-Bia?
Ela disse virando de costas enquanto entrava no Jipe. Eu a olhei.
-É bom tê-la de volta.
Nós duas sorrimos e ela entrou, o Jipe saiu na frente enquanto o resto do pessoal entrava na picape.
-Cuidado bonitinha, amigos não duram pra sempre.
Aquela voz insuportável se pronunciou mais uma vez. Eu subi na caçamba da picape e observei enquanto mais um acampamento sumia. O caminho sinuoso até a estrada foi mais difícil porque uma chuva começou a cair, me ensopando e deixando o terreno enlameado. Quem quer que estivesse dirigindo, estava tendo o cuidado de não me sujar com lama. O caminho silencioso pela estrada foi mais fácil, avançamos os quilômetros enquanto a chuva caía. Avistei uma placa, não pude lê-la muito bem mas era mais ou menos:

Be... Indos... Salvatore. Pop... -1000.
Alguma pessoa com um bom senso de humor havia pintado o sinal negativo com tinta spray preta. Me lembrei que essa era a cidade pequena situada bem no meio de cidades grandes, comecei a ficar aflita e piorei quando paramos os carros no meio da praça da cidade. Eu pulei da caçamba e fui andando até o Jipe, onde Lucas estava saindo do banco do motorista.
-Depois que for devorado, eu vou ter o enorme prazer em te dizer que eu te avisei.
Eu disse e virei as costas, ouvi ele bufar.
-É o seguinte, Anne e Gabe, vocês vão procurar por armas junto comigo e com o Phelipe, numa delegacia que fica aqui perto. Vocês, meninas, vão procurar por comida naquela região ali-ele apontou para uma rua- e você- ele apontou para mim- fique bem aqui e não cause problemas.
E eles saíram andando, o que me deixou profundamente irritada, pelo menos tiveram a decência de deixar uma pistola e um pente de munição em cima do capô do carro. Me sentei no capô e fiquei observando a cidade. Devia ter sido um lugarzinho bem legal. Pacato, com as ruas organizadas. Seria legal viver aqui. Eu estava olhando para uma loja de vestidos para alugar, me lembrei de ter dito para a Lala que seria a madrinha do casamento dela. Caminhei lentamente até a loja, olhando constantemente para os lados e para trás, vendo se ninguém estaria precisando de mim. As portas estavam inteiras então entrei, quando abri a porta, um barulho de sino encheu o lugar. Esperei com a arma carregada, mas nada aconteceu. Dei de ombros e fui andando pela loja, achei rapidamente a seção de casamentos. Eu estava sozinha na loja, comecei a pegar um monte de vestidos e coloquei-os nos manequins, para vê-los melhor. Havia um, o mais bonito, era tomara que caia, com detalhes em pedrinhas logo abaixo dos seios, tinha um corte assimétrico, era um pouco mais curto na frente e tinha uma cauda não tão cumprida atrás. Peguei aquele e pensei que o noivo também precisava de algo decente para vestir. Andei com o vestido em mãos até a área de smokings, lembrei que o Phe não é muito de usar traje social, então escolhi uma camisa branca e uma gravata preta, acho que ninguém se importaria se o noivo se casasse de jeans. Corri até a parte dos sapatos e peguei uma sandália branca para a Lala e um sapato social para o Phe. E já que eu estava organizando tudo, porque não algo legal pra mim? Deixei tudo em cima do balcão da frente da loja e voltei lá pra dentro. Demorei um pouco para achar um vestido azul, até os joelhos, com alças que caíam nos ombros para mim. Ficou bem legal. Voltei andando até o balcão e senti um arrepio na espinha. Reparei que não havia nada quebrado na loja, nenhuma marca de sangue, nenhum vidro quebrado. Apenas pó e o som da minha respiração. Assustada, peguei tudo e voltei correndo para o carro. Deixei as roupas no banco de trás da picape e corri até uma loja de departamentos esportivos, que se encontrava no mesmo estado da outra loja. Algumas teias de aranha a mais.
-Que estranho.
Resmunguei comigo mesma e forcei a de correr para entrar, o cheiro de lugar fechado invadiu minhas narinas, corri até a parte de calçados e peguei alguns pares para experimentar. Escolhi um all-star branco e um preto para mim. Peguei camisetas de corrida para todo mundo, junto com uma mala de tamanho médio e estava quase saindo quando encarei uma prateleira com bolas de futebol, seria bom jogar uma partida pra variar. Calcei o all-star preto e abandonei meu próprio par de sapatos na loja, corri até a prateleira com as bolas e peguei uma, coloquei tudo dentro da mala e voltei para a picape. Estava quase colocando a mala contendo as roupas do casamento da Lala e o meu all-star branco quando alguém colocou a mão no meu ombro, sem pensar, me virei com a arma apontada para a cabeça de quem quer que fosse. Assustei a Tatz que me assustou.
-Meu Deus!
Ela disse erguendo as mãos e eu guardei a pistola.
-Desculpa.
-Como eu senti sua falta!
Ela me abraçou forte e não soltou por um bom tempo.
-O que você estava guardando aí?
-Não seria o máximo se a Lala e o Phe se casassem?
-Ahn? Seria se estivéssemos num mundo normal onde houvesse igrejas com padres que pudessem casar a minha irmã.
Ela disse e olhou para a mala.
-O que tem aí?
-Eu peguei um vestido de casamento pra Lala, uma camisa social e uma gravata pro Phe e um vestido pra mim. Eu queria muito que os dois se casassem.
Ela sorriu.

-Não pegou nada pra mim?
-Peguei uma camiseta que seca rápido.
Dei um sorriso e entreguei pra ela.
-Nossa, valeu! Vou usar isso no casamento da minha irmã!
-Besta, a loja está bem ali, pegue o que quiser.
Ela riu e saiu andando, enquanto eu a observava, tive a estranha sensação de estar sento observada. Me virei várias vezes mas não encontrei nada. A chuva havia diminuído um pouco, havia se transformado numa garoa. Comecei a reparar que, além da placa, nada na cidade havia sido destruído. Como se ela fosse uma cidade fantasma ou algo assim, nada foi trancado, foi apenas... abandonado. Ao perceber isso, corri atrás da Tatz que estava segurando um vestido de alças, roxo.
-Tatz...
Eu disse com a voz trêmula e ela me encarou.
-O que foi?
Ela perguntou aflita.
-Você percebeu que não vimos nenhum zumbi, nenhuma mancha de sangue e nem nada estranho por aqui?
Ela começou a olhar para os lados e me encarou.
-Foi tudo... abandonado.
-Como se eles soubessem de algo e precisassem fugir.
-Ou se alguma coisa muito ruim estivesse aqui na cidade e desse tempo de fugir.
Nos entreolhamos e saímos correndo, Ela estava com um vestido e uma sapatilha em mãos, não faço ideia da onde surgiu a sapatilha, mas ela colocou tudo na mala onde estavam os vestidos, fechou o zíper e a porta e escutamos um grito. Nos entreolhamos de novo e ela abriu a mochila de arma, tirou um revólver de lá e o esticou para mim. Entreguei a pistola pra ela e peguei outro revólver, carreguei os dois e fomos em direção ao grito. Entramos em duas ruas até achar o armazém onde a Pammy estava.Ela batia com as duas mãos no vidro e gritava, mas não conseguíamos escutar.
-Consegue entender?
Eu disse pausadamente para que ela pudesse ler os meus lábios, ela balançou a cabeça positivamente.
-Ótimo, se afasta.
Ela deu alguns passos para trás e eu sinalizei com a mão que ela se afastasse mais. Assim que ela chegou a uma distancia segura, apontei o revolver contra o vidro e mirei bem, não queria, de jeito nenhum, acertá-la por um estúpido erro de cálculo. Quando estava prestes a apertar o gatilho, alguém me empurrou bruscamente para o lado, por pouco não disparo por acidente.
-Está ficando doido?
Eu perguntei, visivelmente irritada, para o Lucas. Ele deu um riso irônico e esticou a mão para alcançar o revolver, eu me esquivei.
-Eu é que te pergunto, quem te deu a arma?
-Sei muito bem esticar a mão e pegar sozinha.
Disse e cruzei os braços.
-Vocês sabem muito bem que não era pra ela estar armada, sabe-se lá o que ela vai fazer com essa arma. Pode matar todos nós.
Dei um passo á frente e fiquei cara a cara com ele.
-Escuta aqui, já me encheu o saco você achar que pode mandar em mim. Não sei quem te nomeou líder, essa porra não devia ter líder nenhum porque eu não mandava em ninguém, todo mundo cooperava. Você é apenas um garoto muito intrometido que acha que pode mandar na gente. Pra mim chega, dá o fora daqui antes que eu arrebente a sua cara.
Eu apontei o revolver para ele, ele arregalou os olhos mas relaxou quando viu que eu apontei para a vidraça e disparei, apontando para cima e estilhaçando o vidro, que se quebrou em milhões de pedacinhos, logo em seguida.
-Idiota.
Resmunguei e dei meia volta, ouvi um barulho estranho e várias pessoas resmungando juntas e me virei depressa. Atras dos meus amigos, um bando de mais ou menos dez zumbis avançavam rapidamente. Eu gritei para que todo mundo voltasse para os carros, mas Lucas disse para todos ficarem em posição, isso tinha a ver com alguma coisa que eles não tiveram tempo de pegar, tive que dar meia volta e soltar a trava de segurança da arma. Eles estavam chegando bem perto, os meninos começaram a atirar e em meio aos disparos, ouvi um choro de criança. Ignorando os protestos dos meus amigos, segui o som que me levou até um beco sem saída. Pelas regras de ouro, eu deveria ficar bem longe de becos escuros, mas a pequena criatura encolhida no final do beco, estava chorando e com medo. Me aproximei.
-Ei, o que houve?
Eu digo dando um passo cauteloso para frente. A criança para de chorar e me lança um olhar assustado e se encolhe ainda mais.
-Tudo bem- eu digo- não vou te machucar.
A menina, tinha cabelos negros lisos, estava suja de terra e com um machucado na perna.
Ela apontou o dedo para além de mim, e estremeceu. Eu me viro rapidamente com a arma empunhada, dois zumbis avançam rapidamente pelo beco. Acerto-os, matando os dois quase imediatamente. Me viro para a menina que enchia as lagrimas e me observa com certa curiosidade.
-Qual o seu nome?
Eu pergunto dando outro passo em sua direção.
-Lucy.
Ela diz e eu me aproximo.
-Você foi mordida Lucy?
Ela nega com a cabeça.
-O que houve com a sua perna.
Eu pergunto e me abaixo para ver o machucado.
- E-eu estava fugindo deles, cai do muro e machuquei a perna. Dói muito.
Eu observei a perna, havia um corte não muito profundo que ia do joelho até o tornozelo na lateral da perna, estava todo ralado e cheio de pus. Nada bonito.
-Olha Lucy, eu e meu amigos estamos por ali, vou te ajudar tá?
Ela balançou a cabeça.
-Vou ter que te carregar, tudo bem?
Ela balançou a cabeça outra vez. Coloquei as armas na parte de trás da calça e passei um braço pela parte de trás dos seus joelhos e o outro estava apoiando suas costas. Achei que Lucy era mais pesada, mas a garota era mais leve que a minha mochila. Eu corri com ela até o Jipe. Coloquei ela sentada no capô do carro e senti uma dorzinha no ombro direito, dormir de mal jeito estava acabando comigo,fui procurar a mala da Lala na caçamba da picape. Achei a mochila e procurei por água oxigenada, gaze e esparadrapo. Sem sucesso, voltei para onde Lucy estava sentada.
-Ei, sabe onde tem uma farmácia aqui?
Ela apontou pra uma rua não muito longe.
-Fica aqui enquanto eu pego as coisas tá? Se acontecer qualquer coisa, grita.
Ela afirmou com a cabeça e eu corri, meus músculos desacostumaram ao exercício de fuga, eu acho que sentia falta de ser rápida, ágil e útil por aqui. Encontrei a farmácia e destravei a arma, entrei empurrando cautelosamente a porta de vidro. O lugar estava abandonado como o resto da cidade, corri até as prateleiras e busquei o que precisava, tive que pegar uma cestinha para carregar tudo porque esqueci a merda da mochila no carro. Quando me abaixei para pegar o esparadrapo, ouvi o clique inconfundível de uma arma sendo carregada.
- Fica quietinha ai, passa as armas pra cá.
A voz era com certeza, masculina. Eu me virei devagar, com as mãos erguidas em rendição. Ele estava com uma jaqueta de couro, calça jeans e botas de motoqueiro. Tinha cabelos negros que estavam encharcados por causa da chuva, tinha olhos verdes bem claros.
-As armas.
Ele disse e balançou o revolver que tinha.
- Estão quase sem munição.
Eu digo e as entrego.
- O que faz aqui?
Ele pergunta enquanto toma minhas armas.
- Tinha uma criança chorando, ela está com um corte feio na perna. Estava tentando ajudar.
Eu dei de ombros e abaixei as mãos.
-Você esta só com essa menina?
Ele perguntou, voltando a colocar a arma na minha cara.
-Tira essa merda da minha cara- eu disse empurrando o revolver para o lado.- Eu estou desarmada, não represento perigo.
Ele abaixou a arma devagar.
- Como encontraram essa cidade?
Ele perguntou.
-Ela esta no mapa, gênio.
Ele bufou.
- Os tiros que você deu, vão atrair os zumbis do planeta todo, está sabendo disso?
Eu fechei a cara, boa Lucas, vai matar todos nós.
-Eu sei, mas se não se importa, tenho que cuidar de uma garotinha.
Eu dei as costas para ele e peguei a cestinha com os remédios que juntei, eu dei um passo á frente e ele cometeu o erro de me puxar pelo ombro. Com a mão livre, peguei o pulso dele e puxei para frente, um golpe clássico de karate, não que eu já tenha praticado, o garoto caiu de costas no chão, se contorcendo. Senti uma puxada no ombro que ele colocou a mão, ótimo só me faltava eu ter me machucado. Passei pelo menino e sai da farmácia, vi uma moto estacionada. Corri até onde Lucy estava. Ela chorava e abraçava o joelho da perna boa.
- Pronto, achei o que você precisa, mas vai arder um bocado tá?
Ela balançou a cabeça, relutante.
Coloquei a água oxigenada na gaze e passeios cuidado em volta do corte, eu não era muito boa nisso, era melhor que Lala o fizesse. Depois de limpo, coloquei uma pomada que achei na farmácia em outro pedaço de gaze, coloquei em cima do corte e prendi com o esparadrapo.
-Acho que isso vai resolver.
Eu disse e ajudei Lucy a descer do carro.
-Lucy, quando meus amigos chegarem, eu preciso que você fique atras de mim até eu ter certeza que eles não vão te machucar.
Ela balançou a cabeça no mesmo momento que eu ouço passos nas folhas secas da praça que estamos.
-Você... Disse que não... Representava uma ameaça.
Disse o menino que eu derrubei na farmácia.
-Ninguém coloca a mão em mim.
Eu disse de cara fechada, encontrando Lucy atras de mim.
-Vejo que essa é a baixinha que se machucou, tá melhor?
Ele pergunta inclinando a cabeça para o lado, vejo que Lucy lançava um olhar curioso para o menino.
-Tudo bem, sua amiga ai me mataria se eu te machucasse. Eu não vou fazer nada.
Ele disse e sorriu, eu puxei Lucy para trás.
-Dá o fora daqui.
Eu digo entredentes.
-O que foi, eu não to fazendo nada.
Ele diz e eu dou um passo para frente.
- Dá o fora daqui antes que eu arrebente essa sua cara.
Ele tirou o sorriso do rosto e deu de ombros, mas não se mexeu.
-Pra onde vocês vão?
-Não é da sua conta.
Eu respondi cruzando os braços.
-Ei, calma, eu só pensei que podíamos...
Eu ouvi que o pessoal se aproximava, puxei Lucy pela mão e empurrei o garoto para as árvores.
-Ei!
- Calado.
Eu o fuzilei com os olhos e me escondi atrás de um arbusto.
-Pra onde ela foi?
Jamille estava perguntando para alguém, eles formaram um círculo perto dos carros.
-Eu não faço idéia, eu disse pra vocês que ela não estava bem e você- Lucas apontou para Gabe- acreditou que ela já estava boa, o que ela tem não tem cura. Aceite isso.
Gabe fez uma cara feia e respondeu.
- Ela esta melhor sim, você que não quer ver isso. A gente tem que procurar por ela.
-Não.
Lucas disse e eu senti uma mão no meu pulso. Olhei para o garoto que me olhava assustado e olhei para os meus punhos fechados. Eu estava a milímetros de arrebentar a cara do Lucas.
-Siga a gente, leve a Lucy com você, eu já arranjei problemas demais, não seja visto.
Eu sussurrei para o garoto.
-Lucy?
Ela me observou cuidadosamente.
-Você vai com ele tá bom? A gente se encontra daqui a pouco.
Eu coloquei uma mecha do cabelo dela atras de sua orelha e lancei um olhar significativo para o garoto, antes de dar a volta pelas árvores e voltar para a rua. Anne me viu chegando e correu para me abraçar.
-Você esta bem? Foi mordida? Onde você estava?
-Estou bem, relaxa, me perdi, só isso.
-Agora que você chegou, já podemos ir?
Lucas perguntou com desdém. Eu andei até ele.
-Você não manda aqui.
Eu disse e sai andando, disse para Gabe dirigir a picape e voltar para o acampamento enquanto eu dirigia o Jipe. Entrei rapidamente no banco do motorista antes que alguém mais dirigisse, segui Gabe há que não sabia o caminho e olhava constantemente pelo retrovisor para ver se o garoto e Lucy estavam bem, não os vi nenhuma vez e comecei a ficar preocupada. Arrumei mais uma responsabilidade, e mais um idiota pra me preocupar.

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