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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Operação F.U.G.A.

Eu me saí bem dirigindo pelo Morumbi até chegar no Portal. Onde a Tatz mora. Eles estavam na grade da portaria, com malas enormes e uma despedida no rosto de cada um. Tatz, o Phe, a Lala e a Pammy. Todos eles entraram no carro se despedindo dos pais que ficariam ali, onde achavam seguro. Era uma questão de tempo até o prédio inteiro ser tomado por um deles, até agora eu ví pouquíssimos zumbis, um bom sinal, quer dizer que estamos adiantados. Entramos nas lojinhas e a vendedora nem se importou em nos ver saqueando tudo. Chocolates, filmes, salgadinhos, muita água e enlatados. Além de cobertores, travesseiros e objetos de acampamento. Pouca gente sabe o que é dormir num carro cheio de gente. No posto, um dos frentistas tinha sido mordido, os outros estavam cuidando dele. "Simplesmente inútil, eu disse que os adolescentes sobreviveriam." Foi o que eu disse para o pessoal. Lala e Phe eram maiores de idade fazia uns quatro meses, nenhum deles sabia dirigir, mas acharam melhor me tirar do volante. A gasolina foi cedida de boa vontade quando ninguém me impediu de puxar a alavanca, todos estavam servindo de comida para o frentista infectado. "Coitados, mal sabiam eles da verdade." Isso foi o que eu pensei, antes da caixa da loja de conveniência bater nele com uma barra de ferro, direto na cabeça. Pena que ela estava chorando e não viu quando os outros levantaram, com as tripas aparecendo. Claro que alguns vieram pra cima de nós e eu não consegui cumprir o número três da lista de sobrevivência. Mas haviam outros oito postos em nosso percurso. O único lugar que não nos deixaram entrar foi a delegacia, justo o lugar que eu calculei, o lugar que estaria em completo caos e eles nem ligariam se pegássemos algumas armas. Mas o delegado não me deixou explicar o que estava acontecendo.
-Criança maluca! Você deveria estar em casa, não ouviu que estamos em estado de emergência? Anda logo.
- Mas, além me meter uma bala na cabeça de todo mundo que está com sangue entre os dentes, ou deixar a infecção chegar em nível mortal e jogar uma bomba e acabar com aqueles demônios, o senhor não pode fazer absolutamente nada.
E foi assim que eu ví que o pobre senhor estava com um infectado ali dentro. Ele olhou para os lados, afrouxou a gravata e passou a mão na testa. Coitado dele, apenas mais um que nã vai viver por muito tempo, a não ser que ele saia dali.
- E se eu desse uma arma pra você, você saberia atirar? Recarregar? Destravar, trocar um pente? E se você desse um tiro no seu pé? Ou nos seus amigos? Como se sentiria? De qualquer modo eu não darei uma arma para uma criança.
- Com todo o respeito senhor, eu sou a única com chances consideráveis de sobreviver, sei como matá-los e sei pra onde ir. Não tenho uma arma, mas jajá não restará alguém para me impedir. Eu tenho dois maiores de idade no carro, e veja só, eles confiaram em mim ao invés do seu governo. Quer saber? Fique com as armas, você vai precisar. E, senhor? Diga aos seus homens para mirarem na cabeça.
Era só uma questão de tempo até que não restasse ninguém pra me impedir, seria em pouco tempo, um deserto da morte com pilhas de corpos e cheiro de carniça. Eu entrei no carro e seguimos para a Avenida Espraiada, onde pegaríamos os restos dos veículos para seguir viagem. Na lista estávam inclusos um barco, e o meu carro dos sonhos. Um porsche amarelo. Eu sonho com ele desde que uma personagem do meu livro o adquiriu como carro favorito. A viagem foi turbulenta, havia pessoas gritanto e enarrafamentos, e caos e infectados e... Nós, numa Hilux prateada, com mantimentos para três semanas e objetos de sobrevivência. O rádio estava ligado, e ao invés de música, o locutor dizia :
- Isso é um aviso para todos que estão sintonizados, não sei dizer ao certo o que está acontecendo, eu sei que os mortos estão caminhando e pessoas estão sendo mordidas. Como nos filmes, não há culpado aparente e há pessoas que dizem que Deus resolveu se vingar da ganância desse mundo. O governo disse para nos dirigirmos á um dos centros de sobreviventes que estão cituados em estádios e em CEUS, por todo o território. Mas se não for possível sair, é mais seguro que fiquem em suas casas.
- Bobagem!
Lala estava lendo um dos seus livros e disse isso para o locutor.
- Ele sabe que no final niguém vai sair dessa, o governo não estava preparado. O mundo não estava preparado, a gente viu a televisão. Roma, Grécia, Moscou, Paris, Tóquio, Nova Iorque. Todos desesperados para o apocalipse, algo científico e muito expicável.
- Ah sim, e como se explica isso?
Iara era a única de nós que se comprometia com a igreja, a família da Tatz não acreditava, a família do Phe não ligava e eu, simplesmente acho que há um lugar para nós, mas não há um ser que julga quem morre e quem vive, quem vai nascer perfeito e quem nasce com alguma deficiência. Seria injusto e imoral. Por isso eu prefiro acreditar em espíritos e em reencarnação.
- Qual é Iara, você vem discutir com cinco pessoas que não acreditam em Deus, em um apocalipse zumbi a única explicação é alguém idiota o bastante pra modificar o vírus da raiva achando que podia curar umadoença que ja tem prevenção. Ou alguma pobre cientista demitido e rancoroso quis se vingar.
- Ou Deus se cansou da angustia do mundo e resolveu se vingar.
- Tá, isso ficou realmente estranho. Vamos deixar claro que há uma praga no mundo e não sabemos o motivo de ter acontecido mas simplesmente aconteceu. Fim.
Essa era a Pamella, não tinha aberto a boca desde que entrou no carro, odiava  discussões e principalmente daquelas sem sentido.
O trânsito estava infernal, tudo parado. Vinte e seis longos quilômetros de congestionamento, segundo o locutor da rádio.
- Phe, podemos colocar um cd por favor?
Pois é, com toda a correria de sair de casa antes que fosse tarde eu deixei meus cds favoritos, incluindo o me primeiro cd da banda paramore. A minha banda favorita.
A música começou e de algum modo, todos nós relaxamos. Tatz começou a ler, a Pammy estava no celular, Iara estava olhando pela janela, Phe estava olhando o trânsito e a Lala cantava sem erro algum a letra. Eu peguei meu celular que ainda estava com sinal e enviei algumas mensagens.
" Ooi, estamos a caminho da Espraiada, apenas algumas horas até o destino final. Espero que levem as regras com seriedade, elas vão ajudar muito."
Enviei para os meus pais, minha amiga que estava em casa e meus amigos que tinha conhecido á pouco tempo. Eu poderia nunca mais vê-los, ou ter uma vida normal. Eu poderia nunca mais brigar pelo controle remoto com meu irmão, e ficar triste quando ele se machucava de verdade. Eu poderia nunca mais falar com o meu ex-namorado, eu nunca mais veria o cara que eu gostava, eu nunca mais seria a mesma.

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