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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Fim Da Linha Parte II

Fui para o quarto assim que a lua ficou alta no céu. As estrelas ainda eram minhas, faziam desse lugar um paraíso. Deixei as cortinas e a janela a berta para poder dormir olhando o céu. Adormeci bem rápido.
Eu estava andando, estava escuro e tinha alguma coisa errada, eu podia sentir. Um barulho, longe de mim, eu corria agora. Tropecei no alto da escada e caí sobre alguma coisa, uma mala. Eu podia sentir o sangue escorrendo da minha testa. Eu tinha que correr, mas minha perna doía e eu não fazia mais do que saltitar. Um trovão, eu vi a silhueta dele bem perto de mim, a faca ensanguentada sujando todo o chão. Ele iria me matar.
Eu acordei num grito. Não havia nada me perseguindo nem um maluco com uma faca cheia de sangue. Estava tremendo então fechei a janela. Um suspiro, baixo demais para que outra pessoa se não eu pudesse perceber. Eu me virei devagar e olhei ao redor do quarto. Vazio. Nem uma silhueta maligna me observando. Mas porque eu me sentia observada. Fui até o banheiro e acendi a luz, quando olhei no espelho havia algo atrás de mim. Antes que eu pudesse gritar, a pessoa cobriu meu rosto com as mãos e me arrastou para longe, para longe do quarto, longe dos meus amigos. Ele desceu comigo ainda esperneando e tentando me soltar mas já estava passando pela porta quando consegui morder a mão da pessoa e gritar por socorro. Ninguém ouviu, eu acho. Pelos próximos dois minutos ele tentou colocar um pano sobre a minha boca e eu continuava gritando. Ele me arrastou para fora, tentei agarrar alguma coisa mas ele era forte demais. A lua iluminou o rosto do meu agressor. Era um homem, não daria nem 32 anos, tinha uma barba mal feita e estava de calça jeans e moletom. Ele me puxou e continuou me arrastando pela terra e pela grama até meus joelhos sangrarem. Ele me levantou com muita facilidade e me colocou na van branca estacionada na frente do portão.
Eu devo ter dormido, ou batido a cabeça em alguma coisa. Estava com as mãos amarradas, a boca tampada com algo e a cabeça apoiada em uma das paredes da van. Assim que consegui levantar a cabeça encontrei o olhar do homem que havia me sequestrado. Ele me observou por alguns segundos e fez uma curva fechada para a esquerda me jogando do outro lado da van.
Meu pescoço doía, doía demais. Assim como  meus pulsos e minha testa. Fora isso, eu estava apenas amarrada a uma cadeira numa sala escura com uma lâmpada acima de mim. Eu olhei em volta a sala era pequena, havia a cadeira que eu estava amarrada, uma mesa com algumas coisas em cima e uma porta. Eu tentei fazer qualquer coisa pra chegar naquela porta mas havia uma corrente prendendo a cadeira ao chão. Não demorou muito até o sequestrador chegar pela porta com um avental de açougueiro e um sorriso malicioso. O avental estava sujo de sangue e e eu rezei para que ele fosse mesmo um açougueiro. Mas havia alguém lá em cima com um pedido muito especial de 5 quilos de carne de Bia. A semelhança com qualquer filme de terror que eu tenha visto foi tão ridícula, que por um momento eu achei que o cara estava tentando fazer um filme. Daí eu lembrei que esses malucos acabam cometendo um homicídio ou dois e depois se arrependem de tudo e se matam ou morrem por uma de sua vítimas não mortas. Eu rezei outra vez para que ele já tivesse feito essa loucura antes, e eu seria a sortuda vítima que acabaria com a raça desse maluco, minhas mãos formigaram com a ideia.
-Olá.
Eu tente falar alguma coisa mas a fita na minha boca não deixava.
-Olha, você é bem diferente dos outros sabia? Não chora, não se assusta tão fácil... Demorou um pouquinho pra te achar e eu concordo que se você não tivesse gritado eu teria pego você numa boa.
Ele sorriu, esfregou as mãos e andou até mim.
-Quer que eu tire isso de você?
Eu olhei para o lado, se ele estivesse desarmado, levariam minutos para eu fugir dali. Ele estendeu a mão para o meu rosto e retirou a fita adesiva da minha boca. Doeu.
-Bem melhor não acha? Bem, eu tive de fazer isso, você é bem barulhenta sabia?
Eu tossi e depois olhei para cara dele.
-O que você quer comigo?
Ele sorriu.
-Eu? Eu poderia dizer que quero jogar um jogo, mas creio que você já jogue demais minha cara. Então apenas quero lhe fazer uma pergunta.
Eu o encarei, a fala de um dos meus filmes favoritos não me surpreendeu. Ele era maluco.
-Até onde você vai bancar a heroína e fingir salvar os seus amiguinhos do apocalipse zumbi?
Eu fiquei surpresa. Esse cara não era apenas maluco, ele era um sociopata completo! Ele estava nos seguindo desde Deus sabe quando, poderia saber qualquer coisa sobre qualquer um. E seria muito mais difícil de derruba-lo emocionalmente e fisicamente já que sociopatas não têm remorso e se divertem ao verem sua presa tentar escapar. Em outras palavras, eu estava ferrada.
-O que você quer comigo?
-Eu já disse, e você não me respondeu.
-Pra que isso te interessa?
Ele riu.
-Eu quero saber, como alguém consegue escapar do plano mais perfeito já bolado!
Eu fiquei quieta.
-Do quê você está falando,cara?
Ele suspirou e puxou uma cadeira para sentar na minha frente.
-Eu, eu criei esse apocalipse menina, é tão difícil de entender? Veja, todos os jogos, tem imperfeições tão bestas e tão fúteis! Eles só se importam com níveis mais difíceis, armas poderosas Blablablá. Nenhum deles leva em conta que não se pode vencer um apocalipse zumbi! O que nos leva de volta a minha pergunta, quando você vai parar de bancar a heroína e tentar proteger seus amiguinhos do inevitável?
-Você é maluco...
-NÃO!
Ele gritou.
-Não sou maluco! Eu estou realizando o sonho de milhares de pessoas, as pessoas que se dizem boas o bastante para sobreviver á isso. A metade delas está morta, e a outra ainda vai morrer!
Ele começou a rir de um modo tão estranho e tão aterrorizante que eu tive que sussurrar.
- Você matou quase toda a população de São Paulo, só porque os jogos não era bons o bastante para você?
-Aí é que esta!- Ele sorriu- Não foi só São Paulo, há pessoas que pensam como eu, pessoas no mundo todo compraram o vírus de mim! E agora... Agora sim estamos num jogo muito mais realista! Não tem munição que aparece do nada, nem um velho que vende as coisas pra você! Não dá pra combinar armas só juntando duas coisas com fita adesiva, não tem nível de dificuldade, não tem vida que se recarrega, não dá pra pausar a hora que você quiser, nem salvar o jogo pra depois desligar.
-Você é doido! Os jogos são feitos para serem ganhos, isso aí é uma loucura!
-É o que você pensa! Há jogadores muito melhores do que eu por aí. E eles acabam de chegar!
Assim que ele disse isso, a porta se abriu e dela saíram dois meninos altos vestidos com roupas engraçadas e uma menina veio atrás batendo a porta e entrando com um sorriso bobo.
-Nossa competidora é essa daí?
O menino mais alto, que vestia um traje estranho, era como um macacão preto com listras vermelhas,tinha cotoveleiras e joelheiras, o cabelo dele era ruivo e a voz grossa.
A menina riu.
-Essa aí vai morrer bem rápido, olha só! Não tá nem inteira pra começar.
-Silêncio.
O homem falou e se virou para mim.
-Eu disse que poderia querer jogar um jogo. Seu desempenho com Caroline foi extraordinário! Nenhum desses vermes conseguiu fazer o que você fez...
Eles interromperam em queixas.
-Mas eu matei  todos os soldados dela...
-Eu consegui sair de lá inteiro e com um pente de munições com todas as balas.
-Eu fugi de lá quando estava na casa...
-Quietos projetos de heróis! Suas ações foram boas, mas esta aqui...
Ele soltou a corrente da cadeira.
-Essa menina conseguiu matar Caroline!
Eles deram um passo para trás e depois se ajoelharam. O homem se voltou para mim.
-Eu sei que parece confuso, eu explicarei mais tarde. Agora preciso de uma resposta. Você vai continuar fingindo ajudar seus amigos, ou vai querer se tornar uma heroína de verdade, e provar que é boa o bastante para vencer esse apocalipse?
Eu pensei um pouco. O cara era maluco, confere. Tinha seguidores maníacos, confere. Eu estava presa, confere. O único modo de sair dali seria ganhando o jogo dele.
-Eu vou fazer um trato com você.
Ele me olhou.
-Se eu vencer esse seu jogo, você acaba com isso e me deixa voltar para os meus amigos, e enquanto eu estou aqui...
-Continue.
-Você vai me prometer que enquanto eu estiver aqui nada de mal vai acontecer com eles.
Ele balançou a cabeça duas vezes a soltou meus pulsos.
-Então você é a menina que ele falou tanto!
A menina que estava com o macacão rosa veio falar comigo, ela era loira, um pouco mais baixa que eu e tinha esse sorriso bobo mesmo.
-É, eu ainda não saquei o que tá rolando aqui.
O menino de vermelho colocou a mão no meu ombro.
-Vem, a gente te mostra.
Eles me ajudaram a levantar e o menino que estava com o macacão azul era moreno e tinha o olho claro também, ele me ajudou a levantar e depois se afastou, apenas observando.
-Meu nome é Ky.
-Ky?
-Isso, quando você recebe o colar, ele mostrou um colar de militar com as duas fichas, uma com K e a outra com um Y, você pode escolher seu nome, Ky foi o primeiro personagem que eu criei.
-Meu nome é Bloom, muito prazer.
-Meu nome é Blast.
E assim eles me levaram por corredores estreitos me mostrando o lugar.
-Ninguém aqui sabe o nome real do outro, somos jogadores, esses são nossos codinomes, e assim, quando você escolher o seu, você vai ser mandada para a ala da sua cor. Provavelmente você vai ficar na ala rosa com a Bloom, eles raramente misturam meninos com meninas, mas tem uma jogadora, ela não é de falar muito, acho que o codinome dela É Darkness Death, a gente chama ela e DD, é mais fácil. Ela é a única menina na ala azul.
-Espera, todos esses nomes parecem nomes de contas da Psn ou de jogos de computador, é assim que isso funciona?
-Quase isso, é que todos nós somos jogadores, do xbox live, da psn ou de jogos on-line, foi assim que nos conhecemos, ou quase.
Ky sorriu.
-Eu nunca tive uma conta em nenhum desses lugares, o que que eu vou fazer?
Eles pararam um pouco antes de me olharem de cima a baixo.
-Bom, antes que demos risada de você, vamos lamentar sua morte tá?
Eles começaram a rir. Eu segurei o que parecia ser a gola do macacão de Ky e cheguei muito perto de dar um soco nele.
-Calma! Espera aí! Estamos apenas brincando tá? Não precisa apelar para a violência...
Ele começou a se ajeitar enquanto Blast e Bloom continuavam dando risadinhas.
-Ah, então vamos ter que te ensinar tudo o que sabemos, as regras são todas baseadas em jogos on-line.
-Mas antes disso, você tem que ir pra enfermaria, esse ombro aí vai te tirar pelo menos três pontos de vida.
-Pontos de vida? Como assim?
-Depois a gente te explica, vai pra enfermaria e troca de roupa tá?
Eu reparei nas roupas que estava vestindo pela primeira vez. Eu estava de pijama, ou o que eu chamava de pijama. Uma regata colorida e um shorts de tecido fino, eles tinham razão. O ombro estava com uma cicatriz rosada e tinha a gaze quase solta do corte no braço direito. Fora o estado deplorável dos meus joelhos e da minha coxa. Ah sim, eu estava descalça. Eles me deixaram numa porta branca com um  + vermelho. Eu entrei e lá dentro tinha duas macas, uma estava ocupada e a mesa no canto da sala também estava ocupada. A cena seguinte foi tão parecida com um anime que eu ví, que não pude deixar de dar uma risadinha antes de entrar completamente. A enfermeira se levantou e era uma coisa tão clichê! Ela estava com um uniforme todo apertadinho, o cabelo longo e loiro caindo até a cintura, o decote exagerado mostrava bem mais do que devia, ela fez uma pose de gente que esta pensando e me convidou a entrar.
-Ora! Você chegou bem mais cedo do que o esperado. Meu nome é Doutora.
-Serio?
-É.
-Coitada de você.
-Vamos dar uma olhada nesse seu corpinho, eles não vão apostar num jogador tão machucado...
-Apostar?
-Olha só isso! Você vai me dar muito trabalho em!
Ela apontou até a maca desocupada e eu me sentei.
-Vamos dar uma olhada nisso...
Ela virou meu braço quase do avesso, quando foi dar uma olhadinha no corte. Depois de alguns minutos me observando ela se levantou e foi até a mesa no canto da sala pegar alguma coisa. Eu olhei para a outra maca ocupada ao lado da minha. Nela, havia uma menina de cabelos negros cortados curtos e bem retos, ela estava dormindo eu acho.
-Oh! Essa é a DD, se machucou muito na última batalha. Está descansando para hoje a noite, a sua estréia!
-Minha estréia?
-Sim sim!
Ela voltou com um copinho e me mandou beber o líquido rosa que estava dentro.
-Ahn, você não tem uma versão disso aqui em pílulas não?
Ela observou o líquido por um instante.
-Não. Beba isso, é pra sua estréia.
Bom, já que o Doutor Sociopata Maluco da outra sala havia falado tanto assim de mim, ele não me mataria com um veneno cor de rosa. Eu bebi, o gosto era como sorvete de morango e depois de merengue, no final uma bala azedinha descia pela minha garganta.
-Qual o nome disso?
A Doutora levantou os olhos do meu braço e me encarou.
-Isso é  remédio sua bobinha!
Eu nunca cheguei tão perto de estapear alguém que não fez absolutamente nada para mim.
-Sim, eu quero saber o nome do remédio.
-Ah. não tem!
Ela sorriu e foi se sentar em sua mesa. Eu me sentia pesada, quase como se estivesse morrendo de sono. Talvez antes da minha "estréia" dormir um pouquinho não me fizesse tão mal. Eu me deitei e tudo ficou escuro.
-Acorda estreante! Temos que escolher um nome pra você!
A menina. DD, me chacoalhava sem parar, eu queria dormir mais um pouco, ela parou e eu dormi por mais algum tempo até que alguém me jogou água.
-Ta maluca!
-Vamos estreante, temos que escolher seu nome. Eu sou Darkness Death, bem-vinda ao New Apocalypse.
[Continua....]

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