Bem Vindos...

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Em Apuros.

Depois dessa linda frase, Doutor Sociopata nos expulsou da sala.
- E aí, o que a gente faz agora?
-Bom, são três e meia o que você quer fazer?
-Agora? Eu quero muito descansar...
Ky colocou a mão no meu ombro e começou a me guiar por entre os corredores.
-Tá, bom, você vai pro acampamento da sua equipe. A gente se vê no pôr-do-sol pra sua festa de iniciação.
-Festa?
Bloom chegou pelo outro ombro e apoiou seu queixo nele.
-Sim! Pra cada novo membro a gente comemora matando um zumbi. É muito legal.
-Então basicamente tudo aqui se resume a matar zumbis?
Eles me olharam como se eu acabasse de ter dito algo muito idiota. Blast já estava vinte passos a frente quando, sem olhar pra trás, disse:
-Sim, é uma grande arena onde tudo acaba em morte.
Virou para a esquerda e desapareceu nos corredores.
-O que deu nele?
-Liga não, ele tá assim faz um tempo já.
-Então, a gente deixa você lá no seu acampamento e a gente se encontra na cachoeira ao por-do-sol. Nenhum segundo atrasada em!
-Tudo bem!
Eles continuaram me explicando as regras e de como o último desafiante cravou a faca na cabeça do zumbi, e como isso foi super legal. Estávamos perto das árvores que cercavam a praia, eu vi dois portões grandes de ferro com uma bandeira azul num mastro improvisado.
-É aqui, deve ter uma barraca por aí com o seu nome. Boa sorte!
-Tá.. Ei espera!
Ky se virou e me olhou enquanto eu o segurava pelo pulso.
-Me desculpe.
Eu o soltei. Ele sorriu.
-Pegada forte hã?
Ele riu enquanto massageava o pulso dolorido.
-E vocês, pra onde vão?
-Ora,Ghost, temos os nossos próprios acampamentos pra cuidar. Toma cuidado, nem todo mundo é tão legal com os desafiantes.
-Tudo bem, então tchau!
-Não esquece do por-do-sol em!
-Não vou!
E eles correram na direção oposta me deixando sozinha com um portão gigante de ferro.
-Bem, vamos entrar.
Eu empurrei o portão, passei e depois o coloquei de volta, não foi tão difícil.
-Ei!
Eu pulei de susto. Blast me encarava apoiado em uma árvore.
-Ai meu deus menino! Quer me matar?
Eu recuperava o fôlego enquanto vi seu olhar baixar rapidamente, depois ele voltou a me encarar.
-Sabe quanto isso aí pesa?
-Não, me parece bem fajuto se você quer saber.
Ele ficou indignado.
-Fajuto? Fajuto! Essa coisa tem uns quatro quilos! E você abriu como se você feita de papel!
-Ora, me desculpa então. Eu saio se é o que você quer.
Eu puxei o portão de novo que não me parecia ter nem duzentas gramas.
-Para com isso! Entra aqui garota.
-Tá bom.
Eu fechei o portão e vi de relance um olhar zangado. Eu ri baixinho.
- Vem comigo, você vai precisar treinar antes da iniciação.
Eu me senti ofendida.
-Treinar? Tudo o que eu fiz nesses quatro dias foi matar zumbis e tentar salvar não só a minha vida como a dos meus amigos. Eu não vou treinar, eu vou dar o fora daqui.
-E como você pretende fazer isso?
-Eu vou aceitar o desafio daquele cara maluco e dar o fora daqui assim que cumprir ele.
-Você é mesmo muito burra menina!
Eu dei dois passos na sua direção com os punhos erguidos.
-O que você disse?
-Você não é de jogar RPG é?
-Não.
Ele suspirou.
-Muito bem, desafios são a pior parte do jogo, é algo quase impossível que tem uma recompensa mínima. Como esse daqui não é um jogo tão fácil assim, você vai morrer assim que pisar na arena. Porque você acha que eu não tentei isso?
-Espera! Você quer dar o fora daqui?
Eu abaixei os punhos e caminhei na sua direção. Ele baixou a cabeça e depois me olhou.
-Mas do que tudo.
Primeiro eu fiquei indignada. Porque diabos a pessoa entra num jogo super foda e depois quer sair?
-Mas... Porque?
-É uma longa história e eu não tenho realmente tempo pra falar sobre isso.
-Então a gente treina, e você me explica enquanto isso, o que acha?
Ele sorriu rapidamente, se virou e foi caminhando floresta adentro.
-Ei! Me espera!
Eu o alcancei rapidamente, o que era estranho porque eu deveria ter tropeçado em raízes e galhos e tudo o que estivesse ali no chão.
-Pronto, estamos longe. Você já pode me falar porque quer sair. É uma garota?
Eu sorri e me sentei num tronco caído. Coloquei a mão sob o queixo para apoiar minha cabeça enquanto ele se sentava.
-Oquê? Não! Claro que não!
Eu ri.
-Então o que aconteceu?
-Não era para eu estar aqui.
Nossa.
-Sério? Então somos dois!
-Eu... É bem mais complicado do que simplesmente ter que estar em outro lugar, como você. Eu realmente não deveria estar aqui.
Ele deu uma pausa e ficou me olhando.
-Continue.
-Eu.. Bem, eu tinha um irmão. Ele se inscreveu para isso. Não eu.
-E o que aconteceu?
-Bem ele... Ele foi mordido, foi o que aconteceu. Eu tomei o lugar dele e estou aqui desde então.
-Ah.
-Ah.
Ficamos em silêncio por alguns minutos.
-Eu também perdi alguém que foi mordido.
-Sinto muito.
-Eu também. Pelo seu irmão sabe. Ele devia ser um cara super legal.
-Porque você acha isso?
-Porque você não é.
Nós dois rimos.
-Sério? Eu sou um cara bem legal.
-Não. Não é. Tudo o que você fez desde que eu cheguei foi me ignorar, ser grosso e me tratar como se eu fosse mesmo um fantasma.
-Bem, é seu nome certo? Ghost.
Ele pronunciou calmamente como se fosse algo a ser saboreado.
-E Blast? O que significa?
-Era o nick que meu irmão usava nos jogos. Eu só...
-Pegou emprestado?
-Mais ou menos isso.
Ficamos em silêncio outra vez. Eu o observei enquanto ele fitava o céu. Blast era loiro, tinha quase um metro e oitenta, olhos azuis e bochechas muito apertáveis. É. Ele não era feio. Ele se virou e me pegou o encarando.
-E aquele treinamento em! Levanta, vamos começar.
 O "treino" dele era basicamente correr, saltar, fazer algumas flexões e fingir que árvores eram zumbis enquanto as golpeávamos com gravetos. Eu não sei quanto tempo se passou. Mas eu não estava cansada, por outro lado, Blast parecia poder cair em qualquer lugar e dormir. O que estava acontecendo comigo? O portão de quatro quilos, a corrida até Blast, a série de exercícios que deveriam ter me matado... Tinha algo errado.
-Já está na hora.
Blast havia sentado no mesmo tronco e eu estava andando em círculos pelo lugar.
-Então vamos.
Ele se levantou e eu fui ao seu lado. Ele parou de repente e começou a encarar o chão.
-Você...
Eu parei na frente dele e o fiz olhar para mim.
-Sabe que é um saco quando você começa a falar e não termina?
Ele sorriu e começou outra vez.
-Você quer mesmo dar o fora daqui?
-Mais do que tudo.
-Tem um jeito, mas é bem mais difícil.
-Eu já ia aceitar o desafio daquele maluco, isso aí não vai ser nada.
-Então você topa?
-O que eu tenho que fazer.
-Um desafio duplo, eu e você numa corrida mortal.
-Só isso? Parece bem mais fácil do que um desafio sozinha.
-Você não entende, só por você ter uma ajuda eles deixam tudo extremamente mais difícil. É uma corrida onde eles testam tudo, sua capacidade física até a mental.
-Mental? Eles vão me fazer decorar coisas?
-Não. Eles vão te torturar com as pessoas que você conhece, te fazer pensar que elas estão vivas e depois matá-las na sua frente.
-Eles não podem fazer isso. Meus amigos estão seguros e a única pessoa que não está comigo está morta.
-Tem certeza disso, Ghost?
-Tenho.
-Então a gente vê.
Ele começou a andar indo em direção á praia.
-Espera!
Ele se virou.
-Então a gente não deveria treinar, você sabe, se esse desafio é tão difícil como você diz...
-E o que você sugere?
-Naquele tronco, a meia noite. Eu não gosto muito dos outros jogadores pensando que eu acabei de chegar e já quero sair.
-Espera, você só quer ficar sozinha comigo no meio da floresta!
-Não! O quê? Como você pode... Meu Deus como você é idiota!
Ele riu e eu o soquei no braço.
-Nem em um milhão de anos.
-Isso a gente vê. Anda, vamos pra praia.
Andamos de volta, ao longo do caminho mais jogadores de todas as equipes foram aparecendo. Todos me olhavam com repulsa, como se não fosse para eu estar ali. Certo, eles não eram os únicos que achavam isso. Na praia, haviam tochas que iluminavam a cachoeira e um pequeno círculo perto das pedras. Seja o que for que eles planejaram, foi algo grande.
-Aí está ela!
Ky e Bloom me receberam com a espada que eu escolhi, ela estava limpa e brilhante outra vez. eles pediram silêncio enquanto todos se acomodavam num círculo gigante com várias pessoas.
-Hoje damos as boas vindas á mais uma jogadora, que com muito orgulho, fez em seu jogo de estréia, um double kill impressionante!
Eles gritaram e se animaram todos enquanto eu me lembrava da cena que presenciei hoje de manhã.
-E então, estamos preparados para uma apresentação ainda mais impressionante de Ghost!
Bloom levantou o meu braço que não estava com a espada, eles bateram palmas e assobiaram.
-Ghost, sua apresentação foi realmente impressionante, vamos ver o que você consegue fazer com esse zumbi aqui.
Eles abriram um espaço e dois meninos altos traziam uma corrente em cada mão, um zumbi com roupa listrada de presidiário, ele estava com uma bola pesada amarrada ao pé esquerdo. Ele grunia baixinho enquanto era arrastado para o centro do círculo. O pessoal estava todo em silêncio, assim que eles deixaram o zumbi na minha frente, Ky falou.
-E então, soltem ele para que nossa mais nova jogadora possa fazer a parte dela!
Minha mente não parava de repetir. O que você vai fazer? Sua vida não está ameaçada. Como você vai matar ele? O que diabos esses jogadores estão pensando com isso? Ai meu Deus eles estão soltando as correntes... Assim que a primeira corrente caiu, o zumbi pareceu ficar mais agressivo, mais agitado. Afinal ele devia ser como aqueles soldados, não tentara morder ninguém e os olhos sem vida olhavam em minha direção. Eles eram doentes! Quando o outro braço dele estava soltou eu podia ouvir o grunido alto que estava se formando na sua garganta, eu estava ferrada. Assim que eles soltaram a bola de ferro do seu tornozelo ele investiu contra mim. Eu caí e e rolei para o lado com a lâmina afiada em minhas mãos. Os jogadores gritavam e torciam  por um belo show. O zumbi já se levantava do tropeção enquanto eu ainda estava deitada na areia, eu precisava agir, e rápido. Ele se virou e correu de novo na minha direção, eu estava de joelhos, dei um impulso e passei por entre seus braços abertos ficando do outro lado dele. Levantei a espada, ele estava confuso e quando se virou parecia furioso. Ele viria na minha direção e eu cortaria sua cabeça fora. Fim de jogo. Ele já estava perto, a espada reluziu a luz das tochas, alguém chama meu nome. Uma voz suave como um sussurro ecoa em minha mente, eu olhei para o lado e no mesmo segundo o zumbi me derrubou, a espada caiu fora me meu alcance e eu não enxergava nada além da sua boca tentando arrancar um pedaço de mim.
-Cuidado!
Eu tentei rolar outra vez mas ele estava em cima de mim,se eu pudesse me esticar só um pouquinho poderia alcançar a espada. Eu tentava esticar meu braço direito enquanto mantinha a cabeça dele longe, agarrando seu pescoço com a mão esquerda. Eu senti o cabo da espada e pude agarrá-la. A espada fez um barulho estranho quando tocou na pele do zumbi. Ele gritou e saiu de cima de mim, Eu já estava de pé e agarrei a espada com as duas mãos. Eu acho que os jogadores gritavam mais que tudo mas eu só ouvia meu coração martelando em meus ouvidos. Ele corria na minha direção, pela última vez. Assim que ele chegou perto eu estendi a lâmina que fatiou sua cabeça em duas, bem na metade. Ele caiu sem se mexer, a platéia gritou meu nome enquanto Ky e Bloom vinham me parabenizar, eu limpei o sangue do zumbi do meu rosto com um pedaço da minha blusa. A voz suave sussurrava meu nome como uma despedida.

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