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sábado, 24 de novembro de 2012

All Over Again

Os seguranças fizeram questão de nos algemar, fizeram questão de levar meus amigos para longe de mim. Eu fui num Jipe separado, junto com Doutor Sociopata e a menina estranha. Ótimo, não vi Lucy e o garoto desde que acordei, não sei se estão bem, não sei se Lucas não fez alguma besteira enquanto não estava aqui. Doutor Sociopata estava no banco do passageiro, eu estava com as mãos atrás das costas, enquanto a garota estranha abria e fechava um canivete num barulho irritante, eu a encarava e ela retribuía, encarando-me.
-Para com essa merda.
Eu disse pausadamente, ela deu um sorriso cínico e continuou. Eu bufei e me ajeitei na cadeira, verificando se meu pé alcançaria a cara daquela vagabunda. Após alguns minutos daquela irritação, Doutor Sociopata vira para nós.
-Para com isso Júlia.
Ele diz entredentes e vira para frente outra vez. Júlia guarda o canivete e começa a me encarar assustadoramente. Eu viro o rosto e encaro a paisagem, ainda sentindo o olhar dela sobre mim. Porque essa garota é tão parecida comigo? Porque Jason é tão interessado em mim? O Jipe diminuiu a velocidade, estávamos na clareira, o Jipe parou no meio do círculo de terra e foi descendo, eu olhava para todos os lados, tentando fazer algum reconhecimento do local. Nada familiar. Terminamos de descer e parecia que eu estava no meio do filme Resident Evil, o laboratório era idêntico ao do filme, vários funcionários com jalecos brancos e algum tipo de prancheta eletrônica andavam pelo lugar. Era tudo muito irreal.
-Olha, um fã de Resident.
Eu digo quando Doutor Sociopata me pegou pelo ombro para me tirar do Jipe.
-Que bom que percebeu, venha, vou lhe mostrar o resto do meu trabalho.
-Eu tenho escolha?
Digo encarando-o.
-Não.
Ele diz e sorri. Doutor Sociopata me leva por um longo e demorado tour pelo laboratório subterrâneo, tudo aquilo parece um set de filmagens do primeiro filme da série Resident Evil, misturado com The Walking Dead no episódio que eles encontram um cientista lá... Esse cara é mais doente do que eu pensava. Ele me mostrava as salas que mais pareciam laboratórios de química, mostrou a sala de treinamento onde vários garotos atiravam em um alvo a 50 metros de distância. Pera, como eu calculei isso? Eu sou horrível em matemática? Continuamos andando até um largo corredor que terminava com uma porta de concreto, com senha eletrônica e tudo.
-O que tem ali?
Jason olhou na minha direção e sorriu.
-Nada.
-Ah claro, vou trancar ar, atrás de uma porta de concreto de 22 centímetros, com senha eletrônica com uma combinação de mil e quinhentos números. Fala sério. Pera, o que eu acabei de dizer?
Ele deu um risinho e continuou a andar para longe da porta estranha. Eu estava tentando entender como magicamente eu consegui falar aquelas coisas, eu nunca seria capaz de calcular as provabilidades de combinações da porcaria de uma senha eletrônica, ou a distância de um alvo, ou a largura de um bloco de concreto. Nunca.
-Chegamos.
Doutor Sociopata me empurrou para dentro de uma sala onde havia uma maca, dois funcionários esquisitos, uma máquina com vários fios e vários raios-x de corpos inteiros, crânios e outras partes do corpo humano. Os dois funcionários sinalizaram a maca e o aperto da mão de Jason no meio ombro ficou mais forte.
-Não.
Eu disse entredentes e joguei o ombro para trás afim de me livrar da mão dele. Eu consegui e corri em direção á porta, ele agarrou a minha mão que estava algemada atrás das costas. Eu tropecei com a parada brusca que meu corpo sofreu, eu cai de costas no chão, Jason caminhava na minha direção e a única chance que eu teria seria se ele estivesse no chão. Foi o que eu fiz. Com um rápido movimento da minha perna direita eu chutei a parte detrás do seu joelho direito e ele caiu de joelhos, depois eu chutei a sua barriga, na região do estômago e logo depois o queixo, bem do lado direito. Ele caiu, provavelmente desacordado. Os dois funcionários correram até mim e eu desviei do soco do primeiro antes que me atingisse. Eu nunca teria feito isso. Me levantei rapidamente do chão e me virei para os dois. Eles já estavam ofegantes e eu também deveria estar. Mas não. Eles avançaram de novo e eu permaneci no lugar, os dois tentaram agarrar meu tronco mas eu me abaixei, acertei algum deles com a minha cabeça quando levantei,  aproveitei que um estava no chão e chutei a parte sensível de qualquer homem, logo depois a barriga, o outro conseguiu me agarrar por trás, eu coloquei os dois pés no chão e consegui empurrá-lo para trás, por sorte havia uma parede e ele caiu com a mão na cabeça, eu empurrei suas costas para baixo e ele bateu a cabeça com tudo no chão, uma poça de sangue começou a se formar em volta dele. Eu nunca tive força pra fazer isso. O que diabos tá rolando aqui? Eu tive que abrir a porta de costas porque minhas mãos estavam algemadas, assim que abri corri porta afora o mais longe que podia daquela sala, daquele laboratório, de tudo. Corri para qualquer direção enquanto um alarme soava alto por todo o lugar, eu virei a esquerda num corredor vazio e me sentei rapidamente só para colocar minhas mãos para frente. Feito isso eu voltei a correr, consegui, com muito esforço chegar até o hangar dos Jipes e do elevador. Entrei em um que estava com a chave no contato, dei marcha ré e entrei no elevador escutando os protestos inúteis dos funcionários. Eu estava subindo, estava livre. Lá em cima a claridade me cegou por alguns instantes, eu dirigi cegamente enquanto recuperava a visão, por pouco não bati em uma árvore. Dirigi por dentro da floresta, sabendo que seria mais difícil seguir os rastros, logo entrei no asfalto e segui até a cidade. Meu coração esta a mil, embora eu pensasse claramente as direções que pudesse tomar, eu sabia as minhas opções e tudo isso era muito estranho. Eu cheguei na cidade por volta de uma hora depois que fugi, havia um lindo pôr do sol no horizonte e seria perfeito se meus amigos estivessem aqui. Mas não estavam. Jason os levou para o laboratório subterrâneo de onde eu fugi. Eu entrei na delegacia e analisei o lugar. A entrada estava bem protegida pelo menos, as mesas da recepção estavam viradas, a passagem estava sendo dificultada por cadeiras e outros objetos que estavam no caminho, eu passei por tudo isso e cheguei nas celas, havia uma mesinha pequena junto de uma cadeira, a cela estava aberta, havia uma cama com um travesseiro e um objeto pequeno no chão. Eu me agachei e vi que era o colar militar de PET. Ela também havia sido levada mas eu podia trazê-la de volta. Apertei um minúsculo botão no verso do colar e observei enquanto a imagem holográfica surgia a minha frente.
-Você... Mas co-como você escapou?
-Não ganho nem um oi?
Eu digo e sorrio, ela me abraça forte. Não sei como isso é possível mas e daí. Ficamos abraçadas por um tempo até que eu ouço o barulho familiar de uma motocicleta.
-Espera aí tá?
Eu digo e corro pela porta lateral até o lado de fora para encontrar o garoto estranho daquele outro dia.
-Você está bem? Mas...
-Calado.
Eu digo enquanto ele desce da moto, ele está sem capacete e usa a jaqueta de couro e as botas de motoqueiro.
-Eu vi o que aconteceu mas não deu tempo de ajudar e...
-Não deu tempo?
Eu pergunto.
-A cidade toda é monitorada por câmeras, eu estava do outro lado vendo isso.
-Câmeras?
-Você vai ficar repetindo partes do que eu digo?
Ele diz sorrindo.
-Não.
-Então, eu estava lá do outro lado buscando alimentos e essas coisas quando ouvi um bipezinho irritante, eu segui o barulho até um observatório abandonado. Acontece que lá não tá abandonado e tem energia elétrica! Eu acho que a cidade toda tem, enfim, eu entrei lá e o bipe ficou mais alto até uma sala cheia de televisões mostrando imagens da cidade, mostrando seus amigos sendo atacados e tudo o mais. Eu não vi você.
-Quer dizer que a cidade toda é monitorada e você descobriu isso, viu meus amigos sendo atacados e não tentou vir pra cá?
-Você disse que não ia ficar repetindo- Nós dois sorrimos mas eu voltei a fazer cara séria- Acontece que eu tentei vir pra cá, mas um monte de zumbis estava no caminho e eu estava cuidando deles para que não tomassem conta da cidade, ta bom assim pra você?
-Ta ótimo. Ei, nenhum dos meus amigos reclamou por você ter entrado no grupo?
Eu perguntei chutando um pouco de terra.
-Não.
-Estanho, mas hoje está sendo um dia bem estranho. Vamos, eu tenho que tirar meu amigos de lá.
-Quer ajuda?
-Se eu falei "Vamos" é porque eu quero, né?
Eu disse puxando-o pela mão em direção a delegacia. Pet disse que sua bateria estava acabando por causa da transformação em holograma e em colar, eu sei lá. Ela voltou a ser um colar e eu pluguei ele na tomada para que carregasse, o botão interno ficou vermelho. Depois disso eu fiquei a tarde inteira planejando entrar lá e acabar de vez com a cara de Jason, quando a lua estava bem alta e iluminando toda a praça da cidade eu fiquei realmente cansada, não como se estivesse estudado o dia inteiro, mas como se todas as minhas forças estivessem esgotadas. Eu dormi na delegacia, na cama onde estava e o garoto dormiu no chão ao meulado.

Um comentário:

  1. tente sempre manter o ritmo alucinante dessa narrativa que coloca meu coração na boca...fiquei durante a leitura do primeiro parágrafo ansioso...e é assim que o leitor tem que sentir-se... querendo o tempo todo saber a próxima decisão das personagens e narrador...gostei mais desta.

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