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domingo, 30 de setembro de 2012

ERA DE SANGUE- 2° TEMPORADA- Losing My Mind

Faz algum tempo desde que deixamos a praia. Muito tempo para ser mais exata. Viajamos muito para deixar o Guarujá, não faço ideia de onde estamos, mas eu posso ver o mar. Assim que deixamos a praia, mandaram-me entrar no Jipe, mas eu queria vê-los direito, sem ter que correr, ou gritar. Abracei um por um, sentindo a falta imediata de dois dos meus amigos.
-Onde eles estão?
Perguntei olhando para o Lucas, ele sabia o que eu queria dizer.
-Bia, eu...
-Me responde!
-A Milly e o Wagner eles...
Comecei a negar com a cabeça quando percebi o que ele queria dizer, mal percebi e já estava de joelhos no asfalto. Eu não queria aquilo, não queria que ninguém morresse. Alguém me colocou no carro, não me impediram de chorar, ninguém sentia o que eu estava sentindo. Ninguém iria entender.
De lá pra cá, meus sonhos estavam tão estranhos quanto a minha cabeça. Eu não tomava as decisões mais. Ninguém confiava em mim como antes, estávamos divididos entre nós, Phe e Lala auxiliavam no comando com o Lucas tomando as decisões mais importantes - Não nos falamos nenhuma vez desde que saímos da praia.- Anne e Gabe cuidavam da parte de defesas e proteção do grupo.- Anne era muito boa com a pistola.- Talita, Iara a Pammy e Jamille cuidavam da parte de alimentos, avisavam quando a comida estava acabando e constantemente cozinhavam pra gente. E eu? O tempo que eu não estava dormindo eu estava chorando, e quando eu não estava fazendo nenhum dos dois eu andava por aí. Uma vez achei um cemitério de manhã, não voltei até escrever o nome de todas as pessoas que morreram enquanto estavam perto de mim. Por impulso, escrevi Ky e Bloom, quando terminei, havia cortes nas dobras dos dedos de minhas mãos, nas palmas também. Anne me achou enquanto eu contemplava o que eu fiz com o canivete que arranjamos. Escrevi em uma pedra perto de um arbusto, algumas flores estavam nascendo o que me poupava de colocar algumas sobre a pedra. Escrevi um breve epitáfio, com um graveto.
"Estive com vocês, por pouco ou muito tempo. Mas vocês estarão comigo, até que meu coração pare de bater."
Anne tocou o meu ombro e me levou de volta para o acampamento.

-São dizeres muito bonitos. Sinto muito que isso tenha acontecido.
E entrou sem dizer mas nada. E desde aquele dia, tenho andado dormindo. Geralmente, meus sonhos são tão perturbados, que eu acho que estou me revirando na cama, mas na verdade, estou correndo por aí. Estava bastante escuro, alguém gritava  e eu via rostos borrados passando por mim, comecei a andar pelo corredor, parecia que eu estava andando por diversas vitrines, cada parte de vidro era um amigo meu, em pé, com a expressão vazia, me encarando. No final do corredor, duas figuras estavam de costas, lado a lado. Elas se viraram lentamente, uma, era Vinícius, a outra, era Pedro. Parei por um instante, petrificada. Eles estavam sorrindo quando o vidro que os continha começou a subir. Eles começaram a falar comigo mas eu não entendia o que eles diziam. Estava prestes a dar um passo na direção deles quando alguém puxa o meu braço.
-Está tentando se matar?
Lucas agarrava o meu braço e me olhava de um jeito que chegou a me assustar. Aí me dei conta de que estava de pé, a beira de um penhasco. Desse dia em diante, pessoas me vigiam enquanto eu durmo. Eu não posso reclamar, estou perdendo a cabeça.
-Queria que ela parasse de ficar olhando para o nada. É assustador.
Alguém sussurrou enquanto passava pela árvore em que eu estava sentada, estiquei o pescoço e vi a Pammy, a Iara, a Tatz e a Lala passando.
-Você viu o que ela fez noite passada? Ficou parada na porta da cabana por duas horas!
Outra voz disse.
-Ela está assim há tempo demais.
 -Não há nada que possamos fazer.
Elas passam pela árvore e não posso mais ouvi-las. Suspiro e me recosto no tronco. Elas estão certas, eu estou assim faz tempo demais. Tenho que mudar isso. Estávamos acampados numa clareira, andei até o limite dela, onde uma floresta densa começava a se formar. Andei por um bom tempo até julgar estar bem longe, eu precisava saber voltar até o acampamento. Fechei os olhos e dei três voltas, abri-os novamente e encarei a floresta. Devia ser outono, as árvores tinham poucas folhas, as que possuíam, estavam espalhadas no chão. Dei mais uma volta para me certificar que não sabia a direção que vim e me lancei no meio da floresta. Demorei para achar o rastro que meus pés fizeram na terra, arrastando as folhas e fazendo uma pequena trilha, depois foi só seguir o caminho de volta para a clareira. Mas eu estava enganada, não estava na clareira e sim num campo muito aberto, com uma estrada de terra que se alargava e terminava num ponto ao centro do campo. Quando meus pés tocaram a estrada, tive a impressão de estar pisando no metal, meus pés faziam um barulho engraçado ao pisar na terra da estradinha.
No centro do campo, a estrada se fechava num círculo. Só havia isso, mas tinha alguma coisa errada. Porque havia essa estrada aqui, dando para o nada? Porque o chão fazia um barulho engraçado? porque diabos tem um Jipe militar vindo na minha direção? Corri o mais rápido que pude para me esconder, observei o Jipe seguir a estrada  até o círculo e depois ouvi um barulho muito alto, mas não pude descrevê-lo. O Jipe começou a afundar na terra, desaparecendo por completo pouco tempo depois. Pude ouvir o barulho de novo e não tive dúvidas de que eram das engrenagens do elevador oculto. Corri no sentido contrário ao da estrada de terra, voltando para o meio da floresta, começando de novo a minha tarefa de voltar para o acampamento. Consegui voltar assim que o sol se pôs, encontrei duas figuras andando de um lado para o outro, preocupadas.
-O que houve?
Perguntei em voz baixa, a garganta rouca e arranhando pela falta de uso. Não falo com eles faz muito tempo.
-Bia! Graças a Deus!
Jamille me abraçou forte e depois gritou.
-Gente! Ela está aqui!
Eu fiquei sem entender o que eles estavam fazendo. O pessoal foi voltando aos poucos, me abraçando e perguntando onde eu estava. Lucas era o único que parecia realmente furioso. Agarrou meu braço direito e me arrastou para longe dos outros.
-O que você estava tentando fazer?
Ele disse com os dentes cerrados. Eu puxei meu braço de volta e o encarei.
-Fui dar uma volta, nada de mais.
-Nada de mais? Tivemos que desmontar a porcaria do acampamento porque você sumiu.
-O que tem de mais? Eu sempre saía pra andar.
-É, antes de você...
-Antes de eu o que? -Estava gritando com ele sem perceber- Eu não fiquei louca se é o que vocês andam dizendo, eu perdi tudo o que era importante pra mim, perdi tudo! E enquanto eu tentava salvar a porra da vida de vocês, vocês não podiam ter salvo a dos meus amigos?
-Foi um acidente!
-Um acidente que matou eles Lucas! Eles eram minha responsabilidade, eu os trouxe pra esse inferno!
-Não foi culpa sua!
-Tem razão, foi sua! Você estava obcecado em me achar e não viu que eles estavam sendo perseguidos por um bando inteiro!
Eu estava chorando e pude ver, com o canto do olho, que o resto dos meus amigos olhava para nós. Estava cansada de tudo aquilo, se eles queriam achar que eu estava louca. Ótimo, que assim seja. Dei as costas e fui andando de volta para a floresta, quem sabe eu descobria quem eram aqueles caras no Jipe e estourava a cabeça de algum deles? Fiz um pequeno desvio até o Nosso Jipe e abri uma das malas, peguei uma pistola qualquer e dois pentes de munição. Voltei para o meu caminho, já estava dentro da floresta quando percebi uma movimentação atrás de mim. Me virei á tempo de ver alguém tentando se esconder.
-Eu sei que está aí.
Disse cansada, porque eles tinham que me tratar como se eu fosse incapaz?
-Desculpe estar te seguindo.
Gabe saiu de trás da árvore e se colocou ao meu lado.
-Porque todos estão me tratando como se eu fosse maluca? Eu só não estava bem, mas agora estou de volta. Não há com o que se preocupar.
Eu revirei os olhos e continuei andando.
-Entenda que ficamos preocupados por você não comer direito, não falar com a gente e acordar na beira de um precipício. Foi tudo muito estranho, numa hora você era a menina mais durona que eu já conheci, em outra, você estava com um olhar melancólico para o nada.
-Mas agora eu estou de volta.
Ele passou o braço pelo meu pescoço.
-Ainda bem que está.
Continuamos caminhando em silêncio, até estarmos na trilha que leva até o campo aberto.
-Que lugar é esse?
Gabe tira o braço do meu ombro e caminha um pouco á frente. Eu suspiro e puxo o braço dele.
-Enquanto andava hoje, achei aquela trilha e parei aqui. O chão faz um barulho engraçado quando você pisa, depois de um tempo olhando, um Jipe militar veio daquela direção -apontei para o outro extremo do campo- ele seguiu em linha reta até o círculo ali -apontei para o círculo- e afundou na terra.
Ele me encarou por uns minutos. Ótimo, agora sou mais do que maluca.
-Como assim, afundou?
Eu puxei ele pelo braço até o caminho de terra, deixei que ele ouvisse o barulho que os pés faziam em contato aquele lugar.
-Parece...
-Metal coberto com terra.
Eu completei a frase dele. Nos abaixamos e cavamos um pouco, a terra revelou uma superfície metálica.
-Isso não deveria estar aqui.
-Você acha?
Eu disse o encarando. Ouvi o barulho das engrenagens e puxei Gabe para a floresta novamente.
-O que foi aquilo?
-Continue olhando.
Nos escondemos em alguns arbusto e ele ficou observando enquanto um Jipe militar surgia do círculo.
-Mas que porra é....
-Calado. Eu não sei se eles podem escutar.
Continuamos observando até que o Jipe desapareceu completamente.
-Precisamos entrar lá, ele disse se levantando.
-Ow, ow, ow!- Eu entrei na frente dele- Eu estou de volta há quatorze horas, preciso de treinamento, capacidade de pensar em um plano, preciso ver se é seguro entrar, não faço a mínima ideia do que há lá em baixo, e eu não sei se quero descobrir.
Gabe deu um passo para trás.
-Uau, você está mesmo de volta.
Eu sorri.
-Ainda duvidava? Anda, temos que bolar um plano pra entrar.
Voltamos até a clareira, o pessoal estava reunido em volta de uma fogueira. Lucas estava falando alguma coisa.
-Então podemos seguir por aqui- Ele apontou para o mapa- ou por aqui. Temos que passar por essa cidadezinha aqui.
-Não é uma boa ideia.
Eu disse me sentando. Lucas se virou para mim e revirou os olhos.
-Então a gente pega os mantimentos aqui e...
-ME ESCUTOU? É uma péssima ideia!
Ele se virou para mim.
-Porque?
-Porque- eu virei o mapa na minha direção- essa cidade é o centro de uma rota- Apontei para as linhas vermelhas do mapa- essa rota, liga essas outras duas cidades que são bem maiores. Ou seja, qualquer coisa que veio de qualquer direção, vai passar por essa merda, e se vocês não quiserem virar comida de zumbi, sugiro seguirmos pela costa.
Eu empurrei o mapa e cruzei as pernas. Eles me encararam por um tempo e ficaram em silêncio. Gabe pigarreou e todos olharam para ele.
-Tem alguma coisa lá na floresta.
Eles se assustaram e começaram a falar todos ao mesmo tempo.
-EI!
 Eu gritei e eles me olharam.
-Tem alguma coisa em baixo de nós, um Jipe militar passou por lá e entrou num túnel subterrâneo. Eu não faço a mínima ideia do que tem lá em baixo, mas não é coisa boa.
Eles se entreolharam e aquela coisa de me achar maluca já estava me dando nos nervos.
-É verdade! - Gabe interrompeu os comentários- enquanto eu a seguia, vi o Jipe, a estrada, tudo. Ela não está louca, na verdade, está melhor do que nunca.
Ele disse e o pessoal ficou quieto, não aguentei ficar ali e saí andando. Que ódio! Fiquei observando o céu, estava nublado e ventava um pouco, haveria tempestade no dia seguinte.
-Eu acredito em você.
Me virei e dei de cara com Anne.
-Obrigada.
Eu disse num suspiro.
-Ainda bem que você voltou!
Ela disse me abraçando e a abracei de volta.
-Vou precisar de ajuda, tem alguma coisa lá que vai nos trazer grandes problemas.
-Eu sei, eu e Gabe vamos ajudar.
-Bem, é melhor do que nada. Mas você vai ter que me contar o que houve, desde que saímos da praia.
Ela concordou com a cabeça e começou a contar.
-Você ficou estranha desde que contamos que seus amigos... Bem, você sabe. O Lucas também não estava nada normal, ele ficou bem estranho desde á praia. O pessoal tá achando que isso deixou de ser um grupo e que não vamos resistir se tiver um ataque de um bando. Falando nisso, não vemos um único zumbi desde á praia, o que é um fato muito estranho. Não acho que eles tenham desaparecido, acho que estão...
-Esperando a hora certa de atacar? Também pensei nisso, mas não é tão simples assim, só se...
Na minha mente, a cena do Doutor Sociopata fugindo de helicóptero se manifestou. Parecia que eu estava lá outra vez, até podia sentir o cheiro de sangue na minha roupa.
-Vocês está bem?
Anne disse com a mão no meu ombro, eu chacoalhei a cabeça desviando os pensamentos.
-Estamos ferrados. Olha só, os zumbis foram criados por aquele cara de jaleco que estava na Arena comigo, ele me odeia ou tem alguma fixação comigo por algum motivo, o que é bizarro. Mas ele escapou, como eu, e acho que está atrás de mim. Esperando por uma brecha.
-Quando seria o momento perfeito?
Ela perguntou.
-Eu não sei- balancei a cabeça- espera, se estivéssemos separados e eu estivesse sozinha, se ninguém acreditasse em mim e se estivéssemos no meio do caos. Seria perfeito para ele.
-Estamos ferrados.- Ela apontou para o horizonte- Tem uma tempestade vindo, com uma tempestade, ninguém acredita em você, o grupo está separado, seria perfeito.
-Eu sei, já tinha reparado.
-Não podemos te deixar sozinha, vou avisar os outros.
Eu segurei seu braço.
-Eles vão falar que está maluca como eu, estão duvidando de Gabe por minha causa.
-Vou convencê-los.
-Boa sorte.
-Ainda bem que você está de volta, Lucas não sabe tomar grandes decisões.
Ela riu e se virou, correndo na direção dos demais que estavam na fogueira. Me virei para o horizonte e encarei o céu. Pouco tempo depois alguém agarrou o meu braço.
-O que diabos...
Eu me virei com raiva e dei de cara com Lucas.
-Me solta.
Eu disse com os dentes cerrados.
-Que papo era aquele de coisa estranha na floresta?
-Me solta!
Eu puxei meu braço e o encarei.
-Eu não disse nada além da verdade.
Ele bufou.
-Você está delirando.
-Estou? Ótimo, continue pensando assim. Arraste a gente pra droga da cidade que você quer ir, mate todos nós. Só não peça pra que eu te salve quando estiver sendo perseguido até a morte, falou?
Eu dei meia volta e comecei a caminhar.
-E á propósito, tem uma tempestade vindo. Eu sugeria que você reforçasse as pregas das cabanas.
Ele bufou, desacreditando-me. E nesse momento um vento forte começou a soprar, vindo do oceano. Eu me virei mais uma vez e disse entredentes.
-Eu te avisei.




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