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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Narração- Larissa Beulke

[ Continuação...]
-Bom, já que a proeza de matar uma pessoa foi sua, acho que você deve contar pra família daquele garoto o porquê que eles não vão comemorar mais o seu aníversário, nem buscar ele na escola, nem vestí-lo para o halloween, nem vê-lo crescer, nem vê-lo se formar...
Candice estava me dando nos nervos.
-Tudo bem Candice, eu entendi. Vou contar para a família do garoto que o procedimento deu errado.
-Não esqueça de dizer que foi por sua culpa.
Ela tinha um sorriso malicioso, estranho no rosto. Quase como se quisesse apanhar de alguém.
-Tudo bem Candice.
-E é doutora Candice pra você.
 Eu revirei os olhos e segui para a sala de espera do hospital. A família estava toda ali, posso jurar que estavam até os primos de oitavo grau ou algo assim, era muita gente num lugarzinho pequeno.
Assim que eles me viram se aproximando, levantaram.
-Doutora?
-Bem,ainda não sou doutora. Faltam algumas etapas para o meu diploma. Meu nome é Larissa Beulke eu sou estudante de medicina e estava acompanhando o procedimento do seu filho.
O homem, provavelmente o pai me olhou seriamente.
-Por favor, fale o que tiver que falar. A gente não aguenta mais nenhuma pausa.
-Entao- Um suspiro- Eu sinto informar que o seu filho, infelizmente não resistiu aos ferimentos. A bala perfurou muitos órgãos, eu sinto muito. De verdade.
A mãe do menino começou a chorar, e o marido dela teve que segurá-la para que ela não caísse. O homem também começou a chorar pouco depois. Eu deveria me retirar, deveria pegar minhas coisas e voltar pra minha casa. Mas algo impedia os meus pés de se moverem, meu corpo se recusava a parecer uma daquelas médicas arrogantes que não estão nem aí ( Candice me veio a mente, não sei porque.) Enuqanto eu vía a cena, uma das crianças, uma menina, veio falar comigo.
-Meu irmão não vai voltar não é?
A vozinha dela, era de partir o coração.
-Não... Eu, sinto muito.
Ela, em mio as lágrimas, sorriu.
-Tudo bem moça. Meu irmão está no céu agora, ele vai estar sempre com a nossa família. Ele era um menino bom, com certeza Deus deve ter um lugar especial para ele.
Ela pegou minha mão.
-Esse aqui é o colar que eu fiz para ele, tome. Ele iria gostar que ficasse com você.
A menina, não deveria ter nem seis anos. Eu fiquei sem palavras. Em minha mão, havia um cordão preto e na ponta, uma pedrinha marrom qualquer. Eu coloquei o colar no pescoço, me despedi da garotinha e fui ao meu professor me retirar do curso de cirurgia.

*Dia do fim do mundo 17:50*
Eu estou na Hilux com a Bia inconsiente. Ótimo. Eu não sei o que aquele cara fez com ela, ou há quanto tempo ele ficou segurando-a no ar. Mas ainda bem que ele vai ter uma morte lenta e dolorosa. Ela é apenas uma criança, e ele parecia bem mais velho do que 30 anos. Enquanto dirigia, dístraída em pensamentos em lembranças, minha mão alcançava o colar, coberto pela minha blusa.
-Ainda lembrando daquele dia?
Iara, uma das poucas pessoas que sabia do que havia acontecido, estava comigo no banco da frente do carro.
-Eu não consigo tirar o rosto daquela menina da minha cabeça. Ela parecia tão...Tão pequena, e tão frágil. Foi horrível ter que falar que seu irmão havia morrido.
-Lala, foi um erro médico. Poderia ter acontecido com qualquer um.
Iara estava falando um pouco alto demais. Eu não queria que ninguém soubesse sobre isso. A minha pequena lista de pessoas não passava de mim, dos meus pais, da Tatz, do Phe e da Iara. A Bia não sabia disso, mais porque ainda estava incorajando-a a fazer medicina, mesmo depois de ter desistido do curso, mesmo tendo quase abandonado a faculdade. Eu não queria que ela soubesse o quão horrível é tirar a vida de uma pessoa.
- Mas aconteceu comigo. Ponto Final.
-Tudo bem então.
-Pammy?
Ela resmungou alguma coisa, estava dormindo desde o posto de gasolina.
-Pammy, vê se a Bia já acordou por favor?
Pelo retrovisor eu vía a Pamella mechendo o braço para a frente e para trás. Um resmungo baixinho.
-Bia?
-Hum?
-Tudo bem?
-Huhum.
-Certeza?
-Huhum.
Eu sorri, era um pouco engraçado.
-Consegue falar alguma coisa concreta?
-Assim está bom pra você doutora?
Ela riu e depois resmungou de dor.
-Dói muito?
-Só meu pescoço, e meus punhos estão formigando para bater naquele cara.
-Isso não vai ser preciso Bih, ele virou isca de zumbi.
-Sério Iara, uma rima agora?
Pamella estava olhando para nós e depois riu. Iara desviou o olhar para o retrovisor.
-O que diabos....
O porsche amarelo que continha o Phe e a Tatz estava vindo em alta velocidade em nossa direção.
-O que ele ta fazendo?
Iara continuava olhando para o retrovisor enquanto falava.
-Ele não, ela. A Tatz ta dirigindo.
Assim que a Pamella disse, foram eu, ela e a Iara apertando os cintos. A Bia continuou sentada como ela estava.
O carro se aproximava mais e mais e derrepente ele fez uma curva para a direita e acertou uma árvore. Eu me assustei achando que o carro nos acertaria e desviei para a esquerda, por pouco não arrebento o carro. Na curva, a Bia que estava sem cinto bateu a cabeça na janela e caiu deitada no banco.
-Pammy?
-Sim?
-Vê se ela tá viva por favor?
-Tá!
Saindo do porsche, Phe e Tatz caminhavam com olhares assustados em nossa direção.
-Eu disse que era má idéia. A Bia vai te matar Tatz.
-Ela  não ousaria, talvez ela me bata, muito, mas nada além disso.
O Phe chegou até a janela.
-Tudo bem aí?
-Com a gente ta tudo legal, mas e com vocês?
-Estamos de boa.
Iara apareceu por de trás da minha cabeça sorrindo.
-Você sabe que a Bih não vai perdoar isso né?
-Eu não estava ao volante, me tira dessa.
O Phe ergueu os braços em rendição.
-Ela não vai matar ninguém se não descobrir.
Eu, Iara, Phe e Pammy caímos na risada.
-Cara, era o carro favorito dela desde Lua Nova. Você arrebentou ele. Ela com certeza vai perguntar pelo carro.
-Quer apostar?
-Cinco reais que ela pergunta pelo porsche quando acordar.
-Feito.
-Feito.
[Continua]

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