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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Um novo começo.

Minha cabeça doía muito. Eu estava deitada em algum lugar e não sonhei, estava ciente das vozes perto de mim. Estava ciente de que queria matar aquele desgraçado que apertou o meu pescoço e estava ciente de que estava em um movimento rápido. No nosso carro, com sorte. -Será que ela vai acordar?
Pammy perguntava com toda a sua inocência de treze anos.
-Mas é claro que sim Pamella! Ela não morreu, ainda.
Ainda? Como assim, ainda? Eu não estou morta e pretendo não morrer por um bom tempo.
-Tomara que ela acorde logo, eu não sei o caminho.
O Phe provavelmente estava dirigindo.
-Ela já vai acordar, eu sei disso.
Uma curva acentuada para direita e eu bato com a cabeça em algo muito duro.
-Ai!
-Não disse?
-Ai!
-O que foi?
Eu ainda não estava com a visão boa estava tudo embaçado e agora tudo doía.
-Bom, além de eu não enchergar nadinha, minha cabeça doí e meu pescoço queima e minhas costas estão doloridas.
-Ah, só isso?
Agora eu podia diferenciar as pessoas. A Pamella estava do meu lado, amontoada com a Tatz e a Iara. Eu estava deitada em três acentos inteiros não deixando espaço pra ninguém. O Phe estava dirigindo e a Lala estava no banco do passageiro.
-Sim, só isso.
Eu me sentei e a sensação não foi muito boa. Minha cabeça estava girando e eu sentia gosto de ferro na boca, não era legal.
-Tudo bem?
Iara estava meio engraçada na minha visão, acho que isso não é bom. Eu não deveria estar sentindo náusea nem tontura, nem esse gosto de ferro na boca. Tem muita coisa errada.
-Galera? Cade o porsche?
- Eu disse! Disse que ela perguntaria pelo carro, podem me dar o dinheiro.
Iara estava cobrando o que parecia uma aposta entre eles.
-Tivemos um pequeno imprevisto com o porsche.
Mil coisas passavam pela minha cabeça. Eles bateram o carro. Eles explodiram o carro. Eles encheram o carro com zumbis. Meu deus eu mato eles se meu carro estiver detonado...
-Eu... Eu não estou me sentindo bem pessoal.
Eu já deveria estar melhor, bem nunca tinha desmaiado antes, mas com certeza os sintomas já deveriam estar amenizados. Mas minha visão estava embaçada e eu estava salivando muito.Eu sei. É nojento. Mas de tantas vezes que já fiquei doente eu sei os sintomas.
.Visão embaçada
.Corpo pesado
.Muita saliva (eca)
.Sono
.Dor de cabeça
.Calafrios
.Dor no corpo
Dos 7 quatro conferem. Eu estava ferrada. Precisava de duas garrafas de gatorade e dois comprimidos seguidos de muitas horas de sono para fazer efeito. Eu não tinha tanto tempo assim.
-Eu preciso que você me diga o caminho, tá legal?
Estávamos indo em direção á um túnel.
-Esse é o primeiro?
-O que?
-O primeiro túnel, temos quatro pela frente se esse é o primeiro. Depois deles tem mais uma meia hora de estrada com placas sinalizadas para o Guarujá. Esse é o caminho.
-Tudo bem, você precisa de alguma coisa?
-Agora não vai ter nada pela estrada e vocês não vão se arriscar por minha causa. Sigam com a viagem, lá tem alguma coisa pra mim.
-Tá legal.
Seguimos com a viagem, eu devo ter adormecido uma ou duas vezes e acordado com o balanço do carro. Foi mais longo do que eu esperava. Meu celular vibrou, ainda estava com ele. Que milagre.
"Bia! Está uma loucura aqui, onde vc tá. precisamos da sua ajuda. Tem uns caras aqui. Me liga!"
Jamille tinha me respondido, pelo menos ela ainda estava viva. Eu disquei o número dela.
-Alô?
-Gordinha? Onde você tá?
Gordinha era o apelido que eu dei pra ela- Eu estou parada com o colírio aqui antes do pedágio. A minha família....Conseguiu.... Preciso....Ajuda. Bia!...Tá...Ouvindo?
Droga, as linhas já estavam caindo. Não tínhamos muito tempo.
-Gorda, me escuta. Eu vou voltar pra te buscar. Me espera, eu já estou indo.
-Tá, mas vem rápido.
-Phe?
-Sim?
-Preciso de um enorme favor de vocês. Minha amiga ficou presa com aqueles caras na barricada. A gente precisa ir buscar ela, só que ela não está sozinha. Acho que estão dois meninos com ela, a ligação estava falhando. Eu posso contar com vocês pra isso?
-Claro.
-Sim.
-Pode ser.
-Acho que sim.
-Eu não sei.
Eu olhei para a Pammy, que havia descartado a minha proposta.
-Porque?
-Sofremos um bocado pra passar de lá, e agora você quer voltar pra buscar uma amiga sua? Me desculpa, mas eu descordo. Eu deixei para trás muitas amigas minhas, ainda bem que estou com vocês, mas voltar pra buscar sua amiga seria como voltar para buscar as minhas amigas.
-Pamella. Eu entendo o que você sente. Não vou dizer que respeito a sua opnião porque não respeito. Eu quero voltar pra buscar ela, não porque ela é minha amiga. Mas porque ela não tem idéia do que fazer, e aqueles caras podem fazer coisas ruins com ela. E ainda tem meus amigos que estão sozinhos e com medo. Eu não te obriguei a vir, não te obriguai a abandonar tudo o que conheceu para fugir do caos. Eu não obriguei ninguém. No entanto vocês quiseram me acompanhar. E se a maioria quiser seguir em frente eu vou ser obrigada a ficar e voltar. E então?
-Acho que nossas opniões não mudaram. A gente volta pra buscar sua amiga.
E então foi isso. Demos meia volta e seguimos para a barreira que sofremos para passar.
-Dessa vez a gente não vai estar em desvantagem.
O Phe levantou um objeto preto e não muito pequeno. Uma arma. Eu dei uma berrinho.
- Onde diabos você conseguiu isso?
Minha voz saiu estridente. Um gritinho agudo e estranho.
-Dentro da loja. um policial teve o azar de encontrar com aqueles militares eu acho. Tinha um tiro na cabeça mas não parecia estar infectado. Eu peguei a arma, algumas balas e um pente reserva. Graças a seis meses no exército, eu aprendi algumas coisas úteis.
Lala aumentou o volume do rádio. Wolfmother, Woman. A música que eu zerei três vezes no celular da Tatz. A música que eu sabia de cor.
-Alguma recordação meninas?
Elas riram.
-Bons dias eram aqueles que a gente jogava guitar hero no recreio.
-É, agora não vão mais existir.
Um silêncio mortal se formou.
-Não vão mais existir, mas pelo menos eu ainda sei a letra.
A estrada agora estava misturada com alguns risos, algumas memórias, uns pesamentos tristes e uma letra do bom e velho rock. Eu enviei uma prece silênciosa para que minha amiga ainda estivesse bem.

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