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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Narração Anne Tsubaki.

Eu estava observando Milly dormir enquanto ela soluçava, era a segunda vez que ela perdia alguém. Foi em circunstâncias totalmente diferentes, eu sei, mas ela havia perdido alguém que a amava, e muito. Assim que os soluços pararam eu resolvi dar uma volta, antes dessa loucura começar eu tinha insônia, agora eu simplesmente não durmo.
4 dias antes, supermercado no Guarujá.
-A gente tem que dar um jeito de entrar!
-Eles estão vindo...
-Milly! Eles não vão chegar! Agora entra!
Gabe havia atirado uma cadeira na porta de vidro, o barulho atraiu mais daquelas coisas.
-Entrem!
-Gabe...
-Entra logo, eu cuido disso aqui.
E entramos, e pela segunda vez naquele dia, Gabe estava nos livrando de ter que matar mais alguns zumbis, se não fosse por ele nunca teríamos saído daquele bar no alto da colina. Estaríamos mortos definitivamente. Alguns tiros e eu o ouço gritar, mesmo com os soluços altos de Milly e as fúteis tentativas que Wood fazia para tentar acalmá-la, mesmo com os gemidos incessantes daqueles monstros lá fora. Eu me levantei e corri até a entrada. Os zumbis saíram correndo por algum outro motivo, corriam para o Leste em direção ao outro mercado. Gabe estava caído no meio do vidro quebrado, á sua volta, havia sangue.
-O que aconteceu?
-Me ajude a levantar sim?
Eu o levantei, a camiseta estava toda rasgada, havia sangue e vidro pra todo lado.
-O que você fez dessa vez menino!
-Eu escorreguei. Só isso. Vem, me ajuda a entrar.
Depois de fazer os primeiros socorros eu o coloquei na sala da segurança, ele ficaria bem.
-Você é boa nisso sabia?
Ele estava observando a barriga enfaixada dele.
-Não sou nada, e você devia parar de se esforçar tanto.
-Ei, calma, se não for eu, quem vai te proteger?
Ele riu e depois parou num gemido de dor.
-Quem mandou? Você sabe bem que eu não gosto quando as pessoas fazem esse tipo de coisa.
Um longo tempo de silêncio.
-Obrigada mesmo assim.
Ele me encarou.
-Você está me agradecendo pelo quê exatamente?
Eu o soquei de brincadeira.
-Para menino! Mas sério, obrigada. Se você não tivesse atendido aquela ligação eu... Nós estaríamos...
-Shh! Não precisa falar nada, eu sei que você ia me ligar mais cedo ou mais tarde.
Ele sorriu.
-Aí como você é besta!
Eu ouvi vozes, várias delas, ou tínhamos companhia ou eu estava louca.
-Espere aqui sim, eu vou ver o que há lá fora.
Por precaução peguei uma chave inglesa que encontrei numa caixa de ferramentas.
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Ele era mesmo um bobo, andando pelos corredores eu pensei ter visto uma sombra, ignorei e comecei a ir pelo lado oposto, quem sabe Gabe estivesse acordado, eu poderia ver se ele já estava melhor. Uma porta sendo fechada, olha, alguém que também não consegue dormir. Eu continuei andando até ouvir os gritos da Bia, ela também não estava legal, aquele corte no braço poderia ser um problema, eu também tinha que agradecê-la. Eu estava a exatos vinte passos da porta do quarto da Bia, uma distância curta e longa ao mesmo tempo. Assim que dei o primeiro passo que reduziria essa distância a dezenove passos alguém abriu a porta dela, primeiro eu pensei que fosse ela, mas um cara alto saiu arrastando a Bia escada abaixo, eu fiquei eu choque. Depois saí correndo para tentar impedir aquele cara, tarde demais, eu observei enquanto a van branca desaparecia na imensidão de árvores daquele lugar. Eu voltei correndo e gritando e a primeira pessoa que pude pensar em chamar foi aquele menino estranho que sempre estava com ela, Lucas abriu a porta na terceira batida.
-O que aconteceu?
-A Bia... Ela...Um cara... A van...
-A Bia? O que aconteceu com ela?
Ele saiu do quarto correndo em direção ao quarto dela, abriu a porta depressa e encontrou a cama desarrumada, a mala dela no chão e a luz do banheiro acesa. Com meu fôlego recuperado eu lhe contei o que aconteceu.
-Temos que acordar os outros, eu não vou deixar ela desaparecer assim.
Depois de sair batendo nas portas, todos estavam reunidos no saguão. O Lucas, que depois da notícia parecia muito mais agitado, começou a falar.
-A Bia sumiu, Anne disse que um cara levou ela, numa van branca que sumiu na estrada.
Eles começaram a se desesperar, eu intervim.
-EI! Desespero não vai trazer ela de volta, a gente precisa se organizar.
Uma das amigas da Bia, uma loirinha, falou.
-Será que foi o cara da estrada?
-Eu duvido muito, ele estava algemado, á um poste, além do mais ele não estaria seguindo a gente.
-Poderia ter sido um dos soldados de Caroline então?
-Eu duvido muito.
Um menino mais alto, Phe, parecia ter algo á contar.
-A Bia havia me dito que eles não eram humanos, eram um tipo diferente de zumbis, domesticados e que obedeciam ordens. Com a morte de Caroline é provável que todos os soldados dela tenham morrido também.
Eles ficaram em silêncio por um minuto, Lucas fica mais impaciente á cada nanosegundo.
-Não interessa quem fez isso, a gente tem que achar ela, depois a gente cuida desse cara.
Gabe se colocou a frente.
-Procurar agora, no escuro, não vai trazer muito efeito além de acabar com a nossa gasolina e nos fazer ficar cansados. Vamos pensar um pouco, esse cara está seguindo a gente então, sabe dos nossos planos e resolveu intervir, a pergunta é, por que ele levou a Bia.
Eles ficaram calados, sem pensar eu sussurrei.
-Porque ela é quem está fazendo esse grupo sobreviver.
Eles concordaram.
-Se não fosse o plano maluco dela a gente estaria lá na Capital num tremendo caos.
-Se não fosse o jeito dela de pensar rápido estaríamos perdidos na invasão da loja de carros.
-Sem ela nunca teríamos achado essa pousada.
-Então sabemos que o cara estava seguindo a gente, ele conhece vocês pelo menos, e sabe pra onde vocês estavam indo e ele queria afastar vocês disso. A gente tem que saber porquê.
-Então a gente procura quando amanhecer.
Eu estava preocupada, mais ainda por ter visto ela desaparecer. Mas eu tinha certeza, a gente não ia mais dormir essa noite.
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-É a terceira vez que a gente passa por essa árvore.
Começamos a colocar as coisas no carro antes mesmo do sol nascer. Eu fiquei rondando os corredores pelo resto da noite, passei por duas portas onde as pessoas dentro delas estavam chorando baixinho. Não posso dizer como elas se sentem, nunca vi isso acontecer na vida real, mas todo mundo acordou preocupado. Reconheci as meninas que haviam chorado na noite anterior, o rosto delas estavam vermelho e inchado, elas estavam carregando as coisas da Bia, eu jurava que ela não tinha tanta coisa assim. Elas colocaram tudo na caminhonete.
-Vamos precisar de gasolina se a gente tiver que procurar por um dia inteiro.
-Deve ter um posto uns dois quilômetros pra frente.
-Espero que você esteja certo porquê é tudo que a gente tem.
Entramos nos carros, achamos o posto e começamos a procurar, desde a casa de Caroline, indo e vindo pra ver se achávamos alguma coisa.
-Eu tô falando, a gente já passou por aqui três vezes!
-Cala a boca Milly.
-Eu só to avisando, se tivesse alguma coisa pra ver, a gente já teria visto.
Passamos por mais algumas árvores, e eu vi uma mancha preta no asfalto.
-Para o carro.
Eu desci do Jipe e andei até a marca de pneus que fazia uma curva fechada pra esquerda.
-Isso não estava aqui ontem.
-Não mesmo, mas não faz sentido. Seja qual for a direção do carro, essa curva não levaria a lugar nenhum.
-Se for o carro que a Bia tava, ela fez isso.
-Como assim?
-Eu sei que ela não ficaria quieta por muito tempo, o cara que tava dirigindo talvez não tenha a amarrado ou coisa assim, ela pode ter tentado fugir.
-Faz sentido, mas por que aqui?
-Eu não sei.
Todos desceram dos carros pra olhar a marca.
-Isso daí é com certeza de uma van.
Eu olhei para Gabe, como ele poderia saber disso?
-O pneu tem pelo menos quase trinta centímetros de largura, com essa distância e a direção das marcas, eu diria que eles estava vindo da pousada, perdeu o controle de carro por alguns segundos e voltou para a estrada.
-A gente acha que quem fez essa marca foi a Bia, ela não é de ficar muito parada.
-Faz sentido.
-E como você sabe disso?
-O meu primo ia fazer criminalística, calma.
-Tudo bem, então, seguindo esse padrão ele poderia ter ido para onde?
-Isso depende dele. Eu não sei se o tanque estava cheio, se o destino dele estava perto, se ele só queria matar ela.
-Isso aqui parece mesmo cena de assassinato.
-Tirando o fato de que ela não morreu.
-Você não sabe.
-Ela não morreu.
-Vocês não podem saber disso tá legal!
Estávamos discutindo por algo tão banal como isso, precisávamos da Bia aqui. Urgente.
-Tá legal, vocês aí, eu ouvi que vocês são chegadas num filme de terror e tudo o mais.
As amigas dela concordaram com a cabeça.
-Então tratem isso daqui como um filme de terror, pra onde o assassino levaria sua vítima?
Elas pensaram por uma minuto, uma delas, Talita, disse.
-Ela era a melhor nisso, mas se eu fosse o assassino eu teria uma casa ou cabana aqui por perto, um lugar onde não se pudesse ouvir os gritos.
-DEUS!
Eu olhei para a menina mais velha que estava no nosso grupo, Lala.
-Passamos por aquela cabana lá onde acampamos. Ela pode estar lá.
Então estávamos animados de novo. Com a possibilidade de achar a Bia e resolver essa maluquice de uma vez por todas.
Andamos animados nos carros carregando as armas e parecendo matadores profissionais. O único que não falou nada foi o Lucas, ele estava apreensivo e muito cuidadoso com as palavras que usava, estava pensando muito.
" A pessoa silenciosa possuí uma mente barulhenta." Fazia sentido agora. Chegamos no lugar onde acampamos e nos perguntamos por onde chegaríamos naquela cabana. Depois de procurar por um tempo achamos uma estrada de terra que nos deixava bem na porta da cabana velha e caída. O cercado com zumbis ainda estava lá e o lugar tinha o cheiro deles. Paramos um pouco longe da porta, não arriscaríamos perder mais um carro se houvesse alguém aí. Os meninos foram na frente, ninguém ficou pra trás, todos queriam salvar a Bia do sequestrador. Eu me perguntei se seria assim se fosse com outra pessoa, a resposta, claro que seria a Bia motivaria todos a continuar procurando. Assim que eles arrombaram a porta,  eles entraram sem fazer barulho, entramos pouco depois de demos de cara com um laboratório secreto do mal.
A cabana era só uma distração, dentro dela haviam várias telas de computador todas em descanso co as letras NA num fundo com duas armas, uma em cima da outra. Phe foi logo para um computador ver o que era aquilo, ele digitou algumas coisas e em pouco tempo vários arquivos foram surgindo: "O Melhor Jogo De Todos os Tempos!" "Livro de Regras Oficiais Do New Apocalypse." "Lista de Membros."
-Quem quer que seja o dono disso aqui, não achou que teria o computador fuçado por um bando de adolescente, olha o nome desses arquivos!
-O que é New Apocalypse?
-E essa lista de membros aí?
Na última tela surgiu a foto de um panfleto. Era uma imagem tão irreal que eu achei que era brincadeira.
" Um jogo tão realista que vai fazer você morrer de vontade de jogar! New Apocalyse reúne os melhores gamers de toda a São Paulo para fazer você estourar a cabeça de alguns zumbis... Louco para conhecer? Envie seu E-mail para newapocalypse@real2012.com e participe deste apocalipse!"
-Isso é brincadeira né?
-Não.
Eles olharam pra mim.
-Que dizer que esse apocalipse foi armado pra que um bando de adolescentes sem namorada pudessem jogar o melhor jogo de suas vidas?
-Sim, o criador disse que trazia uma experiência totalmente nova com um realismo inacreditável.
-Como você sabe disse Anne?
-Eu me inscrevi para jogar, mas meu perfil foi recusado. Acontece que eu fiquei muito puta da vida com essa empresa e resolvi ver direito o que era isso. Acontece que o criador não existe, ele é simplesmente um fantasma. Não achei nada sobre ele mas o jogo é doentio. É real e o único preço é a sua vida. Envolve muito dinheiro e o próprio cara que criou esses zumbis. Eles estão tramando mais alguma coisa mas quando eu tentei localizar o arquivo o firewall deles me detectaram, eu fui expulsa na hora e eles estouraram meu computador.
-Então eles estão planejando algo.
-E a Bia não está aqui.
-E é muito provável que ela esteja no meio disso tudo.
-A gente vai ter que dar um jeito nisso.
Nas horas seguintes ficamos lendo as regras, a lista de integrantes e um arquivo muito interessante sobre os apostadores. Sabíamos de tudo sobre essa maluquice, o cara era mesmo muito burro de ter isso tudo no computador. Deixamos a cabana por volta de quatro da tarde, nem sinal do cara que criou isso tudo.
Tínhamos um plano, e ele envolvia salvar a Bia.

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